Quando há dias se celebrou os 10 anos desde o passamento físico de João Van-Dúnem, antigo Presidente do Conselho de Administração da Medianova, de que faz parte este jornal, uma das lembranças de que sempre tivemos em mãos foi o famoso caso 15+2, em que, apesar da ligação familiar que se tinha com alguns então detentores do poder, ainda as- sim defendeu com unhas e dentes que se deveria noticiar este facto.
São tempos em que nomes como os dos malogrados Kassule, Kamulingue e outros então intervenientes deste processo, oxigenado de alguma forma por um livre de Gene Sharp, em que se podia ainda acreditar num activismo cívico ou político de que muitos jovens se poderiam guiar na busca por uma sociedade mais justa e equilibrada. Independentemente dos processos judiciais daquela época, assim como o desfecho que muitos tiveram, alguns até trágico, ainda era possível encontrar um fio que pudesse conduzir para a melhoria de determina- das situações menos abonatórias. Acredito que seja por influência de alguns dos activistas daquela fornalha que outros se sentiram incentivados.
Longe dos rasgos que o PADEPA, de Carlos Leitão ‘Pitoras’ , Silva Cardoso ‘Lipy’ ou o Capelo, mas também distante da ousadia que alguns jovens, poucos anos depois da independência do país o fizeram, entre os quais Filomeno Vieira Dias, Bonavena. Já se sabe que para muitos o activismo que se vive nos dias de hoje é uma questão também de sobrevivência financeira. Não é em vão que quase sempre vimos, alguns dos que se querem exibir como figuras proeminentes destes movimentos que proliferam de um lado ao outro, a brigarem por conta de supostos pagamentos para acções ou ainda dinheiros que se diz terem proveniência duvidosa.
Em princípio, por mais que alguns discordem, o activismo persegue sempre fins nobres. É preciso que se encare causas justas, sob pena de quem assim não pensar acabar sem razões plausíveis quando se mostrar contra determinadas personalidades, sejam elas governantes, líderes religiosos, figuras da sociedade civil ou até mesmo na oposição política. As últimas acções de muitos activistas estão longe de representarem lutas justas. Nem se pode sequer crer que alguns deles tenham consciência do que andam a fazer quando se recorre ao insulto, ofensas e outras acções que acabam por minar, profundamente, a no- breza daqueles que com primor e um elevado sentido de justiça buscam na realidade a consolidação dos valores democráticos.
Diria um conhecido que se trata do activismo do pacote, onde nem aqueles que os defendiam cegamente só por desconfiança não conseguem também destrinçar o conteúdo daquilo que muitos dos supostos defensores de causas que se dizem nobre fazem. O activismo, a luta pela promoção de direitos, liberdades e garantias não casa com acções em que se usam ofensas, assassinatos de carácter ou até mesmo conteúdos que dificilmente muitos dos que apregoam conseguirão comprovar se um dia forem levados a tribunal. Urge separar o trigo do joio. Porque dificilmente se leva a sério que apregoe maldades, maledicência ou até mesmo actos de vandalismo em nome do activismo. Aos poucos se vai percebendo que há tambores que fazem mais barulhos do que apresentar ideias ou justi- ficar causas que são na realidades essenciais para serem defendidas.