Quatro meses depois das eleições gerais de 2022, cujos resultados anunciados pela Comissão Nacional Eleitoral ditaram a vitória do MPLA e do seu cabeça de lista, João Lourenço, parece-nos não existirem mais dúvidas sobre quem está no poder. Desde que Angola se tornou um país democrático, há mais de 30 anos, não há memória de um processo eleitoral em que a oposição se tenha mostrado de algum modo satisfeita com os resultados saídos das urnas.
Foi assim com Jonas Savimbi, ainda na década de 90. A insistência na fraude acabou por redundar no retorno à guerra, que acabou por cessar somente uma década depois e com a sua própria morte.
Não foi diferente com Isaías Samakuva nas eleições de 2008, 2012 e 2017. Nestes três pleitos também se evocou fraude nos resultados, o que não deixou que a UNITA e os seus representantes marcassem presença no parlamento.
As últimas eleições, ocorridas no ano passado, também foram desfavoráveis à UNITA, segundo os números apresentados pela Comissão Nacional Eleitoral, tendo a sua direcção contestado os resultados. Houve até, na ponta final, um certo suspense sobre o assunto, mas no final se soube que o partido liderado por Adalberto Costa Júnior sempre iria tomar posse no Parlamento, estando neste momento com uma representação maior do que a alcançada até por Jonas Savimbi, em 1992.
Só o facto de os deputados estarem na Assembleia, mesmo que em suposto desacordo, acre- ditamos que acaba por legitimar quem está no poder, o que de certo faz com que se esbata qual- quer discurso que demonstre o contrário.
Claro está que não seria nada agradável se os deputados da UNITA não tomassem posse na Assembleia Nacional. Ainda assim, por mais reclamações que se tenha até ao momento, parece ser contraproducente que os seus deputados, nesta fase, insistam na tese de que estarão perante um Governo ilegítimo.
Na discussão sobre o Orçamento Geral de Esta- do, o líder da bancada do maior partido da oposição insistiu nesta insinuação de que se estava perante um Governo que não teve o respaldo da maioria dos angolanos. O que se sabe é que tanto Liberty Chiaka como os demais parlamentares tomaram posse naquele mesmo parlamento sem que tivessem sido obrigados, o que acabou por dar respaldo aos resultados saídos das urnas.