O Serviço de Investigação Criminal (SIC) e a Polícia Nacional (PN) acusam determinadas famílias de associarem situações interpessoais a casos de raptos de menores em Benguela. Dos vários casos reportados às autoridades todos foram descartados, esclarece o porta-voz do comando provincial de Benguela, Ernesto Tchiwale, que, apesar deste cenário, assegura prontidão da corporação para contrapor eventuais casos que possam surgir
Nos últimos tempos, têm aumentado as informações que apontam para a existência de casos de rapto de crianças em Benguela. Geral- mente, as redes sociais têm sido palco de denúncias de alegadas acções do género, tendo como vítimas crianças com idades compreendidas entre os 5 e 16 anos.
Estes factos obrigaram a que pais e encarregados de educação redobrassem os cuidados com o adulto que se aproxime dos seus filhos, de tal sorte que Domingos Jekele, morador do bairro Cacipaio, nos arredores da centralidade do Luhongo, tenha alertado os educandos que não dessem “confiança a ninguém, porque agora estão a raptar”. Recentemente, no município da Catumbela, um cidadão foi agredido, brutalmente, e quase se lhe tirava a vida, não fosse a pronta intervenção da Polícia Nacional, por este ser, alegadamente, parte integrante de uma rede que, na perspectiva dos agressores, se dedicava ao rapto de crianças.
Quando a PN pediu aos agressores algum dado que sustentasse a acção, estes apenas responderam que, antes de ter sido abordado, ele estaria a vigiar a zona e teria incomodado uma criança para tal fim. Um argumento, desde já, que não convenceu a Polícia Nacional. Porém, o caso que sensibilizou a sociedade benguelense foi o que envolveu o filho do advogado Jorge Madeirense.
O adolescente, de 14 anos, desapareceu de casa durante três dias e, quando reapareceu, contou aos pais que tinha si- do vítima de rapto por parte de um alegado grupo de jovens e que no cativeiro aonde foi levado, além dele, havia mais 80 crianças num contentor. Atendendo a gravida- de da denúncia, o pai informou ao SIC a fim de que fossem tomada as medidas necessárias para regatar os petizes que alegadamente se encontravam em cativeiro.
Para o efeito, alguma equipa de operacionais do SIC perguntou ao rapaz se lembrava o caminho que dava para a suposta zona onde estariam as crianças de que fala, ao que respondeu afirmativamente. Ernesto Tchiwale conta que o adolescente levou os agentes do SIC a um matagal, mas, depois de uma sequência investigativa, chego-se à conclusão de que tudo não passava de simulação/encenação. Com isso, deu-se por encerrado o caso, segundo explica o porta-voz do SIC. O oficial do SIC salienta que, por ter sido noticiado, os órgãos de comunicação social devem repor a verdade.
INAC sem registo de rapto de menores em Benguela
A directora do Instituto Nacional da Criança (INAC) em Benguela, Rosa Sara Francisco, afirma que não há registo que aponte para raptos nesta província. Segundo a responsável provincial, o que tem vindo a acontecer são casos em que um progenitor, desprovido de recursos financeiros, confia a guarda do seu filho a alguém capaz de proporcionar o que ele não seja capaz de dar: estudos (formação), fundamentalmente.
Para sustentar a sua tese, Rosa Francisco esclareceu que, recente- mente, uma senhora participou um caso semelhante. A aludida progenitora teria dado os filhos a um casal de estrangeiros (o homem é cubano e a mulher portuguesa), na província da Huíla, e estes então decidiram mudar de cidade sem dar a conhecer à senhora, vieram viver para Benguela. Esta, apercebendo-se, participou o caso às autoridades, associando- o logo a rapto.
“O quê que nós fizemos? Resolvemos o caso e vimos que não era rapto. A senhora depois veio a Benguela, mas, infelizmente, depois adoeceu e acabou por morrer cá”, frisou. Acrescentou de seguida que “como a senhora, em vida, reclamava tanto dos filhos, retirou-se a guarda ao casal e as crianças foram e caminhadas para o abrigo e para a casa dos Gaiatos, com idades compreendidas entre 16 e 17 anos. Eram seis crianças”.
Redes sociais como canal de divulgação
Embora não tenham avançado números, as autoridades policiais as- seguram haver registos de participação de alguns familiares aflitos com o desaparecimento de um entequerido menor e, na participação, associam imediatamente ao rapto e viralizam nas redes sociais. Mas, depois de acções investigativas de agentes do SIC, os casos têm sido descartados.
O porta-voz da PN, superintendente-chefe Ernesto Tchiwale, salienta que adolescentes há que manipulam determinadas histórias com medo de represálias, depois de se envolverem em alguns ambientes de lazer com amigos. Uma visão partilhada pelo porta-voz do SIC, Francisco Vieira, que aponta o caso do menor, filho do advogado, como sendo a prova disso. O rapaz teria saído com os amigos para jogar à bola e ter-se-ía envolvido em outros ambientes. Como temia que os pais lhe fossem ralhar, entendeu ficar alguns dias fora de casa e, no seu regresso, justificou com uma encenação.
Segundo o responsável, o mesmo se deu em relação ao caso reportado, recentemente, por vários órgãos de comunicação social em Benguela, em que uma cidadã, diante do desaparecimento de sua ente-querida, apressou- se a denunciar publicamente como sendo um alegado caso de rapto. A senhora, moradora do 4 de Abril, explicou que a sua sobrinha, de 14 anos, tinha sido sequestrada e a família, como não podia deixar de ser, andava apreensiva por conta de tal situação, pois temia pela sua vida. Mais tarde veio a se descobrir que ela andaria durante dois dias na casa de uma amiga.
POR: Constantino Eduardo, em Benguela