Apesar de ter carência de técnicos de saúde, de fármacos e de camas, o Hospital Municipal do Porto-Amboim tem sido a “tábua de salvação” para as vítimas de acidentes rodoviários num dos trechos da Estrada Nacional 100. Os gestores do hospital e munícipes clamam pela intervenção do Governo.
POR: Maria Teixeira
enviada ao Porto-Amboim
À entrada do Hospital Municipal do Porto-Amboim, tudo aparenta estar em conformidade, porém, os sinais de degradação nos compartimentos da infraestrutura são rapidamente captados. Com a deterioração de algumas salas, em virtude da infiltração da água da chuva, estão apenas 105 camas disponíveis para internamento, abaixo das 250 camas que constituem a capacidade do hospital. A referida unidade hospitalar, construída em 1932, já beneficiou de duas obras de reabilitação, mas o peso da sua longevidade “insiste em dar o ar da sua graça”, para aflição dos membros do corpo clínico e dos pacientes.
Em época chuvosa, à semelhança do que acontece em outras partes do país, as ocorrências em pediatria tendem a aumentar, deixando o hospital superlotado, obrigando a que os pacientes sejam estendidos no chão, dada a sua elevada taxa de ocupação. Em exclusivo a OPAÍS, Sarmento Nunes de Brito, director de Enfermagem da unidade hospitalar, revelou que a instituição sanitária há muito que não beneficia de obras de restauro, sendo que, com as chuvas, o estado da infra-estrutura tende a piorar. “Nós temos um hospital com paredes intactas, mas o tecto apresenta fissuras que permitem a entrada da água da chuva”, referiu.
“O nosso banco funciona 24/24 e tem recebido entre 140 a 150 pacientes diariamente, com uma média de internamento de 22 a 23 pacientes. Deste número, 70% são crianças”, situou o director de Enfermagem, Nunes de Brito. A malária, seguida pelas anemias, diarreias agudas, bronquites e traumatismos resultantes de acidentes de viação, são as principais causas de internamento hospitalar. No entanto, a instituição, em colaboração com outras organizações, realiza campanhas de sensibilização visando a observância das regras de higiene entre as comunidades, contribuindo assim para a redução da malária.
Face ao presente quadro, os munícipes apelam à intervenção do Governo no sentido de reabilitar o hospital com urgência. Segundo João Manuel, há mais de 40 anos residente naquela cidade, o edifício inteiro devia ser destruído para dar lugar a uma nova infra-estrutura moderna e com vários serviços. “Faz muitos anos que a unidade hospitalar está em mau estado. Sempre pedimos que se façam obras, porque um dia poderá cair e causar danos irreparáveis. Este hospital é frequentado por seres humanos e não oferece segurança nenhuma, tanto para os pacientes como para o corpo clínico”, advertiu o cidadão.
A unidade hospitalar precisa urgentemente de ortopedistas
OPAÍS constatou que a unidade hospitalar carece de médicos para cobrir várias áreas, com realce para ortopedistas, devido aos acidentes de viação que frequentemente ocorrem no troço Luanda-Porto Amboim da Estrada Nacional 100. Esta opinião é partilhada pelo chefe de Contabilidade e Finanças do referido hospital, Bernardo Icaco, que, à falta de recursos humanos acrescentou um outro grande constrangimento que carece de ser ultrapassado. “O município está em franco crescimento, daí que a nossa unidade não está a satisfazer a demanda de pacientes. Neste momento, é necessário uma infraestrutura nova para colmatar o déficit actual.
Estamos há muitos anos sem concurso público, daí que temos pouco pessoal técnico. Muitos foram para a reforma e outros já faleceram, e não há renovação do pessoal”, acrescentou. Explicou ainda que enfrentam inúmeras dificuldades na distribuição de medicamentos pelo facto de a quantidade que recebem ser insuficiente. Por ser pequeno, o hospital teve que ser repartido em dois. Assim sendo, a área que responde pelo centro materno-infantil situa-se no outro lado da cidade, no bairro do Tango, onde funcionam outros serviços. Neste momento, a unidade hospitalar conta com 37 enfermeiros, pelo que Bernardo Icaco defende que ao se efectuarem obras de reabilitação, deve-se aumentar a quantidade de camas para internamento e apetrechá-lo com equipamento diverso.
“Sinistralidade no nosso município não está ligada aos munícipes, mas à EN 100”
Segundo o administrador municipal de Porto-Amboim, José do Espírito Santo, a sinistralidade rodoviária na cidade não depende muito dos munícipes, mas dos automobilistas que utilizam a Estrada Nacional 100. O município depara- se com um défice no domínio do Código da Estrada por parte dos motoqueiros. “Aqui a moto é genericamente uma fonte de rendimento, e de modo nunhum a Administração pode proibir a sua circulação na cidade, na periferia e nas aldeias, porque é delas que vem o sustento de muitas famílias”, considerou. Explicou que, em consequência da estiagem com que o município se debate há 7 anos, regista-se um êxodo das comunidades dos campos para a cidade, sendo a maior parte os “viajantes” jovens que encontram na actividade de mototáxi, vulgo Kupapata, a única fonte de sustento para as suas famílias.
“Há que fazer um esforço muito grande, ao nível local, no sentido de munir esses jovens de conhecimentos do Código da Estrada”, sublinhou. Acrescentou seguidamente que “é real que internamente temos registado acidentes de viação, mas o maior índice de sinistralidade no nosso município não está ligado aos munícipes de Porto-Amboim, mas à Estrada Nacional 100”, alertou. O gestor público realçou que na Estrada nº 100 circulam acima de duas mil viaturas por dia, e que se deparam constantemente com acidentes envolvendo pessoas provenientes do Cunene, Huíla, Benguela, Luanda e demais localidades do país. Embora não tenha avançado dados referentes aos acidentes registados naquele troço, considerou que este é um dos factores que devem impulsionar a construção imediata de um hospital de referência capacitado para satisfazer não só a demanda como também os casos de sinistralidade.
“Quem acidenta neste troço é assistido no nosso hospital, e quando fazem o registo vem Porto- Amboim, o que dá a entender, no exterior, que os acidentes são desta localidade, quando não é verdade”, explicou. Acrescentou: “temos um hospital que foi construído em meados de 1943, destinado a seis mil habitantes, que, apesar de já ter beneficiado de duas obras de reabilitação, a sua actual capacidade ainda não é satisfatória. A parte traseira está cheia de fissuras. Actualmente somos cerca de 125 mil 969 habitantes”, revelou. Acerca dos medicamentos, disse que o hospital não está mal, porém, precisa de reforços. De igual modo, precisam de médicos por especialidades, embora tenham sido reforçados com cinco novos médicos recém-enviados pelo Ministério da Saúde. “Precisamos que haja concurso público para que se reforce a quantidade de enfermeiros, essencial-
Mais 45 salas de aulas e 288 professores são necessários
No que se refere à educação, o administrador municipal revelou que neste momento o município possui 63 escolas e precisa de mais 45 salas de aulas para albergar os alunos que ficaram fora do sistema de ensino. “No ano passado tínhamos aproximadamente 34 mil alunos, só no ensino geral e em diferentes níveis, agora estão matriculados 37 mil, com um aumento de três mil estudantes. O número de salas mantém-se. Assim, podese concluir que ainda precisamos de mais salas e de mais 288 professores para cobrir o município”, apontou Espítito Santo, o administrador municipal.
Apesar de não revelar o volume de alunos que ficaram fora do sistema escolar, garantiu que o município está pronto para o novo ano lectivo, iniciado na semana passada, sendo que já receberam os manuais enviados pelo Ministério da Educação. José do Espírito Santo salientou que em termos de criminalidade o município viveu momentos alarmantes nos meses de Setembro e de Outubro do ano passado, mas, felizmente, a direcção do Comando Provincial da Polícia reforçou o município com mais efectivos. “Tivemos uma quadra festiva com os índices de criminalidade altos na província. Porto-Amboim é um dos municípios do Cuanza- Sul que esteve mais tranquilo”, declarou o administrador.