Relatório “Energias Renováveis em Angola” mostra grande crescimento da capacidade instalada, indicando que a meta desejada pelo Presidente da República pode ser alcançada em breve, mas também revela pouca apetência dos privados para o jogo da energia
A capacidade eléctrica instalada no país saltou dos 1.374 para 5.880 MegaWatts, em 10 anos, um crescimento que começou a registar-se a partir de 2010, como indica o relatório “Energias Renováveis em Angola” da Associação Angolana de Energias Renováveis (ASAER) e da Associação Lusófona de Energias Renovavéis (ALER) a que OPAÍS teve acesso. Contas feitas, há um crescimento de mais de 80%, justificado pelo crescimento acentuado a partir de 2015, sobretudo na produção hídrica. Esta evolução é resultando de um forte investimento público já que, no mesmo período, verificou- se uma redução da capacidade instalada por produtores independentes.
De acordo com o documento das duas instituições, encontram-se instaladas oito centrais híbridas, que combinam produção solar, num total de 21 MW e a diesel, num total de 14 MW, totalizando 35 MW. Acresce a isso que encontra-se também em curso um projecto solar público que contempla a construção de sete centrais solares, totalizando 370 MW, que deverá culminar com a expansão da rede nacional de transporte, construção de sub-estações e novas ligações domiciliares.
Adicionalmente, foram aprovados e estão em desenvolvimento outros projectos, cujo resultado vai permitir chegar à meta dos 500 MW em breve, dando assim vida à possibilidade de se ultrapassar os 77% de energia proveniente de fonte limpa, como apontado pelo Presidente da República, recentemente, em Abu Dhabi, capital dos Emirados Árabes Unidos.
Actualmente, o parque electro- produtor angolano é composto por 66 centrais, das quais 63 são públicas, uma parceria público-priva- da, nomeadamente a HidroChicapa SARL, que tem a concessão da exploração do Aproveitamento Hidroeléctrico de Chicapa. Contam-se ainda outras duas privadas, nomeadamente a Companhia de Bioenergia de Angola (Biocom), com uma capacidade instalada de 20 MW, que produz energia eléctrica renovável a partir de biomassa e a China International Fund (CIF) com a Central Térmica do KM 44, na zona do Bom Jesus, com uma capacidade instalada de 50 MW. O potencial hídrico de Angola é um dos mais importantes em África. Actualmente, é apenas explorada uma pequena parte do potencial destes recursos, mas a estratégia do Governo Angolano passa por uma forte aposta na energia hídrica como fonte estável de produção de electricidade.
Consumo
No que diz respeito ao consumo, o documento indica que está dividi- do apenas por dois sectores, nomeadamente o residencial e o industrial. De 1990 a 2019, o sector residencial em Angola teve sempre um consumo de electricidade superior ao consumo do sector industrial e o seu peso tem-se mantido relativamente constante nos 70%. Uma posição que deve-se ao aumento da riqueza nacional, já que as famílias vão transformando esta disponibilidade financeira em maior conforto, o que se traduz no aumento de consumo de energia eléctrica ao nível residencial.
Mas o consumo do sector da indústria tem vindo a crescer, principalmente a partir de 2004, resultado da crescente industrialização do país. Contudo, o relatório chama a atenção para a não representação de consumo de energia eléctrica por parte do sector de comércio e serviços, que com certeza existe. No que à venda diz respeito, os número apresentam-se confusos, pois apesar do crescimento constante do consumo, as vendas de energia caíram muito, sobretudo de 2019, altura em que registava cerca de 9 mil milhões em venda, em 2020, altura em que se ficou pelos 8 mil milhões em venda, para depois recuperar em 2021.
POR: Ladislau Francisco