O pontificado de Francisco, que assinala 10 anos hoje segunda-feira, está fortemente marcado, desde 24 de Fevereiro de 2022, pela guerra a Ucrânia, com o pontífice a desdobrarse em declarações a pedir a paz para o território
Ao longo de mais de um ano, muitas foram as intervenções públicas que fez em defesa do fim de um conflito iniciado com a invasão do território ucraniano por parte da Rússia, que considerou “repugnante” e um “massacre sem sentido”.
Logo no dia seguinte à invasão, Francisco, num gesto inédito, deslocou-se à embaixada russa junto ao Vaticano para expressar a sua preocupação com a invasão da Ucrânia pela Rússia.
Contactos com líderes mundiais, com a questão da guerra na agenda, fizeram também parte dos seus compromissos no último ano, sempre com a preocupação de pedir o fim do conflito.
O Papa chegou mesmo a encarar a possibilidade de se deslocar a Kiev, na sequência do convite de Volodymyr Zelensky, Presidente da Ucrânia, e do autarca da cidade, Vitali Klitschko, logo no primeiro mês do conflito.
Pouco tempo depois anunciou a desistência da deslocação, questionando: “de que serviria o Papa ir a Kiev se a guerra continuar no dia seguinte?”.
“Qualquer guerra é uma capitulação vergonhosa”, “Quem faz a guerra esquece a humanidade, não se preocupa com a vida das pessoas”, “Rios de sangue e lágrimas correm na Ucrânia” ou “Em nome de Deus… parem este massacre”, foram algumas frases por si proferidas, em audiências, no Ângelus ou em homilias.
Um dos momentos significativos do Papa Francisco em relação à guerra na Ucrânia no ano passado ocorreu no dia 25 de março, quando consagrou a Rússia e a Ucrânia ao Imaculado Coração de Maria, em Roma, enquanto em Fátima, como Legado Pontifício, o cardeal Konrad Krajewski fez o mesmo acto na Capelinha das Aparições.
Na ocasião, Francisco considerou que os homens esqueceram “a lição das tragédias do século passado, o sacrifício de milhões de mortos nas guerras mundiais”.
“Descuidamos os compromissos assumidos como Comunidade das Nações e estamos a atraiçoar os sonhos de paz dos povos e as esperanças dos jovens.
Adoecemos de ganância, fechamo-nos em interesses nacionalistas, deixamo-nos ressequir pela indiferença e paralisar pelo egoísmo”, adiantou o Papa.
Contactos com o líder da Igreja Ortodoxa russa, o patriarca Cirilo, que se mostrou ao lado de Putin na defesa da invasão da Ucrânia, gestos simbólicos como o de, numa audiência semanal das quartas-feiras no Vaticano, beijar uma bandeira ucraniana proveniente de Bucha, a disponibilização para poder deslocar-se a Moscovo para falar com Putin, ou os alertas para o facto de esta guerra tão “cruel e sem sentido” como qualquer outra, ter uma dimensão maior e ameaçar o mundo inteiro, foram outros momentos que marcaram o último ano da ação de Francisco.
Por outro lado, alertou que “não é por acaso que a guerra voltou à Europa num momento em que a geração que a viveu no século passado está a desaparecer”, dizendo mesmo aos jovens ser “legítimo rebelar-se” contra a guerra quando são “uns poucos poderosos” que decidem sobre a vida de milhares, adiantando que se jovens e mulheres dominassem o mundo “não haveria tantas guerras”.
Uma III Guerra Mundial “aos bocadinhos”, como considerou a situação mundial numa entrevista em julho de 2022, ou o apelo feito em Outubro para se aprender com a História e não esquecer que o perigo da guerra nuclear já ameaçou o mundo no período em que se iniciou o Concílio Vaticano II há 60 anos, foram também alvo de intervenções do pontífice argentino, que chegou a relacionar o sofrimento actual dos ucranianos com o “genocídio causado por Estaline” nos anos 30, quando o ditador soviético foi acusado de causar fome na Ucrânia, que terá vitimado mais de 3 milhões de pessoas.
Já em Fevereiro deste ano, pediu um cessar-fogo e o início das negociações de paz, defendendo que “aquela que é construída sobre os escombros nunca será uma verdadeira vitória”.
“Há um ano começou a guerra absurda contra a Ucrânia.
Fiquemos perto do povo ucraniano martirizado que continua a sofrer e interroguemo-nos: já terá sido feito tudo para parar a guerra? A paz construída sobre as ruínas nunca será uma verdadeira vitória”, escreveu o Papa na sua conta no Twitter, no dia do primeiro aniversário da invasão.