Corrupção, corruptores e corrompidos, devem ser nos últimos tempos, as palavras mais utilizadas em Angola não só nas conversas entre amigos e conhecidos, como também as que mais aparecem publicadas em jornais, ditas em programa de rádio e televisão. Na realidade, essa situação deve-se ao despertar da nossa sociedade para esse mal mas também porque foi tema candente da última campanha eleitoral.
POR: João Seródio de Almeida
O fenómeno também tem sido fortemente debatido nos outros países de língua portuguesa. No entanto, minha opinião, a campanha anti corrupção tem sido desvirtuada em todos esses países em que se dá mais importância ao corruptor e menos ao corrompido, levando com mais frequência à prisão os primeiros e os segundos, encarados como uns desgraçados ou pelo menos menos culpados. Ora, penso que podemos comparar uma sociedade com um corpo vivo igual ao nosso, tal como também já se define a TERRA como um ser vivo, segundo a Hipótese Gaia, defendida por James Lovelock.
Assim, todos os seres vivos estão permanentemente a ser agredidos por inúmeros agentes provocadores de doença (agentes etiológicos), tais como parasitas, bactérias, vírus, fungos, dos quais têm de se defender sob pena de serem vencidos e morrerem. Ora, por analogia, o corruptor é o agente etiológico que está a cumprir com o seu papel biológico, devendo então o alvo da corrupção ter defesas capazes de se defender. Assim, não deve ser o corruptor o alvo primário da acção anticorrupção, mas sim o corrompido.
Se não houver corrompidos não podem haver corruptores. São os corrompidos que devem sofrer as penas máximas como prisão, exoneração, rebaixamento social, cabendo aos corruptores serem apenas punidos financeiramente com multas bem pesadas, correspondentes a muitas vezes o valor com que corromperam alguém.Devemo-nos lembrar que os grandes corruptores são normalmente pessoas com grandes empresas que dão emprego a muitas pessoas. A sua acção de corrupção tem muitas vezes o objectivo de aumentar a sua intervenção na economia de um país por meios ilícitos, mas se não houver corrompidos, não haverá certamente corrupção.
Pelo contrário, sabemos que é muito mais viável, directa ou indirectamente, actuando junto dos possíveis corruptores. Já muitos autores consideraram a corrupção como a pior doença da sociedade. Sob a sua acção, nunca será possível atingir os melhores níveis de um bom desenvolvimento económico e social, pois nunca se fica a saber o que se ganha ou o que se perde em qualquer empreendimento. Nos países com uma estrutura social mais avançada, basta a suspeita de ter sido corrompido para que um dirigente se demita, ou nos casos mais graves se suicide. Está na hora de discutirmos este assunto com toda a propriedade e grande responsabilidade.
A geração que assumiu os destinos da nação desde a independência, não pode permitir que a nova geração fique com a ideia de que éramos uma “cambada de corruptos” ou pior ainda, que continue a proceder da mesma maneira. Pessoalmente tenho a consciência tranquila quanto à minha conduta e quero ser lembrado, como pertencente a uma geração que tudo deu para o engrandecimento da nossa Pátria.