Depois do incêndio que causou prejuízos avaliados em mais de 40 milhões de kwanzas, as vendedoras do mercado Africampos, vulgo “Praça das Mulheres”, agora debatem-se com a incerteza quanto ao futuro do seu comércio, uma vez que o novo dono deu apenas 120 dias para abandonarem o espaço. A administração municipal, apesar de já ter arranjado um novo lugar, defende que lhes seja dado mais tempo para que to- das as condições estejam criadas
O clima de tensão invade o coração das mulheres que diariamente labutam naquele mercado, especializado na venda de produtos do género feminino. Apesar de estarem a vender, como quem “renasceu das cinzas” depois do incêndio de 2021, preocupam-se com o futuro, pois tomaram conhecimento, recentemente, que abandonarão o local. Há mais de 10 anos que o referido mercado é a única fonte de rendimento de muitas famílias, que hoje estão cépticas, depois de tomarem conhecimento de que o dono do espaço quer de volta aquilo que lhe pertence.
Teresa Leitão, eleita como representante das vendedoras do Mercado das Mulheres, explica que actualmente estão a fazer o cadastramento de todos os que trabalham no mercado, para se saber quantos são, bem como a quantidade de espaços comerciais dentro da praça, divididos em bancadas, boutiques, salão de beleza, restauração, armazenamento de mercadoria, entre outros. O espaço que a administração apresentou às vendedoras, que fica na rua Ngola Kiluange, segundo elas, é melhor em relação ao actual, apesar de precisar entrar em obras, antes de serem transferidas.
Já existe uma empresa encarregue de começar com as obras, que já trabalha há bastante tempo em projectos de feiras e mercados. Segundo Teresa Leitão, o futuro das vendedoras será definido nos próximo 120 dias, nu- ma altura em que as comerciantes esperam ter o espaço preparado para o exercício das vendas. Desde que as vendedoras tomaram conhecimento de que a praça foi vendida, o tempo tem se escasseado, tendo em conta que ainda têm muita mercadoria para ser vendida, que restou da quadra festiva de 2022, e até ao momento não comercializaram nem a metade. “Entendemos que os herdeiros têm o direito de se reaver o espaço, já que é sua propriedade, mas apesar disso, sou de opinião que deveriam nos avisar há mais tempo, de forma a nos prevenirmos. O problema é que este aviso tardio nos fez comprar grandes quantidades de mercadoria”, frisou.
Venda por causa de dívidas
Teresa Leitão disse que os proprietários do espaço informaram que tiveram de vender o local por conta de dívidas avultadas e alguns bens já tinham sido penhorados. Por ora, decorre ao nível do mercado, o processo de cadastramento das vendedoras e se estima que o número ultrapasse os 2000. “Estamos organizadas por sector, que vai de A até Z, e cada um tem mais de 200 vendedoras, sendo a maior a área onde vendem produtos do Brasil que conta com cerca de 500 vendedoras”, disse.
Quanto ao local que a direcção municipal do comércio aponta para se instalar as futuras instalações do Mercado das Mulheres, as comerciantes agradecem a escolha, tendo em conta que vai de acordo com a sua pretensão. “Nós queríamos um espaço que geograficamente estivesse bem situado, que não fosse fora da via principal, pelo que agradecemos o facto de o administrador ter ouvido e atendido o nosso pedido”, sublinhou Teresa Leitão.
De acordo com Teresa Leitão, quem faz com que o local seja concorrido são as próprias vendedoras, num processo que não é imediato, até porque muitas têm experiência do processo do género, já que vêm do antigo mercado do Roque Santeiro. “Já estamos neste mercado há mais de uma década, não deveríamos estar tipo nómadas, pelo facto, pedimos encarecidamente ao administrador municipal que, neste novo mercado para o qual vamos nos mudar, seja da inteira responsabilidade do Estado, de modo a não voltarmos a sair depois de um determina- do tempo”, apelou Teresa Leitão.
Mudança de mercado é urgente para algumas vendedoras
Por seu turno, outra vendedora da praça das Mulheres, Zenaide Vitica, afirmou não ter gostado do modo como tomou conhecimento da venda do mercado, mas se conformou porque acredita que tudo tem princípio e fim. Está triste, porque em menos de dois anos perdeu o negócio no incêndio que registaram há sensivelmente dois anos, sobretudo porque foi fruto de muitos anos de trabalho, mas felizmente a situação foi ultrapassada e, hoje, estão de cabeça erguida.
Zenaide tomou conhecimento da venda do mercado, por via de rumores, que foi se ouvindo no mercado, pelo que considera isso uma falta de respeito por parte da direcção do mercado para com as vendedoras, considerando que também são parte do mercado. Porém, almeja que se termine o mercado naquele local, por causa das constantes faltas de respeito da direcção contra as vendedeiras. “Nos últimos tempos, temos registado muita falta de respeito de diferentes níveis, sobretudo agressões verbais, a par de roubos.
Cortejam as bancadas e revendem no valor que rondam entre os 100, 150, 200 até 500 mil kwanzas”, denunciou. Apesar da mudança do mercado, actualmente Zenaide Vitica está feliz porque não terá de lidar mais com os homens que dirigiam a praça das Mulheres e, acredita que toda deslocação é boa, com a força que cada uma tem. A situação será ultra- passada “aqui também já não se encontra a mão de Deus, já não há venda, pelo facto esperamos pela alegria da segunda casa”, frisou.
Administração assegura a marca “Praça das Mulheres”
O director municipal de promoção de desenvolvimento económico e integrado do município do Cazenga, Aurélio Baptista, explicou que tomaram conhecimento que o mercado foi alienado pelo grupo Africampos, empresa detentora do espaço, vulgarmente chamado por mercado das Mulheres. A direcção da sua instituição está a fazer advocacia dos direitos fundamentais das vendedoras.
Considerando que o nome “Mercado das Mulheres” já se tornou uma marca, ao nível do município do Cazenga, a instituição em causa se encarregou de procurar espaço, com o intuito de que venham a exercer a sua actividade comercial. A direcção municipal do Cazenga apresentou vários espaços à comissão de vendedoras e esta escolheu o melhor para elas. A empresa deu 120 dias para que as senhoras encontrassem um outro espaço para efectuarem as suas vendas, mas a administração está a fazer advocacia no sentido de que, enquanto as comerciantes não estiverem devidamente acomodadas, o tempo poderá ser estendido.
“Depois do encontro que a comissão de vendedoras teve com o administrador municipal, foi dada a garantia de que o espaço que for encontrado, a licença e o objecto social que for dado será, exclusivamente, para o mercado. Ou seja, não deverá mudar o seu objecto social, até porque não se regista a intenção que a marca ‘Mercado das Mulheres’ saia do município do Cazenga”, disse. Segundo Aurélio Baptista, as negociações estão a decorrer entre administração e o actual gestor que efectuou a alineação do espaço. Para o novo mercado, em função das obras que serão feitas, e porque as comerciantes não podem deixar o actual espaço e ficar na rua ou num sítio sem as condições necessárias, pedirá que se estenda o prazo de abandono.