Dois casos extremamente assustadores monopolizaram a comunicação social nos últimos dias. Primeiro, o caso de alguns jovens que desenterraram uma outra menina de 22 anos, que havia sido sepultada dias antes, num cemitério em Benguela. Acabou violada e depois deixaram o corpo exposto sem roupa. Ainda na mesma província, desta vez no município do Cubal, um outro jovem desenterrou um outro cadáver de uma menor com a intenção de comê-lo por razões aliadas ao misticismo, segundo as informações avançadas ao público.
Não dá sequer para imaginar o que se estará a passar na memória dos familiares dos dois cidadãos cujos túmulos foram profanados. Como se já não bastasse a dor causada, inicialmente, pela morte destes, alguns dos quais, se calhar, depois de dias enfermos, acabaram por ser invadidos por esta situação que vem acrescer ao sofrimento que nem sempre o tempo se encarrega de apagar.
Embora se possa observar em alguns destes profanadores tendências que apontam para supostos problemas mentais, a verdade é que esse tipo de práticas têm estado associado a situações de obscurantismo acreditadas até por gente supostamente de bem. À medida que se agudizam determinados problemas sociais, alguns deles até cíclicos, que podem terminar depois de combinados determinados factores, aumentam igualmente os falsos defensores do tempo que vão prometendo fundos e mundos com base em acções obscuras.
Apesar da evolução que se observa em determina- dos domínios da vida social, económica e política, infelizmente ainda habitamos num continente em que muitos depositam esperanças de que a solução dos seus problemas podem ser resolvidos mediante actos de feitiçaria e outros, como se vai evidenciando ultimamente.
Os dois casos de Benguela, ocorridos nestas duas semanas, são aqueles que se conhecem e ganharam notoriedade por força das denúncias dos órgãos de comunicação social e de outras plataformas. Existirão por este país adentro outras situações, até então desconhecidas, em que tais práticas acabam por ser correntes, augurando os seus autores conseguirem riquezas sem o mínimo esforço para benefício ao longo das suas vidas.
Durante largos anos, pensou-se que a práticas de actos do género fosse apenas perpetrado por aqueles que possuíssem um baixo nível de escolaridade. O tempo vai mostrando que sempre houve muito mais gente por detrás desses xinguilamentos e acções, incluindo indivíduos que se pensava estarem à margem destes cenários tenebrosos.
A busca por uma vida fácil, em que muitos colocaram o dinheiro antes do trabalho – o que só acontece no dicionário – vai ganhando cada vez mais adeptos. Há quem o faça por intermédio da corrupção, outros pela prostituição, tráfico de drogas e outras substâncias nocivas à saúde. E agora, como num passado não muito distante, vão aumentando aqueles que acreditam que jogando umas missangas, búzios, violando ou comendo cadáveres se chega facilmente ao sucesso
. Só punindo convenientemente estes cidadãos, assim como aqueles que impulsionam tais práticas, exigindo até cadáveres e outros bens peçonhentos, é que se pode conseguir alguma paz. É que além dos criminosos de colarinho branco, agora vamos sendo invadidos pelos feiticeiros ou seus aprendizes. Dirão alguns que são coisas de África. Mas não se pode baixar a guarda…