As direcções da Escola e da Comissão de Pais e Encarregados de Educação bem como o administrador do bairro do Kwawa, arredores do Lubango, são acusados de envolvimento no desvio do dinheiro que serviria para o melhoramento das condições de ensino e aprendizagem.
POR: João Katumbela, na Huíla
A Comissão de Pais e Encarregados de Educação do Complexo Escolar nº 16, do bairro do Kwawa, arredores da cidade do Lubango, está ser acusada de ter desviado 1 milhão e 935 mil Kwanzas provenientes das comparticipações do ano lectivo de 2017 Segundo o encarregado de Educação Francisco Rodrigues Jaime, este valor terá sido levantado da conta domiciliada no banco BIC, sob o número 134138307, em nome da Comissão de Pais e Encarregados de Educação da referida escola, a pedido do administrador do bairro, com a conivência do líder da organização. “Houve má gestão do dinheiro das nossas comparticipações de 2017. Foi dado destino incerto a mais de 1 milhão de Kwanzas”, revelou.
Francisco Jaime explicou que a iniciativa de contribuírem financeiramente partiu de um despacho do governador da Huíla, no qual solicitava a ajuda dos pais e encarregados de educação, destinada a colmatar algumas dificuldades que as escolas não cabimentadas no Orçamento Geral do Estado (OGE) enfrentam. A comparticipação está estipulada em 500 Kwanzas para o ensino primário e 1000 para o segundo ciclo. “Custa-nos saber que o sacrifício que fizemos é para os dirigentes gastarem a seu bel-prazer”, lamentou. O encarregado de educação acusa também o administrador do bairro do Kwawa de estar em conluio com o líder da referida Comissão.
“O próprio administrador do bairro, senhor Fernando, foi quem pediu dinheiro alegadamente por empréstimo. Fala-se em 23 mil Kwanzas, numa primeira fase, e 670 mil Kwanzas num segundo momento. Quando o director da escola foi à administração cobrar o dinheiro, mandaram-lhe aguardar pela venda de terrenos para que o reembolso seja feito”, explicou. Por outro lado, Francisco Jaime informou que a situação já é do domínio da Direcção Provincial da Educação, por via do Departamento de Inspecção Escolar, que porém ainda não tomou decisão alguma. A fonte acrescenta que entre os envolvidos no suposto desvio dos valores, arrecadados através das comparticipações dos pais e encarregados do referido Complexo Escolar, esteja também o Colégio Sapiência, propriedade do administrador Municipal do Lubango.
Segundo ele, foram transferidos 1 milhão e 242 mil Kwanzas da conta bancária da Comissão de Pais e Encarregado de Educação para a conta deste colégio que alega ser pertença do administrador municipal do Lubango. “Só falamos das comparticipações. Há ainda os dinheiros cobrados para os passes, em que por cada criança pagamos 600 Kwanzas. Se fizermos contas, veremos que são milhões de Kwanzas que não sabemos onde foram parar”, enfatizou. Acrescentou que “a inspecção de Educação, quando vai para lá, não faz o seu trabalho devidamente. Está apenas a intimidar a Direcção da escola, quando devia levar o caso às autoridades competentes, no caso, o Serviço de Investigação Criminal (SIC)”, lamentou. Contactado por OPAÍS, o coordenador da Comissão de Pais e Encarregados de Educação do Complexo Escolar nº 16, José Augusto Saldanha, confirmou o descaminho destes valores, alegando que os mesmos foram entregues a título de empréstimo alguns encarregados de educação, sem contudo citar nomes. “Confirmo sim a informação, mas não a quantia. O que se passou é que muitos pais e encarregados de Educação vinham fazer empréstimos que ainda não devolveram, mas já estou a reembolsar com os meus próprios valores”, explicou.
Administrador refuta a acusação
O administrador do bairro do Kwawa, por seu turno, nega ter recebido os 23 mil Kwanzas, tal como o atesta o encarregado Francisco Jaime. Francisco Fernando declarou que recebeu apenas a quantia de 20 mil Kwanzas, do Director da referida escola, também a título de empréstimo. “Estou surpreendido com a denúncia feita ao vosso jornal porque quem gere os dinheiros é a direcção da escola junto à Comissão de Pais e Encarregados de Educação. Fica complicado o nome do administrador sair”, comentou. Explicou que viu-se forçado a pedir um empréstimo ao director da referida escola, em Dezembro de 2016, porque na altura teve um óbito na família. “O director emprestou- me 20 mil Kwanzas. Não sei se saiu dos cofres da Comissão de Pais ou do seu bolso. Eu pedi os 20 mil Kwanzas ao director, e não à escola”, sublinhou. Recordou, na ocasião, que fez o pedido por telefone, e o dinheiro foi-lhe entregue em casa.
“É apenas isso que eu testemunho. Agora, os outros problemas da Escola 16, o administrador apenas recebe relatórios”, frisou. Em relação à transferência de 1 milhão e 242 mil Kwanzas, o responsável da referida Comissão disse declarou que tal operação foi efectuada com o propósito de pagar o arrendamento de algumas salas de aulas do Colégio Sapiência. “Este serviu para pagar a renda das 10 salas de aulas ao Colégio Sapiência em que os nossos alunos estudaram o ano passado, por não termos capacidade suficiente para atender à demanda. Transferimos, no total, 1 milhão e 242 mil Kwanzas”, precisou. Já o administrador Municipal do Lubango, Francisco Barros, proprietário do Colégio Sapiência, confirmou que tais valores serviram para pagar o arrendamento das salas utilizadas pelos alunos do referido Complexo. Visando obter mais informações, a nossa equipa de reportagem tentou contactar o porta-voz da Direcção Provincial da Educação da Huila, porém sem sucesso.