O vegetarianismo é um regime alimentar adoptado frequentemente no mundo ocidental. Como efeito positivo da globalização, ser-se vegetariano é cada vez mais frequente em Benguela e, actualmente, face à subida de preços de alguns produtos da cesta básica, uma alimentação à base de vegetais pode ser a solução para se conseguir poupar dinheiro em compras
Apesar de os ramos de restauração ainda não se mostrarem interessados na questão, nem haver estudos a respeito ou associação tutelar, o número de vegetarianos em Benguela tende a crescer nos dias de hoje.
Quer por questão de gostos, crenças religiosas, estilo de vida “saudável” ou razões estéticas, aos poucos, mais gente da sociedade benguelense se inclina para a alimentação baseada em vegetais, sendo uma grande franja os adventistas reformistas.
Alves Katengue, de 24 anos, mudou o regime alimentar para o vegetarianismo em Dezembro de 2010. O que começou como imitação do estilo musical reggae, acabou por se tornar em filosofia nutricional e de vida.
Ao descobrir que o rei reggae Bob Marley, da comunidade rastafari, foi vegetariano, Alves eliminou carne e peixe da pirâmide dos alimentos. Contudo, o primeiro ano foi tentador quanto ao peixe, tendo pensado em desistir. No início, o organismo de Alves reagiu negativamente à mudança abrupta. E só mais tarde veio a compreender que o desequilíbrio nutricional deveu-se ao desconhecimento sobre propriedades alimentícias e importância de cada nutriente. Hoje, a sua luta diária é com a falta de diversidade nos mercados vegetais. O jovem espera ver os supermercados abastecidos com “carne vegetariana, salsichas, chouriço” para não se limitar a comer sempre a mesma coisa, nomeadamente, funge com lombi, arroz com feijão, “como é o caso de muitos vegetarianos.”
Por outro lado, Emília Malonga, com 29 anos, é vegetariana há quase duas décadas e está satisfeita com o que é cultivado no país, pouco ligando aos vegetais ocidentais importados.
“Sou ovolactovegetariana”, esclareceu Emília. E, há 20 anos, quando os seus pais adoptaram o vegetarianismo, tinham grandes limitações e dificuldades em adquirir ingredientes vegetais porque, “havia pouca oferta e conhecia- se poucos pratos vegetarianos.”
Nos dias actuais, as dificuldades são outras. Argumentou que comprar alimentos vegetais nos supermercados de Benguela, pesa ainda muito no bolso do cidadão. “Na praça, os legumes estão a bons preços e fresquinhos”, desabafou. E quando o organismo se farta dos mesmos nutrientes? O que fazer? A nossa interlocutora disse que “a internet ajuda bastante. Há muitos manuais de receitas vegetarianas”.
Fazer do estilo de vida um negócio
As dificuldades que muitos vegetarianos enfrentam para cumprirem com o “estilo alimentar”, foi encarada por Emília Malonga e Alcina Martins, adventistas reformistas, como uma oportunidade de negócio. Ambas fazem banquetes vegetarianos por encomenda.
“Começámos pela necessidade de serviços nesta área. Pois, em Benguela, há vários restaurantes, todavia, nenhum para vegetarianos”, explicaram.
Apesar de ser pequeno o negócio, iniciado há um ano, prevê o seu crescimento nos próximos tempos. A clientela, constituída maioritariamente por adventistas reformistas, está garantida. Como todos são vegetarianos, almejam receber muitas encomendas para casamentos e aniversário.
Segundo apurou OPAÍS, em Benguela, vegetarianismo “à moda ocidental” é quase “impossível” essencialmente por dois motivos: primeiro é a rara diversidade que o mercado alimentar local oferece; segundo, e andam de mãos dadas, o preço.
Analisando, a nutricionista Angelina Sales concluiu que, ser vegetariano em Benguela é barato, basta ter muita paciência e tempo para pesquisar, nos mercados informais, os produtos mais económicos. E, por fim, negociar com as quitandeiras descontos para clientes regulares.
Para sustentar esta posição, a título de exemplo, Angelina Sales, especialista em nutrição, salientou que “temos uma quantidade muito grande dos nossos lombis, rama de batata, folha de abóbora, matila, que podemos encontrar na praça”.
Vegetariano à “moda angolana”
Ao que parece, ser vegetariano em Benguela pode ser fácil e barato o quanto baste, apesar da crise financeira. Bens alimentares hortícolas, regionais, que se encontram com frequência nos mercados informais e formais são: batata rena, fuba, couves, beringela, cebola, cenoura, alface, pepino, tomate, batata- doce, mandioca, quiabo, milho, alho, folhas de abóbora e similares.
Leguminosas não são tão abundantes, mas há mais do que um tipo de feijão à venda. Grão-de-bico encontra-se, ervilhas nem por isso, os grãos de soja aparecem e favas vão surgindo de quando em vez. Já para quem, sem descurar do produto da terra, tenha preferência por uma alimentação vegetariana inspirada no que se come no ocidente, vê-se “à rasca” para satisfazer os seus desejos gustativos por cá.