Situados no interior da província de Benguela, os municípios da Ganda e do Cubal vêem-se com uma taxa de incidência da malária bastante superior aos índices habituais, doença causada pelas pobres condições de saneamento, nesta fase agravadas com as chuvas
Por: Zuleide de Carvalho, em Benguela
A malária, sendo a mais frequente causa de morte em Angola, ano após ano, actualmente, pelos números relatados em Benguela, tem comprovado por que razão detém o primeiro lugar no pódio do ranking da mortalidade nacional.
Essa patologia, bem conhecida no país, continua a vitimar milhares de pessoas anualmente e, no ano passado, sabe-se que centenas de cidadãos faleceram na província de Benguela.
Todavia, apesar de várias tentativas feitas por este jornal, não houve resposta da Direcção Provincial da Saúde sobre o número de óbitos registados sob implicação dessa doença em 2017. Assim, um pouco por cada canto da província de Benguela, é visível que as parcas condições de saneamento são o principal facilitador para as elevadas taxas de malária.
Dezenas de crianças morrem de malária na Ganda
No último trimestre do ano findo, portanto de Outubro a Dezembro de 2017, foram internados no Hospital Municipal da Ganda 2384 doentes com malária aguda, 57 dos quais perderam a vida.
O que mais aflige é que, segundo o depoimento do director dessa unidade sanitária, Sebastião Cavaya, “95% desses falecidos são crianças”. Ou seja, em apenas três meses, foi roubado o futuro a 54 petizes. Tratando-se de uma triste realidade, o responsável pelo hospital declarou que, a cada dia, os novos casos de malária são frequentes, logo, “para nós, o mais importante é reduzir a mortalidade, sobretudo em crianças”.
O director Cavaya confessou que ao longo do ano foi constante o fluxo de pacientes diagnosticados, medicados e internados com malária. Todavia, registou-se um surto em Março de 2017 que, segundo disse, foi possível “controlar”. Desta feita, em Outubro, por consequência das quedas pluviométricas, “aumentaram os criadores, tem mais mosquitos”, logo, “os casos de malária no município da Ganda aumentaram”, tornando-se mais difícil combatê-los, explicou.
No hospital municipal, o responsável, apesar de ter afirmado que “o número não é satisfatório”, quanto aos médicos e técnicos de saúde disponíveis, ainda assim, alegou: “não temos muitos problemas” nesse campo. Já em relação aos fármacos, no hospital da Ganda, Sebastião Cavaya garantiu que a direcção provincial da saúde “semanalmente faz abastecimentos, sobretudo de medicamentos para a malária”. Agora aguardam pela distribuição de mosquiteiros.
Na semana passada, a unidade sanitária de referência naquele município do interior da província de Benguela tinha internados 170 pacientes, destes, 148 eram crianças. Uma enchente que causou desconforto aos acamados e seus familiares. Reclamando, a munícipe Hilária contou: há “muita gente” no hospital, inclusive pessoas deitadas até nos corredores, “as camas estão muito cheias”. Como já é hábito, comprou parte dos medicamentos, outros, o centro de saúde cedeu.
Cubal: diferente espaço geográfico, a mesma realidade
Sobre o índice de malária, na primeira quinzena deste novo ano, 2018, o director municipal da Saúde no Cubal, Domingos Ngunga, esclareceu que, nesses curtos 15 dias, 921 casos foram diagnosticados, morrendo 11 pessoas. Avançando pormenores, referiu que a comuna sede do Cubal tem maior historial de pacientes infectados com malária, destacando- se os bairros do Casseque, Calomanga, Hamavoco e Passagem.
E, quanto às causas que motivam o surto epidémico, enunciou: “o saneamento, o meio ambiente em que se encontram, tem muitos milharais à volta das casas, tem muitos lagos”, facilitando a multiplicação dos mosquitos. Pronunciando-se sobre os antimaláricos, Domingos Ngunga afirmou que o actual stock municipal é satisfatório para dar tratamento aos casos diagnosticados.
O Hospital Municipal do Cubal tem uma capacidade de 178 camas para internamento, 50 das quais destinam-se à pediatria. Porém, na semana passada, os serviços pediátricos estavam sobrelotados, com 114 crianças internadas. Tendo uma filha internada na maior unidade sanitária local, a munícipe Vitória Quarta queixou-se do excesso de pacientes acolhidos no hospital, pois “as pessoas estão a dormir no chão”, lamentou.