Mais de 8 mil pessoas em Benguela passam fome, em consequência da seca que aflige o interior da província. Só no Chongoroi, a seca já afectou quase 20 mil habitantes, na sede municipal e na localidade do Sendje, enquanto no Lomua, município do Caimbambo, onde as pessoas se alimentam de manga verde, subiu para 800 o número de famílias fustigadas pelo flagelo da fome
Por: Constantino Eduardo, em Benguela
Cresce no município de Benguela a onda de solidariedade de vários segmentos da sociedade no sentido de minimizar a grande carência de alimentos que aflige famílias dispersas no interior da província de Benguela.
Organizações da sociedade civil, juntamente com a Bolsa de Solidariedade Social, instituição associada ao Ministério da Acção Social, mobilizam esforços destinados a acudir à falta de alimentos nas comunidades mais vulneráveis, onde as pessoas chegam a comer manga verde na ausência de alimentos mais condignos.
Um organismo que que também abraçou a causa, após ouvir o “grito de socorro” da directora do Gabinete provincial da Acção Social, Família e Igualdade do Género, Leonor Fundanga, é a Associação Beneficente Cristã, órgão social da Igreja Universal do Reino de Deus. Segundo o seu responsável, Felix Manuel, a organização prevê realizar, no dia 27 do corrente mês, uma partida de futebol destinada à angariação de bens não perecíveis para acudir os mais carenciados.
Inicialmente, revela o responsável, a acção destinava-se a uma das casas de caridade espalhadas em Benguela. Todavia, face à crise alimentar vigente no interior, a instituição resolveu virar as suas atenções para as localidades do interior da província. “Porque é uma coisa que nos tocou a nós todos”, justificou o responsável. Além da ABC, o Movimento Nacional Espontâneo tem igualmente a sua máquina caritativa accionada.
A direcção do Movimento prevê levar alimentos aos habitantes afectados nos próximos dias, soube o Jornal OPAÍS. Na localidade de Lomua, os habitantes – entre eles crianças – alimentam-se de manga verde. Segundo o analista clínico Ivanov Emiliano, as crianças correm o risco de contrair problemas de estômago. “Devem ser submetidas a exames laboratoriais para se fazer um diagnóstico”, recomenda, em entrevista à RNA.
Quando a sociedade benguelense se convencia de que atendendo a localidade de Lomua tinha a questão da fome ultrapassada, eis que chega igualmente o grito de socorro do município do Chongoroi, onde a seca afectou 20 mil pessoas, oito das quais em situação de vulnerabilidade.
Ou seja, estão a passar fome. Não havendo alimentação, segundo uma denúncia das autoridades tradicionais a OPAÍS. A múcua e folhas de abóbora preenchem a dieta alimentar.
“Há muita fome aqui, as pessoas estão a passar mal”, declarou o regedor do Sendje Tchivangalula Catraio em língua nacional umbundu, à margem da visita que o governador Rui Falcão efectuou à localidade. Visivelmente agastado, apela à sensibilidade dos vários segmentos sociais, para que o pior não aconteça.
Administradora do município do Chongoroi, Idalina Carlos, mostrou-se igualmente preocupada com o cenário vivido nas localidades do município sob sua jurisdição, contudo, garante que não há, até aqui, registos de mortes causadas pela fome. No entanto, para minimizar a carência, a administração sugere à população o cultivo de produtos mais resistentes à seca, como o milho, a massambala e a mandioca.
“Podemos dizer que estão directamente afectadas, quer na região do Sendje, como da própria sede, cerca de 20 mil pessoas afectadas directamente, por causa da estiagem. Entre eles, podemos considerar aquelas vulneráveis, que precisam de uma assistência alimentar, estamos a falar de 8 mil pessoas”, estimou.