Assinala-se, hoje, o dia mundial dessas patologias e a mensagem deixada por um cirurgião é a de que os cidadãos devem cuidar mais e melhor do seu estilo de vida, sobretudo da alimentação saudável do corpo e da mente, porque, no país, já se vão registando alguns casos do género
O médico-cirurgião Luís Francisco Domingos assegurou que, em Angola, existem doenças raras, porque estão descritas, ao ponto de já terem atraído especialistas nacionais e estrangeiros, que as estudam e lidam, tecnicamente, com as poucas ocorrências. “Por isso, deve-se abandonar a ideia de que se trata de doenças de outras realidades diferentes da nossa e que, tendo-as no país, constituem problema dos ricos, como se ouve por aí dizer-se. São patologias que qualquer um de nós pode contrair”, alertou o médico.
O cirurgião, que subentende as mesmas como patologias que aparecem pouco nas comunidades, ao ponto de estimar um caso em cada 500 mil pessoas, conta que o marcou uma dessas doenças raras, denominada síndrome de auto-fermentação, que submete um indivíduo a ter a mesma bactéria utilizada na fabricação da cerveja.
“Essa bactéria vive no intestino do indivíduo, inicialmente, sem produzir nenhum sintoma, mas se essa pessoa consumir qualquer alimento rico em carbo-hidratos, como arroz, massa alimentar ou pão, essa bactéria vai transformar essa substância em álcool e o paciente fica embriagado, com hálito etílico, ao ponto de acusar positivo, se lhe for submetido a soprar num bafómetro”, revelou Luís Domingos.
Segundo o médico, ainda não ouviu falar de casos do género em Angola, mas relatou sobre situações tratadas por si que davam conta de indivíduos “dextrocardia” (coração no lado direito). “Um dia fui operar um cidadão, no hospital Josina Machel, vítima de trauma abdominal fechado, tinha hemorragia interna. Onde eu devia encontrar o baço, encontrei o fígado (no lado direito).
E a outras pessoas que só possuem um rim”, recordou, para mostrar como um transtorno desses pode constar entre as doenças raras. Além de serem doenças que afectam uma pequena percentagem da população, também é referida como uma enfermidade órfã, sendo que a maioria dos casos são genéticos, o que a faz estar presente ao longo de toda a vida do paciente, mesmo que os sintomas não apareçam imediatamente. Como exemplos dessas doenças raras congênitas são apontadas a osteogênese imperfeita, vulgarmente conhecida como “ossos de vidro, neurofibromatoses, síndrome de Rett, síndrome de Goldenhar, angioedema hereditário e epidermólise bolhosa, além de doença granulomatosa crônica e imunodeficiência comum variável.
Não são escusadas da lista a esclerose múltipla, hemofilia, neuromielite óptica, o autismo, a acromegalia, doença de cushing e tireoidite, bem como a doença de addison, hipopituitarismo, anemia de fanconi e demência vascular. Pela complexidade de que as mesmas se revestem, ainda fazem parte do referido leque de patologias a encefalite, fibrose cística, doença de hodiskin, hiaeridrose e os tumores neuroendocrinos. “Como se pode depreender até mesmo pelos nomes, revelam-se como doenças desconhecidas, se comparadas àquelas que são comuns ouvirem-se. Por essa e outras razões, as famílias devem redobrar cuidados, uma vez que as causas dessas doenças também são complexas”, recomendou o especialista.
Feiticismo
invocado como causa Refira-se que, ao verem os seus parentes perderem a vida por doenças que consideram muito estranhas, muitas famílias africanas, depois de entrarem no jogo de acusações, preferem encontrar explicação no feitiço. Aliás, isso foi tido em conta na abordagem do Doutor Luís, quando chamou a atenção para se ver no mal-estar como causa de qualquer morte.
O entrevistado guarda memórias de emparceiramentos que teve com médicos estrangeiros, que lhe revelaram teremse deparado com doenças teoricamente estranhas, as quais preferiram entender como doenças raras. Como cirurgião, Luís Domingos achou oportuno associar as patologias cirúrgicas raras à preocupação que se deve ter contra esses males, pois, das vezes que realizou cirurgias de doenças com algum indicativo de complexidade, tirou lições de que se deve educar os indivíduos a prevenirem-se mais, a fim de evitarem recorrer muito aos hospitais.
Autismo, a mais notória, no país
Do conjunto de doenças detalhadas como raras, em Angola a mais conhecida é o autismo. Ainda assim, essa patologia se adivinha estranha para muitos, até mesmo para aqueles que lidam com um parente autista. O autismo é, sobretudo, notório em crianças e adolescentes, que, na maioria das vezes, estão albergados em centros de acolhimento específicos ou não, como são os casos da Apegada Angola e do Lar Kuzola, onde os rapazes com essa doença também se notabilizam em relação às raparigas.