O ministro da Defesa da Rússia disse quarta-feira ao homólogo norte-americano que o “reforço” das operações de espionagem pelos EUA foi uma das causas do incidente entre dois aviões de combate russos e um drone norte-americano no Mar Negro
“As causas do incidente são a não observância pelos Estados Unidos da zona de voo restrita anunciada pela Rússia e estabelecida como resultado da condução da operação militar especial [na Ucrânia], bem como o reforço das actividades de inteligência contra os interesses da Rússia”, sublinhou Serguei Shoigu, citado num comunicado do Ministério da Defesa russo.
Shoigu manteve esta quarta-feira uma conversa como o secretário da Defesa norte-americano, Lloyd Austin, onde transmitiu que os “voos de drones norte-americanos estratégicos ao largo da Crimeia são de natureza provocativa” e “criam as condições para uma escalada no Mar Negro”.
“A Rússia não quer tal desenvolvimento dos acontecimentos, mas reagirá proporcionalmente a qualquer provocação”, sublinhou o ministério da Defesa russo, considerando que “as principais potências nucleares devem agir da forma mais responsável possível, em particular mantendo canais de comunicação abertos para discutir qualquer situação de crise”.
Nem comunicado separado, o Ministério da Defesa russo anunciou que o chefe do Estado-Maior, Valery Gerasimov, também falou por telefone na quarta-feira com o seu homólogo norte-americano, Mark Milley, sem fornecer mais detalhes.
O secretário da Defesa dos EUA, Lloyd Austin, já tinha revelado o telefonema com o seu homólogo russo sobre a destruição de um drone norte-americano no Mar Negro.
Este foi o primeiro contacto entre Austin e o ministro da Defesa russo, Serguei Shoigu, desde outubro passado, e quando a invasão da Ucrânia pelo Exército de Moscovo já cumpriu mais de um ano.
“Como já repeti, é importante que as grandes potências sejam modelos de transparência e comunicação, e os Estados Unidos vão continuar a efectuar voos e a operar em todas as regiões que sejam permitidas pela lei internacional”, referiu Austin.
Na terça-feira, as Forças Armadas norte-americanas asseguraram ter derrubado propositadamente o seu drone MQ-9 Reaper, que se despenhou no mar Negro, após um caça russo ter danificado o seu propulsor.
A Rússia negou ter provocado o incidente.
Os EUA indicaram estar a tentar obter as imagens de vigilância recolhidas pelo drone e que revelam a forma como se despenhou.
O contacto entre responsáveis militares russos e norte-americanos tem sido muito limitado desde a invasão russa da Ucrânia.
Austin e Shoigu dialogaram pela primeira vez sobre a guerra em maio de 2022.
Na ocasião, foi o contacto ao mais alto nível entre as duas partes após o início do conflito.
Em outubro, contactaram por duas vezes em três dias, quando surgiram sinais de uma ameaça de escalada militar.
Shoigu acusou a Ucrânia de planear a utilização de uma “bomba suja”, uma alegação rejeitada pelos EUA e aliados ocidentais, que se referiram a um falso pretexto de Moscovo para justificar uma nova escalada, incluindo o potencial uso de uma arma nuclear táctica.
A Organização das Nações Unidas (ONU) apelou ontem ao diálogo e contenção entre a Rússia e os Estados Unidos, após o incidente entre dois aviões de combate russos e um drone norteamericano no Mar Negro.
Questionado sobre o assunto, Stéphane Dujarric, porta-voz do secretário-geral da ONU, disse que António Guterres apela ao diálogo e “que se evite qualquer escalada”.