O escritor José Luís Mendonça exercia o cargo de secretário das Relações Externas da Comissão Directiva da União dos Escritores Angolanos (UEA), porém os moldes em que é realizado o “Concurso Quem me Dera Ser Onda”, cujos vencedores são conhecidos hoje, estão na base da sua demissão
OPAÍS apurou que o escritor redigiu uma carta dirigida ao Presidente da Comissão Directiva,Roderick Nehone, com conhecimento do secretário-geral, Carmo Neto, e demais membros desta direcção cultural, alegando que terá ficado decidido na última reunião realizada pela Comissão Directiva, no ano passado, que o referido concurso não tinha razão de ser, porque inverte o ciclo da produção Literária Infantil que tem como receptores as crianças e criadores os escritores consagrados.
“A UEA não pode publicar obras de crianças que não têm a mínima noção do discurso literário, quando nem sequer consegue, há anos, publicar uma obra sequer dos seus membros, nem a Gazeta Lavra e Oficina, para qual eu, com tanto zelo, preparei o conteúdo. Ficou proposto na reunião que o referido concurso se devia transformar num concurso de leitura e não de escrita criativa, pois as crianças devem
ser ensinadas e incentivadas pela UEA, primeira a ler, e só depois de bem dominada a ferramenta da escrita, aí sim, escrever”, lê-se na sua missiva.
Todavia, surpreendeu-se com uma nota divulgada pelo secretário- geral da UEA a convocar para hoje o anúncio público dos premiados do concurso “Quem me Dera ser Onda”, nos moldes anteriores, daí que, por essa razão, decide retirar-se da Comissão Directiva.
“Como várias vezes, há anos, tenho tido pessoalmente, e em encontros de trabalho da Comissão Directiva, o prémio não está a incentivar os hábitos de leitura das crianças e é uma autêntica aberração, ferindo, por isso, os meus princípios morais e intelectuais”, concluiu José Luís Mendonça.