Tomamos conta de mil e seiscentas almas desencontradas e outras que habitam um universo carnal sobre a dúvida de quem realmente são.
Provavelmente haja um número redondo aos milhares pelo que confesso não ter conhecimento na íntegra.
Todos os dias, antes de sair de casa e adentrar uma sala de aulas, é aconselhável fazer uma oração ou conversar com os próprios espíritos pedindo uma orientação comportamental porque as milhares de almas que enfrentamos desde o porteiro do prédio, passando pelos automobilistas das várias vias em que atravessamos, onde muitos deles tiveram noites mal dormidas, um colega que descobriu que afinal o filho não é dele, a responsável da escola que está em fortes ondulações pensativas porque se apercebeu que o gás acabou, não há salário ainda e ao aluno que logo de manhã cedo ficou a saber que seus pais estão a divorciar-se.
Um sismo de problemas alheios que quem acaba lidando com eles em primeira mão, logo pela manhã, é o pacato professor.
Há uns dias pra cá uma aluna olhou pra mim e perguntou se eu estava doente e respondi que não, perguntando logo de seguida o motivo da questão pelo que ela, imediatamente respondeu que a camisa já não me apertava nos bíceps.
Assim a pessoa vai trabalhar e tem de lidar com alunas com espírito de pessoa que faz caixão ou é alfaiate e decidiu tirar medidas num jovem professor pacífico e honesto?
A pessoa se não faz uma oração matinal acaba sempre em derrocadas.
Uma outra aluna no final da aula correu até mim e começou a desabafar todos os problemas que acha que já tem com menos de dezoito anos de idade.
Disse que os pais não falam a língua dela.
Ela precisa de alguém para conversar e desabafar os seus demónios.
Sendo filha mais velha e concomitantemente irmã mais velha as coisas pareciam estar difíceis para ela.
Confesso que alguns pais às vezes falham neste quesito e que a maior responsabilidade recai quase sempre aos professores.
E ainda há aqueles pais que não percebem isso e sobriamente maltratam o educador porque piamente acreditam que o professor é um desempregado assalariado.
Coisas de pais que passaram pela escola mas não estudaram.
Para piorar, certa vez uma senhora embateu-me à viatura causando, obviamente, danos materiais não tão avultados.
Quando saí do carro e a senhora também, observei que era uma mulher elegante e mais velha do que eu.
A primeira coisa que pensei foi: “ São seis horas e trinta minutos da manhã e não posso deixar que uma senhora destas fique aqui exposta a discutir sobre quem tem ou não razão”.
Rapidamente fui até ao pára-brisas e fiz uma foto na apólice do se guro para que de seguida se desse seguimento dos tramites para a resolução do problema.
Presume-se que pelo código de estrada que quem embate atrás perde sempre a razão. Foi este o caso.
Por sorte a senhora tinha o seguro actualizado e assim sendo não arcaria com os gastos. Não sei porque cargas d’águas ela olhou pra mim, conjecturando que eu fosse o culpado e perguntou, dizendo antes demais onde trabalhava.
Eu simplesmente respondi que sou professor pelo que, decepcionada respondeu: “É complicado”. Fiquei sem perceber o que era complicado.
Olhei para a senhora e fui embora. É muita humilhação nessa vida.
Mas para quem quase não foi aceite na família da parceira por ser professor isso é aperitivo. Seguimos firmes e fortes.
Por isso digo que os professores todos herdarão o Reino dos Céus bem ao lado do Criador e do seu Filho Cristo salvador.
Eu disse professores e não “entradores de sala de aulas” como tem adjectivado o meu eterno mestre nas lides pedagógicas, Doutor Isaac Paxe.
Por: EDY LOBO