Até ao momento, já são mais de cinco crianças que perderam a vida naquela bacia de retenção de águas pluviais a céu aberto.
POR: Domingos Bento
A família de José Adré Pedro, de seis anos de idade, culpa a Administração municipal de Viana pela morte do rapaz por afogamento na manhã de Terça- feira. Dizem os familiares que, caso a bacia de retenção do Coelho estivesse vedada, o menino, mais conhecido por Zezinho, não teria sido vítima de uma morte tão prematura. Conforme apurou OPAÍS, junto da família e testemunhas, Zezinho perdeu a vida quando tentava pescar, na companhia dos amigos, na bacia de retenção do Coelho, localizada na zona com o mesmo nome no município de Viana. O menino vivia na zona do Mirú e frequentemente deslocava-se ao Coelho sem o consentimento dos pais.
No entanto, anteontem, enquanto pescava, teve uma queda fatal, tendo sido recuperado o cadáver do menor no final de tarde por efectivos dos bombeiros, segundo informou Fautino Mingueis, porta voz do SNPCB. Amélia Armindo, madrasta do menor, disse que o rapaz deslocava- se sempre às escondias para aquele local. Os pais já várias vezes ralharam com ele, mas o mesmo ia para lá de forma insistente. Segundo a dona de casa, se a Administração Municipal de Viana optasse por bloquear a entrada do público no local, a tragédia não teria assolado a sua família com este nefasto acontecimento. “A culpa é do Estado mesmo. Então como é possível que uma bacia como esta fica assim aberta para qualquer pessoa?
É um perigo enorme. Se temos uma administração, então é para cuidar do povo e não pô-lo em perigo. Estamos muito triste com isso tudo que aconteceu e o Estado deve se responsabilizar. Perder um filho é uma dor grande no coração. Estamos muito tristes”, lamentou a senhora. A morte de Zezinho chocou igualmente os moradores da zona da Robaldina que disseram ser uma situação recorrente e que podia ser evitada caso a Administração de Viana tivesse respeito pela vida. De acordo com os moradores, até ao momento já foram mais de cinco crianças que perderam a vida naquele local. Em 2016, quando a bacia transbordava de água para o asfalto sempre que chovia, a Administração Municipal de Viana havia vedado a zona com chapas de zinco e ferros, o que dificultava o acesso de crianças e de outras pessoas ao espaço.
Porém, meses depois, afirmam os moradores, a própria administração decidiu retirar as chapas, deixando o espaço totalmente aberto, representando assim um perigo para os moradores e outras pessoas que frequentam a área. Para dona Laureta Chilepa, residente na zona desde 1970, o único responsável pela morte de tantas criança é a Administração Municipal de Viana, por não garantir segurança às pessoas que vivem na zona. “São crianças que sabem que aqui sai peixe, então sentemse à vontade para vir pescar. O Estado já tinha feito bem em vedar o espaço. Mas depois voltou a abrir e deixou assim. Aqui passam muitas pessoas e é sempre um perigo. O tal administrador e os seus funcionários é que deviam pagar as despesas todas por não terem assumido responsabilidades. Só pensam neles e não no povo”, desabafou.
Chapas foram tiradas por causa das obras em curso
Em resposta à acusação da família e moradores, o administrador adjunto de Viana para a Área Técnica, Fernando Bins, disse a OPAÍS que as chapas foram retiradas devido às obras que decorrem naquela bacia de retenção que representa um quebra cabeças sempre que chove devido ao transbordo das águas para o asfalto e bairros circunvizinhos. Para o responsável, que confirmou a morte de mais de cinco crianças, as tragedias só têm acontecido devido à negligência e ignorância dos factores de risco por parte da população. “Toda a gente sabe que essa bacia é perigosa, não só para crianças, mas também para os adultos. Portanto, frequentar esse local é um perigo enorme e por esse motivo temos chamado a atenção das famílias no sentido de proibirem os seus membros de circularem neste perímetro.
Já tínhamos posto a cobertura de chapas, mas tiramos porque ainda decorrem as obras”, afirmou. Todavia, dado os elevados casos de mortes, Fernando Bins assegurou que, para os próximos dias, está prevista a aplicação de cobertura de rede de malha sol ao local para evitar que mais vidas se percam naquele espaço. “De facto já tínhamos previsto essa ideia. Só não se executou até agora por causa do período de festas. Mas os empreiteiros já ca estão e daqui a dias vão iniciar o processo de vedação do espaço. Queremos aqui assumir a nossa culpa e por isso vamos prestar todo o nosso apoio e solidariedade à família”.