Diz-se que se pode ser um bom professor de Língua Portuguesa sem se conhecer a história da literatura angolana.
No entanto, para nós, pelo menos, há toda necessidade de se ter uma informação geral e sintética sobre a história da literatura angolana, em se tratamento de ser um bom professor de Língua Portuguesa, que, naturalmente, se pode depreender da obra “Roteiro da Literatura Angolana”.
A edição supracitada foi publicada no 10° aniversário da União dos Escritores Angolanos, em Março de 1985.
Nela, em doze subtítulos, Everdosa traz à tona assuntos como a Literatura Tradicional Angolana onde, por meio dos ecritos de Chatelain, Ribas e Estermann, faz perceber o valor da tradição oral em Angola, enquanto meio importante de transmissão e discussão de conhecimentos.
Nisso, por exemplo, Chatelain, citado por Everdosa, sublinha seis categorias da literatura tradicional angolana como: 1-Ficção: é a primeira classe, vista como o fruto das faculdades imaginativas e especulativas, tendo por objectivo o de entreter, mais do que instruir.
Avoluma, ainda, que podem ser chamadas de misoso, no Kimbundu; 2-Maka: classe das histórias verdadeiras, ou melhor, histórias reputadas verdadeiras que, embora sirvam também de distracção, têm um fim instrutivo e útil; 3-Ma-lunda ou mi-sendu: são as crónicas da tribo ou Nação, cuidadosamente guardadas e transmitidas pelos chefes ou anciãos de cada unidade política; 4-Filosofia (moral): está ligada de perto à maka; é a explicação em provérbios; 5-Poesia/música: com aparecimento dos estilos épico, heróico, bélico, cómico, satírico, dramático e religioso; 6-Adivinhas: também chamadas jinongongo, são usadas somente como passatempo e divertimento, embora verdadeiramente úteis para aguçar a inteligência e espevitar a memória.
Sem dúvidas, Héli Chatelain é uma relíquia para a compreensão da literatura tradicional angolana.
Por outro lado, como dissemos, precisamos de exumar também o produto das investigações sobre literatura tradicional de Óscar Ribas que Everdosa faz transparecer nos três volumes de Missosso.
No segundo momento, Everdosa traz à baila os primeiros nomes da literatura impressa como António Dias de Macedo e o grande José da Silva Maia Ferreira.
Aqui, por exemplo, o autor sublinha o aparecimento do primeiro livro de poemas intitulado “Espontaneidades da Minha Alma Às Senhoras Africanas, de José da Silva Maia Ferreira.
A empreitada continua, falando, depois, sobre a geração de 1880. Nesse período, surgem iniciativas excelentes como a criação do Boletim Oficial, em 1845, que desempenhava as funções de um jornal rudimentar, sendo o ponto de partida para o Jornalismo.
Foi então que, em 1855, aparece o primeiro Periódico denominado “A Aurora”, que, supõe-se, ter sido criado de feição esssencialmente literária e recreativa.
Depois, em 1866, aparece outro importante Semanário, “A Civilização da África Portuguesa”.
Um dado de capital importância nesta geração é a publicação, em 1882, em folhetinhos, na Imprensa de Lisboa, da novela “Nga Muturi”, de Alfredo Trony.
E depois surgem muitos outros jornais que se estende até à geração de 1900.
Tudo isso se associa ao desejo ardente de, cada vez mais, os angolanos irem buscar e aumentar a sua literacia.
Daí o aparecimento, como sublinha o autor, da CASA DOS ESTUDANTES DO IMPÉRIO, em Lisboa, onde passou a ser o local de reuniões.
Mais tarde, surge a conhecida década de 50, com o “Movimento dos Novos Intelectuais de Angola (Mensagem e Cultura).
O autor termina a estupenda viagem falando sobre a década de 70 e os seus variados acontecimentos como a Independência Nacional e a União dos Escritores Angolanos.
É, de facto, uma obra sem igual cujo conteúdo não se esgosta neste artigo.
A nosso ver, é importantíssimo que qualquer que se preze professor de Língua Portuguesa ou de Literatura tenha bem em mente a história da Literatura Angolana apresentada por Everdosa.
Assim, que todos nós busquemos ler esta e outras obras para que saibamos de onde viemos e consigamos continuar a levar a bom porto este barco que é a Literatura Angolana! Pode-se
ser um bom Professor de Língua Portuguesa sem se conhecer a história da Literatura Angolana?
Não sabemos.
Sabemos, apenas, que, os professores de Língua Portuguesa ou de Literatura deviam conhecer o seu fundo histórico, como o roteiro apresentado por Everdosa!
Por: Pedro Justino “Cabalmente”