A Comissão Europeia considerou, ontem, que ainda “há uma possibilidade de mediação” para reverter o golpe militar no Níger e advertiu que “não haverá consequências positivas” com a cimentação do poder tomado à força
“Nesta altura, ainda acreditamos que há uma possibilidade de mediação”, referiu o porta-voz da Comissão, Peter Stano, em conferência de imprensa, em Bruxelas.
O porta-voz para os Negócios Estrangeiros acrescentou que “não haverá consequências positivas se este golpe militar se cimentar”. “Cada vez que acontece um golpe destes surgem ameaças à segurança regional e internacional. Não o reconhecemos”, completou.
Questionado sobre a existência de mais informações sobre o Presidente deposto, Mohamed Bazoum, Peter Stano disse que “não houve mais contactos” com o chefe de Estado, que está detido em casa. Contudo, o alto-representante da União Europeia (UE) para os Negócios Estrangeiros, Josep Borrell, “esteve em contacto com vários interlocutores” e a Comissão está “em contacto com os Estados membros”, já que o assunto “é importante para a UE”.
A CEDEAO realiza nesta Quintafeira uma nova cimeira extraordinária, após o ultimato aos militares golpistas do Níger para se retirarem ter expirado à meia-noite de Domingo, para avaliar a possibilidade de uma acção militar, anunciou, ontem, a organização.
A reunião, que terá lugar em Abuja, a capital nigeriana e sede da organização, foi convocada pelo Presidente da Nigéria, país que detém a presidência da CEDEAO, Bola Tinubu.
Na anterior cimeira extraordinária dos líderes da CEDEAO, realizada em 30 de Julho, o bloco ameaçou a junta militar golpista com uma intervenção militar se não devolvessem o poder ao Presidente deposto, Mohamed Bazoum.
Desde então, o possível recurso à força tem dividido os países africanos e até os membros da CEDEAO. Até à data, os governos da Nigéria, do Benim, da Costa do Marfim e do Senegal confirmaram, claramente, a disponibilidade dos seus exércitos para intervir no Níger.
Do outro lado, o Mali e o Burkina Faso, países próximos de Moscovo e governados também por juntas militares, opõem-se ao uso da força e argumentam que qualquer intervenção no Níger equivaleria a uma declaração de guerra também contra si.
A Guiné-Conacri, a Argélia e o Chade também se opuseram à intervenção.
Por seu lado, a junta no poder no Níger, que advertiu que qualquer acção militar contra o Níger será objecto de “uma resposta imediata e sem aviso prévio” do exército, reforçou o seu dispositivo militar e ordenou o encerramento do espaço aéreo no Domingo.
O golpe de Estado no Níger foi conduzido em 26 de Julho pelo autodenominado Conselho Nacional para a Salvaguarda da Pátria (CLSP), que anunciou a destituição do Presidente, a suspensão das instituições, o encerramento das fronteiras (que foram posteriormente reabertas) e um recolher obrigatório nocturno até nova ordem.
O Níger tornou-se assim o quarto país da África Ocidental a ser liderado por uma junta militar, depois do Mali, da Guiné-Conacri e do Burkina Faso, que também tiveram golpes de Estado entre 2020 e 2022.