Para suprir o deficit de escolas, algumas direcções provinciais de Educação estão a adoptar o sistema de superlotação de alunos nas salas de aulas para garantir o princípio da obrigatoriedade do ensino, ainda assim, acima de 650 ficam sem escola este ano
Mais de 500 mil crianças de diversos níveis do ensino geral não frequentarão a escola no presente ano lectivo, segundo dados fornecidos ontem, a OPAÍS, por alguns directores do sector, à margem de um Encontro Técnico promovido pelo Ministério da Educação (MED).
Só na província do Uíge, por exemplo, o seu director, Manuel Zangala, fala em 300 mil crianças e adultos que este ano ficarão nesta situação por insuficiência de salas de aulas e de professores.
Estima-se que na capital do país cerca de 106 mil alunos serão excluídos do sistema de ensino, de acordo com o seu responsável, André Soma.
Já na Huíla que, de acordo com dados do Censo Populacional de 2014 é a segunda província mais populosa, o quadro é quase semelhante ao de Luanda. Terá 105 mil crianças em idade escolar sem oportunidade de ingressarem na escola.
Com mil escolas, o Bié não revela quantos alunos recebe. Todavia, o seu responsável fala em 70 mil e 601 crianças e adultos que este ano não irão à escola, embora estime que o número seja superior.
“Por falta de professores e de salas de aulas, tudo leva a crer, com toda a tristeza, que a quantidade de alunos fora da escola aumentará”, frisou, Basílio Caetano, responsável do sector no Bié. Seguem-se as províncias do Cuando-Cubango e do Cunene, com necessidade de inserir 40 e 30 mil alunos, respectivamente.
Sindicato diz que OGE devia olhar mais para educação
Fazendo o somatório das supracitadas províncias, por exemplo, haverá acima de 650 mil alunos com necessidade de escolas. Uma situação que o presidente do Sindicato que responde pela Educação, Cultura e Comunicação Social, José Laurindo, considera preocupante. Deste modo, defende que para inverter este fenómeno, o Governo deveria atribuir 9% do Orçamento Geral do Estado, ( OGE) para 2018 ao sector, ultrapassando os actuais 4%.
Superlotação nas salas
Para eliminar a escassez de salas de aulas, alguns gestores escolares têm optado por formar turmas com uma quantidade de estudantes acima da média recomendada, que são 35 alunos.
Esta foi a alternativa encontrada na província da Lunda-Norte, onde estão matriculados cerca de 78 mil alunos, como revelou Bernadete Cachoco, directora local da Educação.
“É uma forma de garantir o princípio da obrigatoriedade do ensino”, explicou. Igual medida será implementada na província do Bengo, onde, segundo o director da Educação, António Quino, estará em curso o sistema de ensino assistido. “Se por regra uma turma deve albergar 35 alunos, vamos inserir 50. Significa que os 15 que estão a mais são alunos assistidos”, explicou.
A mesma dinâmica está a ser aplicada nas províncias do Huambo e Bié, cuja quantidade de alunos que “abarrotará” as salas de aulas vai ultrapassar os 50. O Huambo, por exemplo, chega a ter 80 alunos em sala e turno, contra as 45 (máximo) previstos por lei, segundo o seu director provincial da Educação, Manuel do Amaral.
O Zaire também adoptou este critério para não ver muitas crianças fora da escola, sendo que as suas salas chegam a albergar um total 70 alunos, segundo Ângelo dos Passos, director local do sector.
Os directores da Educação entendem que o problema da sobrelotação ainda vai prevalecer por muito tempo, enquanto o crescimento da rede escolar não acompanhar o crescimento da população.