No teatro das emoções, a fome venceu Não irei directo ao ponto. Ponto. É justamente disto que precisamos, um ponto, um ponto e vírgula, dois pontos, um ponto final talvez, mas um ponto.
Mesmo que queiramos escrever sobre paisagens, comida, ficção, ou qualquer outro assunto, a nossa realidade, a dura realidade, reverte as linhas paisagísticas na descrição desnuda das vivências heroicas da nossa gente.
Gente que poeticamente sofre,para o deleite dos apreciadores de poesias lúgubres.
Os temas são variados, “O estômago insaciável”, “A fome do pobre e o pobre da fome”, “A comunhão materialista que engana os pobres”, “A fábrica de pobres dos ricos pobres”, “Como enganar o estômago?”, “A nossa arma poderosa – a pobreza”, “O estandarte do poder a fome”, “Fome e pobreza a receita para o poder”.
E os temas são vários.
Você escolhe qual deles cantar, introduza as suas linhas. Não precisa rimar.
Afinal, miséria alguma rima com dignidade. O que é dignidade? Depende de quem interpreta a vida por nós e nos dá o seu catálogo.
Porém, o ponto final é sempre o mesmo, a morte. Influenciado pelo filósofo dinamarquês Søren Kierkegaard, cujos livros Temor e Tremor, O Conceito de Angústia e Doença até a Morte exploram as mais tenebrosas sensações do ser humano, o filósofo alemão Martin Heidegger, na sua obra Ser e Tempo, definiu as suas visões sobre o ser em todas as suas manifestações: o ser dos objectos e a natureza da existência humana.
Atesta que “o homem sempre procede do seu passado e existe em um presente que é eternamente transformado em passado à medida que se dirige ao futuro.
O futuro contém a morte.
Diante da morte iminente, o homem encontra ansiedade ou temor”.
A morte e a existência são as maiores certezas que o ser humano tem.
Sabemos todos que vivemos e que havemos de morrer um dia, apesar de nunca estarmos preparados para tal.
A par da cruz, um dos símbolos da morte é a urna, o objecto que nos confere incondicional dignidade quando a morte nos abraça.
Na presença de todos que nos tinham como queridos, os que nos foram queridos ou fingiam sê-lo, os que manifestaram o seu amor e juraram fidelidade… O certo é que ninguém nos substitui na urna, a única que nos cobre a nudez da inglória seja qual for.
Não importa quanto poder tenhamos tido e exercido em vida, quando a morte chega, somos reduzidos a cadáver, seguem-se algumas homenagens e, depois disso, caímos no esquecimento.
Curiosamente, um dos instrumentos para a consagração da Democracia também é conhecido como urna.
Esta em si não representa nenhum temor, pois, acolhendo as vozes escritas expressando a vontade dos cidadãos, simultaneamente, marcam o fim e começo de uma jornada.
As urnas representam, aqui, o fim de uma trajectória e o alvorecer de uma nova jornada, uma jornada que, geralmente, se quer próspera.
Com todas as peripécias que possamos elencar, com promessas de mudança, fomos às urnas para protagonizarmos mais um acto eleitoral, as quintas eleições.
Cientes de que o país precisava avançar, escolhemos.
Escolhemos a paz, prosperidade e desenvolvimento.
Escolhemos a dignidade, saúde e educação melhor.
Escolhemos a garantia das liberdades fundamentais.
Escolhemos a garantia de um estado cada vez mais democrático e funcional.
Escolhemos a realização de todos os angolanos.
O que aconteceu?! No teatro das emoções, a fome venceu.
Por: ESTEVÃO CHILALA CASSOMA