Quem andou pelo Instituto Médio de Economia de Luanda (IMEL), na década de 90, altura em que muitos dos jornalistas angolanos se forjaram, lembrar-se-á do professor Bianchi.
Para muitos, a demografia era uma cadeira sem expressão. Afinal, naquela fase, em que o país ainda estava mergulhado numa guerra fratricida entre as autoridades governamentais e o extinto braço armado da UNITA, as FALA, por quê razão se deveria estudar de forma afincada o crescimento ou não da população, olhando para os índices de natalidade e mortalidade?
A existência de guerra, que acabou por dizimar milhares de angolanos de Cabinda ao Cunene, servia de mote para que muitos pudessem procriar a belprazer. Era o sentimento de compensação por parte de muitos, uma vez que se tornava necessário com- pensar os que partiam nos campos de combate e outros que sucumbiam depois de uma passagem quase efémera entre nós.
Há dias, um amigo, depois de algumas pesquisas efectuadas a título particular, ligou preocupado por- que precisava de explicar o que descobrira: a forma vertiginosa como a população angolana vai crescendo nos últimos tempos e a sua incidência nos projectos que o país vai tentando implementar.
Crítico acérrimo do muito que vai sendo feito, ainda assim o amigo não se conteve em dizer que, apesar da boa vontade que possa existir, não há como o Executivo, por exemplo, atingir as metas preconizadas se se mantiver o crescimento em três dígitos que vamos observando.
Todos os anos, por incrível que pareça, surgem mais de um milhão de crianças cujos encarregados buscam melhores condições de saúde, educação e alimentação, sendo que grande parte delas nascem em zonas onde a esperança de vida é diminuta.
Aos poucos, pelo que depreendemos, vai se tornando necessária uma abordagem profunda sobre o crescimento populacional e a forma como muitos dos angolanos vão gerando os seus filhos.
Claro está que por imperativos culturais – e alguns até morais- exista quem não olhe com agrado quem traga à baila uma discussão e formas de controlo da natalidade, tendo em conta até que ainda vivemos conscientes de que os filhos são riquezas e, para muitos, quanto mais tiverem melhor.
A verdade é que não é bem assim. Quanto mais se cresce de forma desordenada, mais dificuldades existirá para se alimentar, educar e fornecer suprimentos para que estas crianças e, posteriormente, adultos consigam viver condignamente. Aos poucos, vai chegando o momento em que até mesmo nas zonas mais longínquas se deve convencer as pessoas de que não basta trazer os filhos ao mundo, mas também criar condições para que eles cresçam condignamente.
Trata-se de um debate que deverá acontecer a qual- quer momento, embora exista quem nesta batalha possa ser apelidado de bruxo ao aconselhar alguns casais para colocarem um travão na reprodução que vimos assistindo.