O diagnóstico já foi apresentado ao organismo de tutela, cujo ministro, da Cultura e Turismo, Filipe Zau, deslocou-se a Cabinda para uma visita de trabalho de dois dias para avaliar o funcionamento do sector na província mais ao norte do país
A província de Cabinda possui, actualmente, 22 monumentos e sítios classifica- dos como património histórico-cultural nacional, e outros 84 já inventariados, foram remetidos ao Ministério da Cultura e Turismo para figurarem na lista de bens patrimoniais no contexto da identidade cultural angolana.
Filipe Zau reuniu-se com agentes culturais da região para auscultar as preocupações que inquietam os fazedores da cultura em Cabinda em matéria de teatro, dança, música, escultura entre outras manifestações artístico-culturais. Durante a sua estada em Cabinda, o governante visitou locais de interesse histórico e cultural da província como a Igreja Católica São Tiago Maior de Lândana, no município de Cacongo, o Tratado de Chinfuma e o local de concentração de escravos do Chinfuca.
Na lista dos 22 bens classificados pelo Ministério da Cultura consta, dentre outros, o local de concentração e embarque de Escravos (Malembo), o Cemitério dos Nobre (Mbuku-Mbuadi), o marco histórico do Tratado de Simulambuco (que assinala um acordo assinado, em 1885, entre os príncipes de Cabinda e os reis de Portugal), a Igreja São Tiago Maior de Lândana, primeiro património cultural reconhecido a nível da província de Cabinda, em 1959, os Tratados de Chinfuma e Tchicamba e vários edifícios de estilo Holandês, incluindo o Palácio do Governo provincial.
Em declarações ao jornal OPAIS, o secretário provincial da Cultura, Ernesto Barros André, disse que das 84 propostas remetidas à consideração do Ministério da Cultura e Turismo para serem reconhecidas como património nacional o destaque vai para os Bakama, uma organização secreta e sincrética que faz parte da vida dos cabindas e que se envolve nas mais diversas esferas do dia-a-dia das populações locais.
Bakama Património
O Ministério da Cultura elevou os Bakama a Património Cultural Imaterial Nacional, no domínio das manifestações culturais, com vista a garantir a salvaguarda e valorização desta organização para as actuais e próximas gerações. O Decreto Executivo nº 269/22, de 29 de Julho, assinado pelo ministro Filipe Zau, o ministério da tutela atribui competências às entidades da Administração local do Estado (Governo Provincial) no sentido destas tomarem medidas para a efectiva protecção e valorização do referido Património Imaterial. Na opinião de Ernesto Barros André, a classificação desses bens patrimoniais visa, sobretudo, valorizar, preservar e divulgar a importância histórica dos referidos locais no contexto da identidade cultural angolana.
Locais identificados
Disse ainda que, os locais ora identificados são de interesse turístico que servem para descobrir a nossa própria história e levar o sector a contribuir na economia do país através do turismo cultural. “O turismo cultural foi uma das grandes apostas do sector. Quando podermos requalificar esses locais e revermos o nosso património cultural, vai nos permitir elaborar catálogos sobre os monumentos e sítios históricos colocando-os em vários locais como hotéis, serviços administrativos, portos e aeroportos para que os visitantes possam ter conhecimentos antecipados desses locais”, destacou o responsável.
Em relação aos sítios históricos sobre a luta de libertação nacional, Cabinda identificaram-se seis locais históricos que contribuíram, significativamente, na luta de libertação nacional, iniciada a 4 de Fevereiro de 1961, para serem reconhecidos como património cultural nacional. O secretário da Cultura, Ernesto Barros André, disse que os locais inventariados de maior impacto na luta de libertação nacional é destaque a aldeia de Macamanzila, onde, em 1961, um grupo de cidadãos nacionais destemidos, munidos com meios rudimentares como paus, cata- nas, espingardas de fabrico caseiro atacaram posições militares das tropas portuguesas, bem como a “Curva dos Mortos”, no município de Buco-Zau, onde se registou o primeiro ataque dos combatentes angolanos contra os portugueses a nível da segunda região militar em 1964.
Destaca-se, igualmente, a “Curva das Pedras” onde foi morto, nos anos 1970, o médico militar português, filho do então governador ultramarino de Angola, a zona de convergência de Chimbeti onde decorreram vá- rias batalhas entre as tropas coloniais e os combatentes da luta de libertação nacional, assim como o quartel atípico do exército português localizado no Miconje Velho. A localidade de Ntó, onde se desenrolou a famosa “Batalha de Ntó” a 8 de Novembro de 1975, quando o exército do ex- Zaire, acompanhado de mercenários franceses e a FLEC tentaram invadir e ocupar Cabinda para proclamar a independência do território e inviabilizar a independência nacional no dia 11 de Novembro de 1975, foi outro local identificado. “São locais de interesse histórico-cultural. Com o desenvolvimento do turismo cultural precisamos passar a mensagem da nossa memória colectiva e permitir às pessoas contemplarem “in situ” a nossa história”, concluiu o político.
POR: Alberto Coelho, em Cabinda