Já não sei se dói quando escuto informações sobre empreiteiros que terão recebido dinheiro do Estado angolano para executarem determinadas obras e não o fazem. Também não sei se choro, apesar da imensa dor e revolta que uma notícia do gênero produz no interior de todos aqueles que se importam verdadeiramente com este país, pese o facto de facilmente percebermos como é que muitos empresários do ramo da construção civil têm acesso às principais empreitadas, muitas delas até pratica- mente desconhecidas.
Uma reportagem da RNA, passada ontem, a partir do Missombo, no Cuando Cubango, indica que a empresa que tinha a missão de construir o canal de irrigação há seis anos que abandonou a obra. Ou seja, recebeu o dinheiro na sua plenitude, mas recusa-se em cumprir o que havia acordado. É estranha a sensação que se dá de que o Estado parece não conseguir forças para fazer com que estas entidades devolvam o dinheiro público. O número de casos do género, divulgadas pela comunicação social, essencialmente, contrasta negativamente com aquelas que nos levariam a acreditar que os prevaricadores têm sido responsabilizados.
Os nomes deveriam ser amplamente publicitados para que nunca mais pudessem concorrer nos concursos públicos, com ou sem compadrio, assim como não beneficiarem sequer dos ajustes directos, que em algumas situações ainda acontecem no país, com algumas críticas à mistura. Na verdade, práticas do gênero eram mais acentuadas no longevo consulado do malogrado Presidente José Eduardo dos Santos, assistindo-se dos governadores e administradores municipais e comunais ameaças de que processariam alguns destes empresários do ramo da construção civil, mas nada disso acontecia. Havia muito Bluff. Como se muitos deles estives- sem em sintonia, o que lhes impedia de agir com mão de ferro sobre os incumpridores.
Desde 2017 que se vive uma nova realidade a nível da direccao do país, com a entrada em cena naquela fase do Presidente João Lourenço, agora num segundo mandato, com um discurso que desde o início esteve assente no combate à corrupção e ao fim de práticas de impunidade que se associava em demasia ao seu antecessor. Com o andar do tempo, há ainda governadores e outros responsável do Estado que parecem quer encontrariar a ideia da construção de uma nova for- ma de ser um de estar na sociedade, onde os vícios do passado tinham que ser verdadeiramente expurgados. Mas vão surgindo, por exemplo, a nível do PIIM construtores que receberam os pagamentos e não honraram com os seus compromissos.