Distribuídos na decoração na Marginal de Luanda, na montagem das bancadas, nos subsídios aos grupos, na premiação e outros serviços, corresponde aos gastos feitos dos 375 milhões de kwanzas que, segundo o presidente da Associação Provincial do Carnaval de Luanda (APROCAL), Victor Nataniel Narciso, ou simplesmente Tany Narciso, é proveniência dos patrocínios do Governo Provincial, do Ministério da Cultura e Turismo. Também, resultantes das actividades colaterais realizadas pela associação
A edição passada do evento realizada dois anos depois na Nova Marginal deixou expectantes os grupos. Como avalia? É cedo ainda para fazer esse balanço.
Mas, de forma resumida, posso dizer que foi positivo, porque conseguimos pôr em prática os planos que traçamos.
Quer dizer que a associação mais os seus filiados traçaram programas que levaram à realização do Acto Central no dia 21 de Fevereiro.
Também é positivo porque começamos a trabalhar muito cedo, em Junho, no ano passado, em duas vertentes: com Covid-19 ou sem a Covid-19.
A primeira opção seria conforme ocorreu no ano passado, através da live.
A outra foi para voltar à Marginal.
Para o efeito, os grupos prepararam-se. Aliás, foi um desejo deles.
E prepararam-se em todos os sentidos; desde a prevenção das vacinas e todas as suas doses tomadas, uma vez que abarcam pessoas de diferentes idades, alguns já idosos.
Como viu, não houve nenhum problema. Desfilaram no tempo que lhes foi cedido.
Devo dizer que foi bom termos regressado à Marginal, o que foi outro facto positivo.
Foi anunciado que a APROCAL vai assumir de forma autónoma a organização do evento, segundo vice-governador para o Sector Político e Social, Manuel Gonçalves. E se assim acontecer, quais serão os planos que vão implementar para que as coisas possam funcionar segundo às vossas expectativas?
Há um protocolo de intenções assinado pela APROCAL e o Governo da província, que define o que será ainda da sua responsabilidade e o que será da nossa associação.
Vai ser uma transição progressiva, não abrupta.
Também, não estamos em condições ainda de assumir o Carnaval completamente.
Por onde é que vão começar este processo paulatino?
Já temos uma experiência. Praticamente que, sem exagerar, 80 por cento do Carnaval é feito pela associação, em todas as dimensões; financeira, social e apoio aos grupos.
E o Governo Provincial, qual é a sua função?
É o acordo financeiro, vai continuar a ser… Só para lhe dizer uma coisa: nós gastamos neste Carnaval 375 milhões de kwanzas, ao todo.
Foi este valor que nos custou o Carnaval e engloba tudo.
Quando diz tudo, se refere a decoração na Marginal, montagem das bancadas, subsídios… Exactamente!
Qual é a proveniência deste valor?
É dos patrocínios que nós mobilizamos.
Quem mobiliza os patrocinadores somos nós, a associação.
Uma parte maior do financiamento é o Governo quem faz, por um lado; por outro lado, o Ministério da Cultura e Turismo.
Há também outras coisas que nós organizamos, como as feiras, apesar de não dar tanto rendimento, mas também pode dar alguma renda. Temos ainda a praça da alimentação.
Portanto, todas as actividades colaterais que temos que, de certo modo, também são ajudas.
Esses 375 milhões, como é que são repartidos no Carnaval? Será que não daria para aumentar o valor de premiação dos grupos, assim como o dinheiro que serve para apoiá-los?
E nós aumentamos. Por exemplo, na classe A os 3 milhões de kwanzas subiram para 5 milhões ao primeiro classificado. Se eu lhe mostrar as nossas previsões, eram de 9 milhões para o primeiro lugar.
As nossas previsões eram maiores.
É assim, o orçamento é uma previsão.
Nós só podemos definir, concretamente, como vamos distribuir o dinheiro a partir do momento que tenhamos garantidas as verbas. Sem essa garantia tudo são previsões.
O dinheiro para os preparativos foi dado tarde, segundo os grupos, dois dias antes do arranque do evento. A que se deveu de facto esta ocorrência?
O que os grupos disseram não é verdade.
O primeiro subsídio que nós mobilizamos para o Carnaval foi dado em Novembro do ano passado.
A primeira classe, A, recebeu 500 mil kwanzas, a classe B 300 e a classe C, infantil, 200 mil.
Foram fundos que nós conseguimos mobilizar, não são do Estado.
É a APROCAL que mobilizou esses fundos e achou por bem disponibilizar de imediata aos grupos, para que começassem os preparativos.
Se assim não fosse não teriam tempo de, em dois ou três meses, fazerem as coisas conforme disseram.
Tivemos esse cuidado, foi possível, mas deixa-me dizer que este ano foi um ano atípico. Porque depois do ano eleitoral, o Orçamento Geral do Estado (OGE) foi aprovado poucos dias antes do evento.
Então, foi uma ginástica muito grande que o Ministério da Cultura e Turismo fez. Não sei como foi que o ministro, Filipe Zau, fez para desbloquear o dinheiro para o Carnaval, para todo o país. Daí o grande atraso também que se verificou na entrega dos valores aos grupos.
E quando foi que o dinheiro da cultura chegou às mãos dos grupos?
Foi dois dias antes do arranque do evento.
A classe A recebeu um milhão e 500 mil kwanzas, o que perfaz 2 milhões com o valor anterior.
A classe B um milhão e 300 mil, mais os 300 mil kwanzas dados antes. A Infantil 750 mil, somando neste os 200 mil.
O que a APROCAL pretende fazer para que os conjuntos recebam o dinheiro meses antes, para prepararem-se oportunamente para o evento?
Com toda a certeza que vão receber.
Isso posso garantir. Em função do que fizemos esse ano será possível receberem meses antes o valor.
Estamos também a falar do valor cedido pelo Ministério da Cultura e Turismo…
Ministério é Ministério. Nós não vivemos só da mobilização financeira deste. Temos outros mecanismos.
E foram esses mecanismos que encontramos para dar algum dinheiro aos grupos em Novembro.
Já temos as portas abertas, os apoios que recebemos para que isso acontecesse. Felizmente, já temos a garantia que esse apoio surgirá.
Se for a contar com o valor do Ministério, proveniente do OGE do referido ano, a distribuição aos grupos vai sempre atrasar, porque o Carnaval acontece no início do ano, altura que é feita a sua aprovação.
Se o valor do Carnaval for atribuído no OGE do ano anterior, por exemplo, de 2023 para 2024, não funcionaria?
Os executantes do orçamento já experimentaram isso, mas estão com dificuldades. Perante a Lei estão com dificuldades.
Não sei se é possível guardar dinheiro de um ano para executar no outro.
Mesmo os patrocinadores também apresentam essa dificuldade; eles só começam a dar patrocínios a partir de Janeiro, por causa do próprio ano económico.
Mas a APROCAL vai tentar contrapor esse desiderato, para que os grupos não tenham muitas dificuldades?
Mas há ideia e boa vontade. Ouvimos opiniões de que se pretende mudar essa situação. Por exemplo, estava a falar com o ministro de como conseguiu apoiar o Carnaval esse ano e foi necessário muitas autorizações. Não é assim tão fácil.
Acho que não foi a única vez. Creio que há algum tempo que, segundo, eve que haver intervenção do Presidente da República. Fica um pouco complicado. Por isso, vamos ver que ginástica vamos fazer.
Neste caso, no próximo ano poderemos ver o incremento nos valores?
Depende de tudo que o Estado nos der, em primeiro lugar. Em segundo lugar, a disponibilidade dos patrocinadores.
Há muitos patrocinadores que este ano recuaram bastante. O motivo principal é a própria situação em que se encontram: os bancos sofreram uma estruturação e nós estamos a acompanhar as alterações da economia no país.
Nós entendemos e vamos é procurar aliciá-los com outras ofertas, outras propostas, de forma que regressem, porque muitos não regressaram.
Quais são essas propostas? Está a basear-se na Lei do Mecenato?
Ainda não! Nós não funcionamos na base na Lei do Mecenato, infelizmente. São contrapartidas.
Em função dos apoios que eles dão, nós prestamos serviços em termos de visibilidade, imagem da marca de cada patrocinador.
teve que haver intervenção do Presidente da República.
Fica um pouco complicado. Por isso, vamos ver que ginástica vamos fazer. Neste caso, no próximo ano poderemos ver o incremento nos valores?
Depende de tudo que o Estado nos der, em primeiro lugar. Em segundo lugar, a disponibilidade dos patrocinadores. Há muitos patrocinadores que este ano recuaram bastante.
O motivo principal é a própria situação em que se encontram: os bancos sofreram uma estruturação e nós estamos a acompanhar as alterações da economia no país.
Nós entendemos e vamos é procurar aliciá-los com outras ofertas, outras propostas, de forma que regressem, porque muitos não regressaram.
Quais são essas propostas? Está a basear-se na Lei do Mecenato?
Ainda não! Nós não funcionamos na base na Lei do Mecenato, infelizmente. São contrapartidas.
Em função dos apoios que eles dão, nós prestamos serviços em termos de visibilidade, imagem da marca de cada patrocinador.
Diante desta conjuntura, que trabalhos pretendem desenvolver junto do Ministério para que a Lei do Mecenato possa funcionar, e assim os grupos beneficiarem do apoios das empresas?
Nós participamos agora num evento no município do Cazenga, onde se abordou a Lei do Mecenato. Estiveram lá muitos intervenientes interessados directa ou indirectamente na aplicação da Lei, mas ela veio definir as responsabilidades sociais das empresas, de apoiar a cultura duma maneira geral.
A sua implementação ainda será alongo prazo?
Isso depende muito do Governo. Mas nós como sociedade civil vamos ajudar, vamos colaborar no sentido de a Lei ser aplicada no nosso país.
Quando assim forvai dar uma grande contribuição nodesenvolvimento da nossa cultura.
Recentemente, vimos a entrega de 15 milhões de kwanzas ao grupo União Recreativo do Kilamba, vencedor da classe A. Através desse gesto, acha que o Executivo está a ganhar mais sensibilidade em relação ao Carnaval?
O Governo tem essa sensibilidade. Já houve uma altura que chegou a dar USD 5 mil em cada grupo. Essa sensibilidade não falta. Aliás, o que se passou, neste momento, é fruto desta sensibilidade.
“Este ano estão previstas formações de dança e vamos abarcar todos os estilos”
O que tem a dizer sobre os grupos que se mostraram insatisfeito, pelo facto de não merecerem essa atenção?
Não é problema de merecer ou não merecer.
Fiz essa pergunta ao ministro Filipe Zau e disse-me que quem dá, dá. Não se pode reclamar uma oferta.
Há esse gesto do Governo e deve estar muito agradecido o grupo. Os outros também gostariam de ter, mas, quando foram ao concurso não se previa isso. Nós quando aprovamos o orçamento discutimos por grupo, inclusivamente os prémios.
Então, quando eles vão para lá já sabem o quê é que vão encontrar. Acredito que foi uma dádiva, uma oferta que não estava prevista no cômputo da competição.
Para o próximo ano, como é que perspectiva a realização do Carnaval de Luanda?
Nós começaremos já a trabalhar na Segunda-feira. Vamos ouvir as várias opiniões.
Devo dizer que há muita aceitação.
Sentimos muito a aceitação das pessoas individuais e colectivas, em relação ao evento: muito interesse, boas opiniões que nos vão dar força e pensarmos em fazer um Carnaval bastante atractivo e mais participado, com o envolvimento de todos.
Essa é a visão com que ficamos, porque nunca tinha sentido tanto interesse, tanta atenção, tanto envolvimento ao evento como dessa vez.
De facto, fiquei bastante impressionado, no bom sentido, que nos encoraja a prosseguirmos com o nosso projecto, que já vem de muitos anos e com a nossa teimosia temos avançado.
Em 2024, teremos dois conjuntos do município do Cazenga que vão levar à Marginal a dança Kazukuta: o União os Petrolíferos e o União Estrela Kazukuta do Cazenga. Este último fundado o ano passado, desfilou pela primeira vez no evento, na classe B e ascendeu à classe A. Teremos com isso maior diversidade de danças?
Nós estamos a sentir uma boa aproximação das administrações municipais. E quero aproveitar a oportunidade para agradecer todo o apoio que recebemos das várias administrações distritais e municipais. O Cazenga também chamou-me muita atenção, porque do nada saiu tudo. O esforço foi muito bom, o engajamento da própria administração, a estratégia.
Há grupos que esse ano não participaram no evento por falta de condições para a sua preparação. Que trabalho a APROCAL pretende desenvolver junto desses, para que voltem a participar nesta que é a maior manifestação cultural do país?
É a nossa ideia trabalhar já com o tempo. Vamos ter um Carnaval muito mais participativo. Deixame dizer que vão ter muitas surpresas.
Só não implementamos agora porque não deu tempo.
O Carnaval trabalha-se no dia seguinte quando termina uma edição.
Mas são ideias e alguns trabalhos já realizados, que vão permitir que haja um salto qualitativo do Carnaval no próximo ano.
Por exemplo, nós tivemos o Bloco Icolo e Bengo a participar como tal, com 500 pessoas. Mas não havia como engajá-los no desfile competitivo. Faremos isso nesta edição.
No evento, este ano, notamos a pouca participação dos cidadãos na Marginal, comparado com os anos anteriores. Isso se deveu à pouca divulgação ou “perderam” o hábito nestes dois anos sem o evento?
As pessoas distraíram-se. Nós fartámo-nos de avisar, de informar. Inclusivamente, mudamos os spots, pusemos as datas a informar que a classe A apresentava-se na Segunda-feira, 20, e não na Terça conforme acontecia.
Noutras províncias, por exemplo, fizeram na Terça-feira. Mas tudo isso tem o seu propósito: houve o feriado prolongado, houve mais um pouco de festa. Nós pensamos nisso não foi agora, foi em 2020.
Esse pensamento foi de todos; do Governo, da associação, dos grupos, que pudéssemos desfilar naquele dia.
Então, essa mudança também deve ter influenciado nalguma coisa. Outras questões, quando vai o Presidente, e nós queremo-lo lá com muita honra, os limites são maiores. Então, sentimos a dificuldade de as pessoas terem acesso ao local. Por exemplo, aconteceu com a praça da alimentação…
Mas estamos a falar de um evento que é realizado para o povo festejar?
Sabes que essas coisas não dependem só de nós. Também ficamos limitados. Mas houve pessoas que estiveram ali perto.
Houve festas, por exemplo, na entrada da Samba houve uma grande festa de Carnaval na Rua. Mas foi mesmo ali perto.
Por isso, vamos ver agora como podemos juntar o útil e o agradável para trazer mais pessoas ao evento.
Agora, o que eu queria mesmo é sentir todo mundo a dançar o Carnaval. O evento não pode ser um espectáculo folclórico para uns, de ficarem ai só a ver e não participarem, não se envolverem.
O Carnaval é nossa cultura e nós demonstramos nesta última edição que o evento ainda é uma das manifestações culturais não beliscada.
Quer dizer que defende e divulga as suas raízes sem, muitas das vezes, alterações. Então é mesmo nosso, de Luanda, do país e de África.
Falando sobre a divulgação das raízes, notamos que nas várias edições o União Recreativo do Kilamba, até certo ponto, tem inovado as suas indumentárias, um pouco mais para o ocidental. Acha normal haver essa mudança?
Desde que as bases de mantenham, os fundamentos, as raízes do Carnaval, pode-se modernizar.
O Carnaval de hoje não é o mesmo de antes. Não é o de 1979 que tinha mais de 100 grupos. Com isso, nós não somos contra a modernidade, desde que estejam lá as bases.
Mas está satisfeito com a apresentação dos grupos, quando ao quesito dança?
No dia da entrega de prémios aos grupos vi o União Kabokomeu na sua apresentação que, havia já lá uma senhora mais velha e estava a transmitir, a passar o testemunho à nova geração.
E não era da mesma forma como os jovens estavam a dançar. Estive a reparar, nós sabemos as características da Kazukuta e notamos que já há uma pequena alteração da juventude.
Mas o quê é que nós devemos fazer? Há alteração, sim senhor! Mas aquilo que é básico deve constar. E vamos fazer para que conste, de facto, para que as pessoas saibam realmente o que é a Kazukuta e os outros estilos de dança.
E depois parece que, também, alguns grupos estão aborrecidos com os jurados, mas ao desfilar não é para ficar ali a correr.
Nos estamos a ver grupos, principalmente os mais jovens que ficaram aí a correr, mas não é isso. Têm mesmo que dançar.
E, claro que o júri está atento a todas essas situações. Eles conhecem, por isso têm que ter cuidado com as regras.
Para maior conhecimento têm realizado formações com os foliões e o corpo de jurado?
Sim. O nosso programa prevê essa parte da formação. Já fizemos uma em Dezembro do ano passado, sobre a Kazukuta.
Mas vamos continuar.
Este ano está previsto e vamos abarcar todos os estilos. Também, estamos a fazer pesquisas dos grupos que deixaram de aparecer e que estão um pouco esquecidos.
Então, estamos a fazer essa pesquisa. Isso vai culminar com uma homenagem, apresentação.
Por exemplo, nós estávamos para homenagear a Cidrália e acreditamos que vamos fazer nesta edição. Essa faz parte das surpresas que temos para o próximo ano.
Alguns grupos defendem que a avaliação dos desfiles deve ser feita pelo público. Nesta edição, vão tentar atender o pedido dos conjuntos?
Os que são apologistas dessa ideia estão a ver nos Big Brother e outros programas, onde a votação é feita pelo público. Mas, olhando para aquilo que é a nossa realidade; votação do público, como vai ser?
Tragam ideias! Não tem sido assim. Tem sido como até agora é. Vamos ver, se assim poder ser. Sabe-se que o Carnaval tem características próprias.
Uma delas é de não revelarem, eles resistem à revelação atempada ou imediata da canção, da dança, da coregrafia.
Há situações que você só fica a conhecer na pista, porque eles guardam-se concretamente.