Para resgatar a vítima, a família teve que pagar sete milhões de kwanzas, um caso que as associações de defesa dos chineses em Angola alegam desconhecer e aconselham o lesado a denunciar o caso, visando a responsabilização dos culpados
Por: Domingos Bento
A Polícia Nacional, por via do director do Gabinete Institucional e Imprensa da Delegação de Luanda do Ministério do Interior, Mateus Rodrigues, disse desconhecer um suposto caso de rapto de um cidadão chinês ocorrido nas imediações da Via Expresso.
O intendente, contactado ontem pelo OPAÍS, explicou que a corporação não registou ocorrência alguma neste sentido, porém, prometeu investigar o caso e fazer um pronunciamento nos próximos dias.
O caso do rapto do cidadão chinês, cuja identidade mantém-se desconhecida, está a ser amplamente divulgado nas redes sociais. O cidadão, que supostamente é funcionário de uma fábrica de blocos, foi mantido refém, durante alguns dias, por um grupo de meliantes angolanos.
Nos dias em que esteve sob custódia dos raptores, o cidadão terá sido molestado de forma a pressionar os seus familiares a pagarem pelo seu resgate. Na conversa com um familiar da vítima, em áudios que circulam nas redes sociais, os raptores exigiam a quantia de 100 milhões de Kwanzas e o não envolvimento da Polícia, como garantia de que soltariam a vítima com vida.
“Aumenta o dinheiro, se você chamar a Polícia nós vamos matar”, ameaçou um dos raptores. Após de algum tempo de tensa negociação, o parente da vítima, que até ao momento também permanece sob anonimato, desponibilizou- se a pagar apenas 7milhões de kwanzas.
Os valores foram entregues nas imediações da zona de Catete, numa área escura e isolada. Segundo os áudios, todo o processo de negociação não foi dado a conhecer a Polícia Nacional. Organizações de apoio aos chineses desconhecem a ocorrência Sobre o caso, João Shang, porta- voz da Associação dos Chineses Voluntários em Angola, disse não ter conhecimento algum sobre a ocorrência.
Conforme explicou, a sua organização fez varias diligências, quer com a Associação de Apoio aos Chineses em Angola, bem como com a Associação Industrial e Comercial Angola/China, e nenhuma delas registou o caso.
Contudo, a confirmar-se a ocorrência, João Shang apela a vítima a denunciar o caso à Policia Nacional e às organizações de apoio aos chineses em Angola, que, nos últimos dias, têm vindo a mostrar-se preocupadas com a onda de raptos e assaltos de que a comunidade tem sido alvo.
Em recente entrevista ao OPAÍS, Pan Jingjian, secretário de segurança da Associação de Apoio aos Chineses em Angola, revelou que o número de chineses mortos e raptados no país vem causando preocupação à sua organização.
Todavia, visando reduzir os raptos e assassinatos de chineses, Pan Jingjian revelou que a sua associação implementou, em colaboração com a Polícia Nacional, um sistema de denúncia, controlo e segurança dos chineses que funciona ao longo da Via Expresso (por ser um dos pontos de Luanda com maior circulação de chinêses) e que permite detectar, em curto espaço de tempo, quaisquer tipos de crimes envolvendo chineses. “Há o número, 949 947 162, para o qual qualquer chinês pode ligar quando sentir-se inseguro ou ameaçado. Após a ligação, a Polícia é accionada, e em escassos minutos o criminoso é apanhado”, garantiu.
Esclareceu que, tanto a Polícia como a sua associação, estão muito preocupadas com os crimes que assolam a comunidade chinesa. Daí a criação deste sistema de denúncia e segurança que até ao momento tem contribuindo para a redução de crimes.