A autora de um relatório independente acusa a polícia de Londres de sexismo, racismo e homofobia e apela a uma “reforma generalizada” daquela força, marcada por uma série de escândalos recentes
“Encontrámos racismo, misoginia e homofobia institucionais”, lê-se no relatório de 363 páginas, onde também são revelados abusos contra as próprias agentes femininas e de minorias étnicas.
O inquérito foi encomendado após o homicídio de Sarah Everard, uma mulher londrina de 33 anos que foi violada e morta por um agente da polícia, Wayne Couzens, que a prendeu sob falso pretexto em 2021.
O caso chocou a sociedade britânica e evidenciou problemas internos da Polícia Metropolitana de Londres, a maior força policial do país, com mais de 34 mil agentes e funcionários, já ensombrada por uma série de crimes sexuais e escândalos durante anos.
Apelando a uma “mudança fundamental”, a autora do relatório, Louise Casey, alertou para o de clínio na confiança pública da polícia, em particular entre pessoas de minorias étnicas.
No documento aponta-se como os crimes contra mulheres e crianças são mal investigados devido à falta de financiamento e de agentes treinados para lidar com esses casos.
O relatório descreve como as provas em casos de violação, como amostras de urina e sangue, não puderam ser utilizadas porque foram armazenadas em frigoríficos sobrecarregados ou avariados.
Além disso, “apesar da presença de alguns oficiais superiores experientes, são agentes inexperientes e sobrecarregados com trabalho que lidam com a proteção de crianças, violações e delitos sexuais graves”, continua.
“A falta de prioridade e especialização da protecção pública colocou as mulheres e as crianças em maior risco do que o necessário”, avisa-se no relatório.
Os cortes no financiamento, juntamente com a decisão de encerrar esquadras de polícia locais e acabar com o policiamento comunitário, também contribuem para a situação.
O caso Everard foi seguido de vários outros escândalos e relatos de racismo e sexismo na polícia de Londres.
Em Dezembro de 2021, dois agentes foram presos por terem tirado e partilhado fotos dos corpos de duas mulheres negras mortas depois de terem sido enviados para guardar o local do crime.
A “Met” foi também acusada de homofobia por não ter conseguido deter o assassino em série Stephen Port, um homossexual que matou quatro homens durante um período de 15 meses em 2014 e 2015.
Os detectives não relacionaram inicialmente as vítimas, todos homens homossexuais na casa dos 20 anos cujos corpos foram encontrados perto da casa de Port, no leste de Londres.
As mortes só começaram a ser investigadas como potenciais homicídios depois de a família da última vítima ter pressionado a polícia a agir.
A crise de confiança pública foi exacerbada quando David Carrick, um polícia de 48 anos, se confessou culpado em janeiro de 24 violações e múltiplas agressões sexuais contra 12 mulheres entre 2003 e 2020.
Carrick, que foi condenado a prisão perpétua, aterrorizou as vítimas abusando do seu estatuto de polícia.
A “Met” revelou na altura que 1.633 casos de alegadas agressões sexuais ou violência doméstica envolvendo mais de 1.000 agentes e agentes durante a última década seriam revistos, mas Casey disse que “não pode garantir” que não existam mais criminosos como Wayne Couzens e David Carrick nas fileiras da polícia de Londres.
O relatório salienta que as mulheres polícias são “vítimas de sexismo diariamente”.
Sob pressão, a comissária Cressida Dick demitiu-se no início de 2022 e foi substituída por Mark Rowley, que ontem pediu novamente desculpa e defendeu que o relatório “tem de conduzir a uma mudança significativa” e que “se apenas conduzir a críticas e condenação da excepcional maioria dos agentes, então só os criminosos beneficiarão”.
O presidente da Câmara Municipal de Londres, Sadiq Khan, considerou que “as provas são esmagadoras”, e disse esperar que as recomendações sejam todas implementadas rapidamente.