Para alterar a situação, o Colégio Angolano de Neurocirurgia propôs ao Estado e aos seus parceiros a formação de pelo menos cinco especialistas em cada ano para que até 2050 se possa atingir o número de 200 neurocirurgiões.
POR: Maria Teixeira
O médico neurocirurgião Mayanda Inocente afirmou ontem, em Luanda, que o país conta com apenas 15 médicos neurocirurgiões, sendo oito angolanos e sete expatriados, quando precisa de cerca de 200, no total, para satisfazer as necessidades actuais. Em declarações à imprensa, por ocasião da apresentação do projecto “Campos Cirúrgicos”, o neurocirurgião disse que a situação no país é preocupante e que, por falta de soluções cirúrgicas sistematizadas estão inviabilizadas muitas cirurgias, que podiam ser realizadas de forma isolada, quer numa unidade hospitalar privada, quer pública.
O médico explicou que no domínio da neurocirurgia o projecto ora criado almeja atingir a cifra de 200 médicos neurocirurgiões até 2050 no país, portanto, interpretando o espirito da Federação Mundial de Neurocirurgia. “Nos próximos 30 e tal anos devemos formar mais, por forma a completar o número de 200 neurocirurgiões para Angola. Neste momento, temos sete especialistas a ser formados, sendo que um está no Brasil, quatro em Cuba e dois em Portugal”, contou.
Para si, promover melhores cuidados de saúde às crianças com hidrocefalia e patologias afins não é um mero prazer, é, antes de mais, uma missão, enquanto activista e quadro comprometido com a saúde da população. “As filas continuam nos hospitais e há falta de neurocirurgiões. Este tipo de parceria é muito mais elástico e vem para facilitar as operações na hora de procurar soluções fáceis. Eu, particularmente, torço para que este projecto vá avante porque vai poder ajudar vários doentes”, exortou.
Diariamente, a sua equipa chega a receber cerca de 20 pacientes oriundos de instituições sanitárias públicas, com tumor cerebral, razão por que, em função do período de crise económica que o país atravessa, o médico considera que o estabelecimento de parcerias seria uma mais-valia. “Semanalmente recebemos 10 pacientes com hidrocefalia, entre quatro a cinco com cefaleia bífida e, pelo menos, um ou dois com patologias várias ,como tumor e lesões da coluna”, detalhou. Acrescentou que neste momento “Angola está preocupada com o tumor de hipófise e temos cerca de 13 pacientes com esse tipo de tumor, entre meninas e rapazes sem visão agora. Então, acho que esta parceria poderá ajudar”.
Por dentro da doença
A hipófise, glândula pertencente ao sistema endócrino, está situada na face inferior do cérebro, abrigada na sela túrcica do esfenóide. Também é conhecida como glândula Pituitária e glândula mestra, por controlar a produção dos hormônios. Um tumor na hipófise pode levar a glândula a produzir quantidades maiores ou menores de hormonas. Qualquer uma das duas alternativas pode causar problemas sérios ao organismo. Neste momento, o centro enfrenta diversas dificuldades e gostaria de contar com o apoio do Estado para ultrapassá-las. “Há uma luta titânica entre o Centro e o Ministério da Saúde, no sentido de alocarem alguma percentagem.
São 20 anos de trabalho e penso que chegou a hora de o nosso Executivo ajudar financeiramente o Centro, para que a gente consiga trabalhar de forma efectiva de Segunda a Sexta-feira”, frisou. Por não haver recursos, o centro opera apenas uma vez por semana, isto é, entre oito a 10 pacientes aos Sábados. Baseando-se nos dados da Organização Mundial da Saúde, afirmou que Angola deve ter cerca de 200 médicos. “O que aconteceu de 1975 até 2012 é que só éramos cinco neurocirurgiões, em 40 anos. Significa que nós temos um perfil de formação de um médico em cada 10 anos”, explicou.
“Somos apenas 8 especialistas e a nossa resposta assistencial mostra- se inferior a 10 % para a nossa imensa Angola e não temos salas operativas exclusivas, ainda existe uma sub-utilização de especialistas expatriados”. Disse ainda que se continuarmos com essa formação lenta teremos de precisar cerca de 3 mil anos para termos os 200 médicos especialistas. Para alterar a situação, o Colégio da Neurocirurgia propôs ao Estado e aos seus parceiros a formação de pelo menos cinco neurocirurgiões em cada ano, para que até 2050 haja 200 neurocirurgiões angolanos.