Nesta que é a 5ª visita realizada pelos membros da família Tucker no país, descendentes dos escravos angolanos enviados aos Estados Unidos em 1619, seguiram ontem com o programa de descoberta das suas origens africanas, agora nas províncias de Malanje e Cuanza Norte
Refazer parte de um percurso realizado há 404 pelo casal Antoney e Isabella Tucker, dois dos primeiros escravos africanos documentados que chegaram à então colônia britânica da Virgínia, em Point Comfort (actual Fort Monroe), é o desafio a que se propuseram os seus descendentes.
A capital do país é o ponto de partida e de encerramento da expedição por ter diversos pontos turísticos que narram a história do tráfico negreiro.
Depois de terem visitado alguns locais e mantidos encontros com governantes, os 60 afro-americanos que integram a caravana rumaram ontem para as províncias de Malanje e Cuanza Norte, em busca de informações sobre as suas origens angolanas.
A escolha de Malanje, para começar a viagem na região Norte do país, deve-se ao facto de ser o local onde nasceram Antoney e Isabella, o casal tido como pais da primeira criança de ascendência africana a ser baptizada nos EUA, em 1624.
No roteiro desenvolvido pela família, segundo apurou OPAÍS, consta uma passagem pelas Quedas de Kalandula, por se situar numa zona que representa a trajectória de antepassados de muitos cidadãos norte-americanos.
As emblemáticas Pedras Negras de Pungo Andongo, que representa a componente política da época, devido ao facto de ter sido o local onde estava, em 1619, a corte da Rainha Njinga Mbandi, também consta do roteiro por ter um significado especial para a família Tucker.
Em declarações a este jornal, o porta-voz da caravana, Neil David Breslin Jr, afirmou que o casal Antoney e Isabella foram contemporânea desta rainha por terem vivido na mesma época, uma vez que foram traficados no referido ano.
“A visita serve também para celebrar a importância desta região do país.
De igual modo, vamos também celebrar a beleza das Quedas de Kalandula, comtemplando a origem familiar dos cidadãos norte-americanos em Angola”, começou por explicar a OPAÍS.
Massangano: o ponto de partida
A próxima paragem será realizada no Cuanza Norte, na região de Massangano, que foi o lugar onde ocorreu o arranque de tráfico negreiro realizado pelos portugueses.
A par disto, segundo Neil David Breslin Jr., incluíram Massangano por ter sido também o lugar onde esta prática foi efectivada em grande escala.
Razão pela qual os dados em posse dessa família indicam que seja o local mais provável em os seus antepassados foram levados à força até à então desconhecida Virgínia, nos EUA.
Neste local, passaram a trabalhar na fazenda do então comandante em Point Comfort, capitão William Tucker e sua esposa, Mary Tucker.
“E assim é, esta paragem vai ser muito profunda, muito espiritual, muito triste, muito chocante, porque Massangano representa o desvio da trajectória familiar desde Angola até ao novo mundo, a Virgínia”, sublinhou.
Assim que regressarem a Luanda, capital do país, vão ainda visitar a Barra do Cuanza, no mesmo sentido, já que o Corredor do Rio Cuanza era também uma pista do tráfico humano.
“Eles vão visitar o rio para saber onde ele entra no Oceano Atlântico, a fim de entenderem o que passaram os seus antepassados”, detalhou Neil David Breslin Jr.
No entanto, a caravana visitou vários pontos, através de um tour denominado “Luanda através dos seculos”, liderado por Carlos Bumba, baseada na história da cidade, da escravatura e também sobre factos antes da chegada dos portugueses em Luanda, em 1575.
Regresso aos EUA
Além dos membros da família Tucker, fazem parte da referida caravana, que regressa aos EUA na Segunda-feira, governantes, estudantes de um colégio secundário e seus encarregados de educação, todos de origem africana.
“Neste sentido, todos estão a celebrar a presença em Angola: a volta para casa porque lhes permite compreender de onde vêm.
Eles querem ver e conhecer esse lado”, salientou Neil David Breslin Jr.
Neil David Breslin Jr garantiu que estas visitas serão realizadas com alguma frequência no país, uma vez que a família tem o compromisso de seguir em frente, por sentir-se desta terra.
“Eles querem continuar a construir pontes entre os dois lados.
E alimentar o conhecimento, a amizade e também fazer reconexão entre os dois povos”, frisou, acrescentando que “em todas as viagens feitas seguiram neste sentido: de ser dois continentes e um povo”.