O Presidente da República, João Lourenço, manifestou o interesse de Angola em ver mais empresários espanhóis a investirem no mercado angolano, no quadro da diversificação da economia em curso no paísm, segundo a Angop
Em entrevista ao Jornal espanhol ABC, o Chefe de Estado angolano sublinhou o fac- to de várias em- presas espanholas operarem em Angola em diferentes domínios da economia, tendo destacado sectores como saúde, ensino superior, transportes e defesa. Quanto ao sector da defesa, o Presidente angolano afirmou que a Espanha está a construir para Angola três aviões Airbus C – 295 para apoiar no controlo e na vigilância da extensa orla marítima do país. “Com o novo ambiente de negócios em Angola nós gostaríamos que o sector privado espanhol fizesse mais”, observou João Lourenço, tendo apontado o domínio da indústria naval como um dos segmentos preferenciais.
No entanto, o Chefe de Estado adiantou que em relação à indústria naval tudo depende das facilidades de crédito oferecidas a Angola por Espanha. O Presidente João Lourenço lembrou que Espanha é um país virado para o mar, tem uma boa indústria naval e que Angola necessita de meios para melhor patrulhar as suas águas territoriais e costa marítima, além de estar localizada próximo do Golfo da Guiné.
Quanto à parceria no sector dos recursos enegéticos, o Estadista voltou a dizer que o mercado angolano é aberto e que não vê problema em ver empresas espanholas a operar no país nesse segmento. Em relação às energias renováveis, o Presidente da República referiu que Angola está no período de transição, daí que grande parte da electricidade produzida internamente já é de fontes limpas, fundamentalmente, hidroeléctrica e solar. “Quaisquer outras ofertas ou investimento privado nesse sector de energia solar, energia eólica, o hidrogénio verde são todas elas bemvindas.
Angola está receptiva a fazer em pouco tempo, em poucos anos, a completa transição energética”, precisou João Lourenço. Durante a entrevista, o Esta- dista disse que, em África, Angola vem desempenhando um papel de aproximação entre os falantes das línguas Portuguesa e Espanhol. Sublinhou que por insistência de Angola, actualmente, a Guiné Equatorial, país falante de Espanhol, é membro da Comunidade de Países de Língua Portuguesa (CPLP).
Angola e as relações internacionais
No quadro das relações interna-cionais, o Presidente da República projecta, para os próximos anos, uma Angola cada vez mais inseri- da na economia mundial. Do ponto de vista das relações diplomáticas bilaterais e multilaterais, disse que Angola tem a característica de se relacionar com todos os países do mundo, salvo aqueles que são considerados Estados pá- rias e que estão à margem dos princípios das Nações Unidas.
“Temos primado por aproveitar a nossa própria experiência de construção da paz para ajudar outros povos que ainda estão a atravessar momentos difíceis, de conflitos (…) a construirem uma paz difinitiva, como é a nossa”, referiu o Presidente. Hoje, prosseguiu o Chefe de Estado, existe a perspectiva de África estar representada quer no G20 quer como membro permanente do Conselho de Segurança das Nações Unidas. Segundo o Presidente João Lourenço, Angola terá a ambição de ser o país ou um dos países africanos que poderá vir a representar o continente.
Conflitos em África
Considerou fundamental alertar os governos e povos de África para a necessidade de se trabalhar arduamente a favor da paz. Reconheceu que o continente ainda enfrenta muitos conflitos e instabilidade, parte deles por acção do terrorismo como no Sahel, na Nigéria, no Burquina Faso, no Níger, Mali, Tchad, na República Centro-Africana e na República Democrática do Congo. João Lourenço referiu que nos territorios citados a instabilidade é visível e permanente, tendo igual- mente apontado os casos de Moçambique e da Somália.Para o Presidente angolano ainda há muito por fazer para se alcançar a paz definitiva e a estabilidade em África.
Objectivos para o mandato 2022/2027
Entre os objectivos para o segundo mandato à frente do Estado angolano, o Titular do Poder Executivo afirmou que o foco é terminar as obras das diferentes infra-estruturas iniciadas no mandato anterior. Apontou a conclusão de portos, aeroportos, barragens hidroeléctricas, hospitais, escolas, rede de transportação de energia para os vários pontos do país, construção de parques de energia solar, estradas nacionais e o combate à seca no sul do país. Também apontou a construção de mais universidades públicas.
Combate à corrupção
No domínio do combate à corrupção, o Presidente da República disse ser um dever de todos, cabendo apenas ao Chefe de Estado indicar o caminho. “A minha missão é só indicar o caminho (…). De resto a sociedade tem participado com denúncias. Os serviços de investigação têm cumprido com o seu papel de investigar. O Ministério Público tem cumprido também com o seu papel de constituir os processos e os tribunais idem (…), expressou. Lembrou que em Angola o combate à corrupção é um facto que vai do topo à base. Afirmou que no quadro desse processo está a pequena e a grande corrupção que inclui alguns agentes públicos.
Questões de género na governação
Na entrevista ao Jornal espanhol ABC, o Titular do Poder Executivo deixou claro que o Governo angolano está a trabalhar para alcançar a igualdade no género. Hoje, afirmou o Presidente da República, na estatística dos estudantes matriculados no ensino superior verifica-se que há mais jovens do sexo feminino do que do sexo masculino, aliado ao facto de as mulheres constituírem o maior número da população angolana. Para João Lourenço é preciso que se dê oportunidades às mulheres, pois de contrário poderá ser difícil que essa franja se destaque na sociedade, no emprego e, sobretudo, nos altos cargos das instituições públicas. “Até aqui não temos o que lamentar.
Elas são tão competentes quanto nós”, declarou o Chefe de Estado a propósito. Quanto à estabilidade do país, lembrou que Angola está a vi- ver 20 anos de paz que se consolida ano após ano. Disse ser graças a isso que o país vai conhecendo algum sucesso na resolução dos problemas dos cidadãos, na construção de infra-estruturas e no desenvolvimento económico.
Guerra na Ucrânia
Em relação à guerra na Ucrânia, João Lourenço afirmou que Angola mantém as relações diplomáticas e de amizade com a Rússia e com a Ucrânia. “A nossa posição em relação ao facto da Rússia ter agredi- do um país vizinho, um Estado independente e membro das Nações Unidas, a Ucrânia, fez com que Angola se tivesse posicionado”, disse o Presidente. Adiantou que Angola se posicionou no sentido de condenar essa guerra e aconselhar as autoridades russas a colocarem fim à guerra, iniciada a 24 de Fevereiro do ano passado.
“Eu, nos primeiros meses após o início da guerra, pretendi deslocar-me a Moscovo para falar com o Presidente (Vladimir) Putin. Na altura não foi possível por indisponibilidade da parte dele”, informou o Estadista angolano. No entanto, sublinhou que na altura teve uma conversa tele- fónica com o líder russo, tendo manifestado a necessidade de um “cessar-fogo de preferência por iniciativa da Rússia” e negociar-se a paz, pois “já naquela altura o número de deslocados e mortos já era grande”.
Relações Angola e Portugal
Ao responder uma questão sobre o estado das relações Angola e Portugal, país vizinho de Espanha, o Chefe de Estado angolano afirmou que sempre foram boas, apesar de no passado ter havido alguns “altos e baixos”, o que considerou normal. Sempre tivemos, não só boas relações diplomáticas, como a cooperação económica sempre fluiu. As relações de cooperação bilateral entre Angola e o Reino de Espanha têm como base o Acordo Geral de Cooperação assinado a 20 de Maio de 1987, e o Acordo Complementar ao Acordo Geral assinado em Novembro de 1987. A cooperação entre os dois países tem-se intensificado no sector empresarial com a presença de empresas espanholas em Angola. A Espanha conta actualmente com mais de 60 empresas a operar em Angola em sectores distintos como energia, banca, construção e agricultura.