O director do gabinete de Comunicação Institucional e Imprensa da delegação Provincial de Luanda do Ministério do Interior, intendente Mateus Rodrigues, disse que a Polícia já “tomou a peito esta situação”
Por: Paulo Sérgio
Domingos Aionda, pai de Kueno Aionda, garantiu ontem, a OPAÍS, que a família está a tratar da situação do músico que surpreendeu a sociedade ao assumir publicamente que é consumidor de cocaína há cerca de três anos, e que regressará aos palcos para a alegria dos seus fãs e admiradores. Declarou que o seu filho tem sido vítima da má-fé de um grupo de indivíduos que se aproveita dele quando está sóbrio e, posteriormente, o abandona à sua sorte num estado “impróprio”, nalguns casos até se aproveitam dos seus bens materiais. Situação esta que tem sido recorrente. “Nós já conhecemos o grupo que está por detrás disso contra o Kueno. Deixam o Kueno quando está naquele estado e nós, a família, é que o recebemos. Roubaram-lhe todas as coisas. Vendeu a casa no Kilamba, o carro…. ”, desabafou. Ante a onda de solidariedade que o caso despertou na sociedade, Domingos Aionda manifestou que a família está agradecida, mas está a tratar da situação em privado com o artista. “O Kueno vai reaparecer nos palcos. Nós estamos a tratar dele”, sublinhou.
a confissão de kueno “Infelizmente, eu assumo que neste momento estou literalmente mergulhado no mundo da droga, ou seja, comecei a usar droga e viciei-me”, declarou o artista à Rádio MFM. Ressaltou que não tinha vergonha de assumir publicamente que usa cocaína e que manteve o primeiro contacto com a mesma por intermédio de um amigo. “No princípio era uma “vibe” (vi
bração) boa, mas depois “deu pro torto”, porque viciei-me e comecei a mudar de comportamento, tornando-me numa pessoa antipática. Entre outras caracteristicas que são normais para quem usa cocaína, a pessoa entra em transe e entra em depressão”, declarou. Disse que, aconselhado pela família, fez uma vez desintoxicação na clínica da Endiama, “mas uma semana depois tive uma recaída por ter parado de tomar os medicamentos, por negligência”. Na altura, já havia trocado a casa da sua mãe onde alegadamente vivia mais `controlado´ pelo seu apartamento na centralidade do Kilamba. Reecontrou os amigos, afastou-se novamente da família e passou a consumir a droga em
maior quantidade. Sublinhou que não usava drogas antes de enveredar pela carreira artistica, muito mesmo na gravação da sua primeira obra discografica. “Comecei a usar um pouco antes de fazer anos, em 2015, contas bem-feitas, são três anos. Tornei-me uma pessoa ainda mais inconstante”, disse. Acrescentou de seguida que como já era reservado, mais reservado ainda se tornou, ao ponto de ficar em casa sozinho. “Coisas horríveis de dizer”, desabafou. Kueno Aionda contou que até nesta Segunda-feira chegava a gastar diariamente entre 80 a 50 mil Kwanzas, no mínimo, na compra de droga, mas que já chegou aos 100 mil Kwanzas. Revelou ainda que uma grama de cocaina custa em torno de 7.000 Kwanzas e que nos últimos dias chegava a consumir diariamente entre sete a dez gramas. Em consequência, parou de prestar assistência ao filho, faltou respeito a algumas pessoas e atendia a sua mãe friamente ao telefone.
O artista disse que por duas vezes quase morreu de overdose e decidiu pedir ajuda publicamente após ter tido alucinações num dos centros comercias, tendo chegado a despir-se publicamente. Foi espancado e tratado sem dignidade.
Artistas estão mais propensos a entrar no mundo da droga
Solicitado a analisar o caso, o psicólogo Carlinhos Zassala explicou, baseando-se em algumas teorias da personalidade, que os indivíduos com vocação artística que não têm facilidade de comunicarse com os outros estão mais propensos ao consumo de estupefacientes.
Por esta razão, no seu entender, algumas figuras públicas nacionais e estrangeiras recorrem às drogas como forma de alterar o seu estado de consciência, retirando o medo e a ansiedade.
“Notamos que os músicos, entre outros artistas, que já têm uma personalidade fraca (quer dizer uma pessoa tímida) e sem capacidade natural de se comunicar com uma população elevada, usam as drogas como estímulo”, frisou. Explicou ainda que os meios que alguns artistas frequentam podem exercer uma certa influência, mas a base fundamental para a adesão deles ao mundo da droga é a fraca personalidade.
Justificou que a personalidade de cada ser humano é a arquitectura em que se processa todo o seu desenvolvimento. “Por natureza, todos aqueles que têm uma vocação muito elevada para as artes têm fraca personalidade”. Carlinhos Zassala sublinhou ainda que os produtos que originam dependência tóxica, seja química ou psicológica (conhecimentos), entram lentamente e podem ser um caminho sem retorno.
Pode-se evitar o pior, segundo o especialista em psicologia social da personalidade, caso o consumidor recorra atempadamente a um psiquiatra a fim de ser assistido. “Se não consultar um especialista, seja psicólogo ou psiquiatra, a tempo e atingir níveis elevados, será muito difícil sair”, disse. O psicólogo esclareceu ainda que a dependência de estupefacientes provoca outros efeitos colacterais, entre os quais a prática de acções que a sociedade não tolera. Contactado pelo OPAÍS, o intendente Mateus Rodrigues limitou-se a dizer que a Polícia “tomou a peito essa situação”.