Não me recordo quem terão sido os autores de tal estudo. Mas a memória aponta para o facto de no início dos anos 2000 um grupo de especialistas se terem juntado e elabora- do um trabalho aturado virado para o término da venda desordenada.
Essa teimosa memória até diz mais: ao que tudo indica uma alta funcionária do Estado terá estado envolvida no estudo, cuja aplicação até aos dias de hoje não sabemos se ocorreu ou, no mínimo, tenha sido menos- prezado, à semelhança de muitos outros projectos que acabam por nem conhecer a luz do dia por terem si- do abortados.
A venda desordenada em Luanda tem sido nos últimos tempos um autêntico cavalo de batalha. Não foi em vão que tão logo chegou ao Governo Provincial de Luanda, Manuel Homem tenha identificado o fenómeno como um dos principais males a serem combatidos ao nível da capital do país.
E aos poucos se ía dando uma nova imagem à capital, alguns troços problemáticos tornaram-se desafogados e o trânsito quase livre, com os automobilistas e passageiros a despenderem menos tempo. De igual modo, observou-se áreas mais limpas, com menos lixo e sem a imagem quase que vergonhosa com que nos confrontamos em determinadas zonas de Luanda, incluindo naquelas como o São Paulo, que já foi tão digna do nome que ainda almeja.
Num ápice, a imagem que se mostrava melhor se foi deteriorando, voltando quase tudo à fórmula original, apesar do combate impiedoso que se previa. Os populares vão ocupando os passeios, bermas de estradas e até os separadores em muitos casos não são poucos. Vai-se dando uma imagem de que se trata de uma batalha quase sem fim. Em que os fiscais correm com os vendedores num momento, estes fingem fugir, mas momentos depois acabam por se instalar sem quais- quer receios. Por exemplo, há pouco tempo se pode- ria circular entre o Camama, Calemba 2 e outras partes de Luanda sem quaisquer problemas. Em pouco tempo tudo voltou à normalidade, dando estes espaços uma imagem de que se esteja naqueles emaranhados de Islamabad ou Bagdad nos tempos em que os confrontos eram tão acirrados.
Apesar da situação por que passam as famílias angolanas, ainda assim não se pode aceitar de bom ânimo que se venda em qualquer canto. E, pior, existem, segundo o Governo Provincial de Luanda, por exemplo, mais de 80 mil bancadas em vários mercados construídos pelas autoridades.
A verdade é que muitos destes mercados, entre novos e alguns antigos, encontram-se às moscas. O vende- dor prefere a rua e o comprador também não se impor- ta de adquirir o que bem entende na rua ou na estrada. E esta situação tende a manter-se por mais tempo, independentemente das operações que forem realizadas pelas autoridades ou dos apelos para que os cidadãos vendam nos locais ideais.
O combate à venda desordenada parece exigir muito mais. E de todos os sectores. É uma realidade que deverá fazer com que as academias, que todos os anos inundam o mercado com milhares de licenciados em ciências sociais, económicas e outras também participem. Não sei se não resta mais um espaço para mais uma comissão que poderia estudar, propor soluções e implementá-las a médio ou longo prazos.