Pais e encarregados de educação queixam- se da alta tabelas de preços e solicitam a intervenção da Associação Nacional do Ensino Privado (ANEP).
POR: Domingos Bento
Com o ano lectivo às portas, por esta altura a grande maioria dos chefes de família desdobram- se à procura de estabelecimentos escolares onde possam matricular os seus educandos. Locais que ofereçam segurança, higiene e método de ensino eficaz, são a grande preferência dos pais que nos últimos dias vagueiam de um lado para o outro à procura da opção que se encaixe nas suas exigências. No entanto, no município de Talatona e na urbanização nova, duas zonas nobres de Luanda, até ao momento ainda se verifica uma falta gritante de escolas públicas.
Por este motivo, os preços praticados pelas instituições privadas de ensino estão a tirar o sono aos pais e demais encarregados de educação que os consideram um verdadeiro exagero. Os pais clamam por uma maior sensibilidade dos colégios, fundamentalmente numa época que as famílias enfrentam sérias dificuldades financeiras em virtude da situação de crise que o país atravessa. Já as direcções dos colégios justificam os altos preços com uma série de condições que oferecem, tais como o método de ensino, o nível dos professores, as condições das salas de aulas, as actividades extra-escolares e outros atractivos que não é possível encontrar nas escassas escolas públicas que as duas circunscrições possuem. Em colégios como o Angolano de Talatona, São Francisco de Assis, Escola Internacional do Benfica (anterior Colégio Turco) e a Escola Internacional de Talatona, os preços oscilam entre os 120 e os 500 mil Kwanzas por mês. Só no Colégio Angolano de Talatona (CAT) um aluno do primeiro ciclo paga, trimestralmente, 445 mil e 625 kzs.
Já no segundo ciclo paga- se 490 mil e 190 kz, enquanto para os alunos da 12ª classe os pais desembolsam 521 mil e 815 kzs. Para as actividades extracurriculares, que são apenas bissemanais, os pais pagam preços que variam entre os 22 mil e os 35 mil kzs/mês, enquanto as actividades de aproveitamento dos tempos livres (ATL), que também são bissemanais, os pais desembolsam 32 mil kzs. “Procurei o Colégio Angolano de Talatona porque fica próximo de casa, mas os preços que eles praticam são um verdadeiro escândalo. Não se faz. São preços altíssimos que afugentam qualquer pessoa, francamente”, desabafou um encarregado de educação logo à saída da instituição.
No colégio São Francisco de Assis, também em Talatona, com sistema de ensino português, os valores, por trimestre são: primeiro ciclo 950 mil kzs, segundo ciclo 960 mil kzs e o ensino secundário (que vai da 10ª à 12ª classe) custa 980 mil kzs. Já as actividades extraescolares são pagas à parte, trimestralmente, cujos preços são: dança – 52 mil kzs, futebol – 60 mil kz, ginástica artística – 70 mil kz, capoeira – 68 mil kz, e artes plásticas – 60 mil Kzs. No Nova Vida, o colégio Emirais cobra, mensalmente, para os alunos da 1º a 4ª classe 28 mil e 510 kzs, da 7ª a 9 classe 32 mil e 830 kzs, e da 10ª a 12ª classe 34 mil e 560 kz.
Segundo Ester Galiano, directora da instituição, estes valores são cobrados em harmonia com a qualidade dos professores, as condições das salas de aulas, segurança, higiene e outras condições indispensáveis ao bom desempenho escolar, deixando os pais sossegados com a segurança e a formação dos seus educandos. Segundo ainda Ester Galiano, nos custos das propinas não estão incluídas as actividades extracurriculares que contemplam a informática, sala de estudos, inglês, actividades desportivas, ballet, capoeira e música, no valor de 10 mil Kzs/mês, enquanto para o pequeno almoço, almoço, lanche e demais actividades extra, os pais desembolsam 76 mil Kzs. Para o transporte, os valores oscilam entre os 17 mil e os 27 mil e 200 Kzs. Por seu lado, Delfina Neto, directora do colégio Pitruca, referiu que na sua instituição a média de preços para o ensino primário, incluído transporte e uniforme, anda pelos 52 mil e 515 kzs. Já para o ensino médio, os preços rondam os 62 mil e 115 kz. Conforme assinalou, o ATL não é de carácter obrigatório, pelo que os pais optam se quiserem. “Os nossos ATL são divididos em módulos. E cada módulo tem o seu preço. Por exemplo, ATL com música, marimba, tecnologias de informação e comunicação, anda à volta dos 36 mil kwznas”, explicou, tendo igualmente assegurado que a cobrança desses valores deve-se à qualidade de serviços que a instituição oferece.
Pais devem procurar por colégios que se adequam aos seus bolsos
Contactado pelo OPAÍS, António Pacavira, presidente da Associação Nacional do Ensino Privado (ANEP), reconheceu os altos preços praticados por alguns colégios e escolas internacionais. Contudo, sugeriu aos pais que pesquisem o mercado com atenção e paciência antes de firmarem compromissos. Conforme explicou, os encarregados de educação só devem pagar ou matricular os seus filhos nas instituições cujos preços se adequem aos seus bolsos. Para isso, é preciso que façam um estudo de viabilidade, porque o mercado está cada vez mais concorrido. Para António Pacavira, nem sempre os colégios que cobram preços caros são os que melhor qualidade de ensino oferecem.
Há, disse, instituições de ensino privado que cobram valores razoáveis e acessíveis ao bolso da grande maioria da população, mas que, no entanto, ensinam melhor que muitos colégios e escolas internacionais que cobram valores estrondosos. “O problema é que os pais gostam das marcas. E as marcas são caras. Portanto, matricular o filho num colégio de escalão A, como é o caso do colégio Angolano de Talatona e outros, os pais não vão pagar, mensalmente, menos de 120 mil kzs. E esse valor pode chegar até aos 500 mil. Não é um valor ao alcance de qualquer pessoa, porque aqueles oferecem uma série de serviços cujas despesas são altas. Então, aconselhamos sempre os pais a encontrarem alternativas que se encaixem nas suas possibilidades”, recomendou o responsável, tendo assegurado que o mercado é diverso e bastante competitivo.
Escolas públicas sem regalias
Por outro lado, no meio da diversidade, há escolas públicas em que não se pagam valores chorudos para terem acesso ao ensino, porém, os alunos não usufruem do volume de actividades que as escolas privadas oferecem. As diferenças são abismais e em muitos casos os alunos não dispõem sequer de água para beber. É o caso do Complexo Escolar “General Pedalé”, situado no município de Talatona, onde a educação física e o desporto escolar constituem a principal actividade lúdica destinada aos alunos. Com 280 vagas disponíveis no presente ano, esta escola do ensino primário e primeiro ciclo dispõe de um recinto desportivo. Nela há ensino primário e primeiro ciclo, que este ano contam com 280 vagas disponíveis.
Há infra-estruturas desportivas, mas o seu director, Armando Neto, diz que tem faltado incentivos dos pais para os filhos praticarem tais actividades. Esta é também a realidade da Escola do segundo ciclo 2035, Puniv do Nova Vida, que este ano receberá mais 530 alunos, cujo estado de degradação nas infra-estruturas é denunciado tanto pela direcção de escola como pelos alunos. Estes últimos alegam que o facto de não contribuírem financeiramente limita as condições da sua instituição. Aqui, os laboratórios deixaram de funcionar porque os reagentes estão caducados, acrescido o facto de os equipamentos estarem escritos em Mandarim, segundo o director da escola, Romano Gonçalves. O mesmo acontece com parte dos quartos de banho que foram fechados por conta das fissuras que tomam conta de quase todos os compartimentos da escola.