Mais de uma dezena de pessoas com problemas mentais, de ambos os sexos, deambulam, diariamente, ao longo da Estrada Nacional 100, no troço entre os distritos do Benfica e Ramiros nos municípios de Talatona e Belas, em Luanda, sem qualquer intervenção das autoridades sanitárias.
Apesar de não haver uma estatística oficial, a ANGOP constatou que os “malucos”, entre jovens e idosos, percorrem, diariamente, cerca de 40 quilómetros, sujos, descalços, esfarrapados, cabelos longos e, muitas vezes, carregando vários objectos encontrados em lixeiras.
O “fenómeno”, que já dura há mais de dois anos, tem vindo a preocupar os cidadãos, devido ao perigo imposto a si mesmos e às outras pessoas.
De acordo com um ancião, morador na zona dos Ramiros há mais de 20 anos, António Fernandes, disse que alguns são violentos e atacam outros transeuntes e viaturas que circulam ou são atropelados ao longo da via.
No final de 2022, explicou, um destes doentes foi alvejado mortalmente por disparos de arma de fogo, por um guarda de um posto de abastecimento de combustíveis da região, quando tentava destruir uma vitrine e atacar clientes com uma barra de ferro.
Contou ainda, sem expor pormenores, que outros dois foram atropelados próximo do Museu da Esravatura e no quilómetro 30, sublinhando que os mesmos não são residentes da zona.
António Fernandes aventou que muitos deles são abandonados na zona por familiares por, alegadamente, não suportarem esta doença e os próprios doentes.
Entretanto, responsáveis do sector da Saúde do município de Belas e da província, contactados pela ANGOP, negaram dar quaisquer informações, considerando apenas uma situação de saúde pública.
Por outro lado, a psicóloga clínica Suzana Tumba descreveu a doença mental como a perda grave da memória, do juízo, da orientação, das capacidades intelectuais e de motivações e interesses.
Acrescentou que a doença é mais frequente em pessoas maiores de 60 anos, embora, actualmente, afecte também jovens, podendo ser progressiva ou estática, permanente ou reversível.
Já a psico-pedagoga Sandra Macedo apelou às autoridades a retirarem essas pessoas desses lugares e colocá-las em lugares adequados, nomeadamente a psiquiatria.
A também docente universitária, referiu que a família joga um papel preponderante na recuperação do paciente, porque é lá onde o mesmo reside e estão as pessoas que conhecem melhor a sua história de vida, comportamentos, gostos e preferências.
Para o psiquiatra Manuel dos Santos, os familiares não devem permitir que os doentes andem pelas ruas sem controlo, porque correm muitos riscos, e as autoridades devem, urgentemente, criar mecanismos para tirarem essas pessoas desses locais.
Recordou que nos últimos três anos o governo da província, em parceria com os serviços de bombeiros e familiares de pessoas com perturbações mentais, realizou uma campanha de recolha de doentes espalhados pela cidade de Luanda.
A província de Luanda conta com um hospital psiquiátrico com 350 camas localizado no distrito da Maianga.