Os sinais podem ser ténues, mas ainda assim inspiradores. Poucos devem ser os que se vão apercebendo de uma pequena revolução que vai acontecendo aos poucos aqui pertinho de casa. Há muito que se vai levantando a importância da agricultura para o desenvolvimento da economia de Angola, mormente agora que se fala, uma vez mais, da sua diversificação, muito por conta do baixo preço do barril de crude. As crises são cíclicas. Elas vêm e vão. É uma situação que temos ação com que nos temos de habituar, embora não gostemos, de igual modo que precisamos estar preparados para a enfrentar nestes momentos.
Desde cedo, diz-se que antes mesmo da independência, a agricultura foi sempre apresenta- da como sendo a base para o desenvolvimento e saída dos momentos menos bons que o país vai vivendo. Afinal, sempre que se fala em crises, um dos sectores mais afectados tem sido o dos bens de primeira necessidade, maioritariamente importados, alimentando com isso os lobbies da importação dos mesmos. Aos poucos, os jovens se vão mostrando favoráveis a um regresso ao campo. Para muitos, a imagem do jovem ideal tem sido aquela do cidadão que vive nas grandes cidades, muitas das vezes desempregado, não se importando sequer com as oportunidades que o interior ou a periferia das zonas em que vivem podem apresentar. Um dos grandes benefícios das crises, embora não se goste deles, é que acabam por transformar.
Não esteve errado – e nunca mesmo- quem um dia escreveu que se trata de uma oportunidade, porque geram ideias que nos podem até alavancar para posições que não alcançaríamos se um dia não ocorressem. Quem diria que um dia Luanda também se vis- se apinhada, por exemplo, de ofertas de cursos sobre como se plantar tubérculos, criar aves ou até mesmo outros produtos mais virados para a exportação, quando se pensa que a sua cintura verde esteja em declínio? Quem diria que por força deste momento que vi- vemos, infelizmente, existisse uma forte procura por parte de jovens, alguns deles recém-licenciados em cursos sem grandes saídas no mercado profissional, para que consigam conhecimentos sobre como se transformarem em empreende- dores no domínio da agricultura? Dirão alguns que água mole em pedra dura bate tanto até que fura, o que não deixa de ser verdade.
O interesse que se vai observando agora por um número significativo de jovens pela agricultura, produção de hortículas, tubérculos, frutas, criação de animais de pequeno porte, com o nas- cimento de escolas e cursos vocacionados a estes, demonstra, claramente, que um novo momento acabou de nascer, em que muitos destes interessados não se sentirão constrangidos se tiveram de assentar arraiais noutros ponto da capital ou até mesmo do país. O essencial é que o Executivo crie as condições. E aproveite este momento, antes que um hipotético boom do petróleo estrague este desejo que se vai manifestando no seio de muitos jovens angolanos.