O presidente da AIA, José Severino, descarta que os casos de descarrilamentos ao longo da linha Lobito/Huambo/ Luau estejam associados a actos de sabotagem e diz que tal se deve à falta de fiscalização da obra. Entretanto, o ministro dos Transportes pede a apresentação de provas
José Severino não alinha na perspectiva de que os descarrilamentos sejam causados por actos de “banditismo”, consubstanciados em sabotagens, por parte de alguns cidadãos, reforçando a te- se de que a sua instituição já tinha advertido sobre isso, justamente na altura em que a empresa chinesa se encarregava da execução das obras.
“Não, desculpe lá, eu não aceito o argumento de sabotagem”, disse. As obras que custaram aos cofres do Estado pouco de mais USD 2 mil milhões, fruto da linha de crédito da China, com mais de mil quilómetros, em termos de extensão, ter-se-á, segundo argumenta, deixado a empresa construtora do ramal do CFB isenta de qualquer fiscalização.
De tal sorte que, face aos cenários de descarrilamentos, sendo o último ocorrido na semana passada no município do Ucuma, José Severino anteveja grandes desafios para o consórcio de três empresas que vai gerir o corredor do Lobito, uma vez que a linha, na óptica do industrial, nunca teve perfil adequado.
“O grupo que vai explorar o cor- redor vai ter grandes desafios, por causa dos descarrilamentos. E foi sempre uma luta quando se construiu este Caminho-de-Ferro. A AIA obstaculizou, queria fiscalização, e não se fiscalizou, o construtor fez aquilo que bem entendia”, acusa, sugerindo que se apresentem os alegados criminosos envolvidos em tais sabotagens de que volta e meia se fala.
Ministro pede provas
Depois de ter sido confrontado com a posição da AIA, o ministro dos transportes, Ricardo de Abreu, recuou, avançando que sabotagem não é uma ‘tese generalizada’, mas adianta que muitos dos acidentes ocorridos na linha férrea acontecem por conta dessa prática, e “não estamos a dizer que é sabotagem sempre”, realça o governante. O ministro deixou claro que se não tivesse havido fiscalização, como sugere a AIA de José Severino, a linha, seguramente, não estaria em operação, daí que esteja descarta- da a falta de fiscalização como causa principal.
E, neste sentido, ante a insistência da AIA na tecla ‘fiscalização’, o titular da pasta dos Transportes em Angola desafia, por via do jornal OPAÍS, José Severino: “(…) Provavelmente, a Associação Industrial deverá então apresentar aquilo que são os dados que tem sobre esta matéria(…)”.
O consórcio de empresas, que já se vinculou contratualmente ao Governo, por via de concessão, compromete-se fazer um investimento na ordem dos USD 500 milhões e criar pouco mais de 600 novos postos de trabalho, conforme noticiou OPAÍS na edição de Segunda-feira, 30 de Janeiro.
Este vai ter a sorte de contar, tão logo inicie as funções, com um lote de 50 locomotivas de que o CFB beneficiou de um total de 100 recentemente adquiridas pelo Governo Angolano à General Electric, conforme fez saber António Cabral, presidente do Conselho de Administração da empresa ferroviária.
Trocas comerciais no corredor vão desafogar Luanda
Há mais vida para lá dos descarrilamentos do CFB. José Severino não tem dúvidas de que um corredor do Lobito em pleno funcionamento, longe dos constrangimentos decorrentes de alegados erros de engenharia vigentes, poderia desafogar a capital Luanda no que às trocas comerciais com países da SADC diz respeito, pois, além do CFB e Porto Comercial, este deverá contar, igualmente, com um Aeroporto Internacional, o da Catumbela, cuja certificação está às portas, fazendo fé nas palavras do ministro dos Transportes, Ricardo de Abreu.
Segundo José Severino, Angola precisa colocar no mercado da República Democrática do Congo o sal produzido em regiões como a Baía-Farta, por ter um produto de que aquele país da SADC tem muita carência. Deste modo, diz o industrial, estar-se-á a diversificar os produtos de exportação. Ao longo do percurso quilométrico Lobito ao Luau, há muitas indústrias que carecem de uma aposta séria do Governo, na óptica de José Severino, daí que haja, para ele, necessidade de as relançar.
O presidente da AIA diz não ter sido em vão que, na época colonial, fábricas como a de Celuloses (de produção de papel) tenham sido justa- mente implantadas ao longo da linha férrea a pensar justamente na importância do corredor do Lobito, também não fosse o Cubal uma potência na produção de sisal. Por isso, recomenda a quem tenha responsabilidades acrescidas neste quesito: “O Governo tem que relançar a produção de sisal”.
POR: Constantino Eduardo, em Benguela