A necessidade que o país tem de apostar na formação de mais especialistas no sector da cibersegurança é cada vez maior, a considerar pelo aumento exponencial do número de ataques cibernéticos de que as instituições nacionais têm sido alvos, de acordo com os técnicos dessa área que estiveram a analisar o assunto, ontem, no Instituto de Telecomunicações (ITEL)
O alerta foi lançado quando estes falavam em entrevista ao jornal OPAÍS à margem da mesa redonda promovida pelo ITEL, no âmbito da Semana da Informática, durante a qual o especialista em infra-estrutura e redes, Eloyme Samuel, que conceituou cibersegurança como “métodos de prevenção à invasão de sistemas”, disse que várias empresas são, constantemente, alvos de ataque.
“O país já tinha de investir na formação de cibersegurança há muitos anos, mas, nunca é tarde. Podemos aproveitar agora que, tem surgido maior número de ataques a empresas de grande porte, e aproveitar for- mar mais”, alertou. Eloyme Samuel avançou que os técnicos são bastante reduzidos quando comparados ao nível de procura pelas instituições, principalmente as ligadas ao sector financeiro.
Para este especialista, o mais importante para as empresas são as informações, e, por isso, estas procuram maneiras de protegê-las, um facto que disse não ser possível, sem técnicos dotados de capacidades para manter seguros os dados alvos. “As empresas são atacadas de minuto a minuto; de hora a hora, e de dia a dia. Então, basicamente, o trabalho de um analista de cibersegurança é olhar para isto e tomar as medidas necessárias”, sublinhou.
Por seu turno, Olívio Sousa, especialista em cibersegurança, lamentou a falta de pessoas qualificadas no sector, pelo facto de conhecer a aflição de muitas em- presas, que precisam de profissionais da área. Olívio Sousa recorreu à história para explicar que o cenário resulta, também, do facto de empresas perceberem a importância desses especialistas, depois de, em 2016, muitas serem alvos de ataques cibernéticos, o que fez com que os tomadores de decisão começassem a se preocupar com o assunto e a investir nele.
“As empresas em Angola são alvos constantes de ataques cibernéticos. Isso fez com que alguns técnicos pesquisassem mais e entrassem na área. Mas, para se tornar um quadro qualificado leva anos de experiência”, pontualizou. Enquanto isso, o especialista em investigação e fraude digital, Paulo Ventura, defende que o Ministério das Telecomunicações tem estado a olhar para o tema com atenção, pelo menos desde o período da pandemia da Covid-19, no qual se constatou expansão do número de usuários de Internet, o que alarga a necessidade de protecção de dados.
No entanto, para Paulo Ventura, os ataques a instituições, no país, têm motivação, também, no facto de muitas empresas mostrarem-se, financeiramente, estáveis, aliciando, desta maneira, muitos hackers para procederem neste sentido. “Na verdade, a cibersegurança em Angola e no mundo é algo novo, em Angola ainda mais novo.
E, depois, vemos aquilo que é a estabilidade social e financeira de algumas instituições, o que faz com que os hackers olhem para a tentativa de tirar proveito”, adiantou. A abordagem da cibersegurança enquadra-se num leque de actividades a serem desenvolvidas, na Semana da Informática, pro- movida pelo ITEL, com vista a despertar a comunidade estudantil sobre as possíveis áreas de actuação dos cursos ministrados.
ITEL justifica tema
O director geral do ITEL, Cláudio Gonçalves, considerou que o tema encontra pertinência no facto de o país ocupar a segunda posição dos que mais sofrem ataques cibernéticos, no continente africano, por conta do que chamou de nível de exposição digital a que se encontra, actualmente. “A cibersegurança, principalmente, nos últimos tempos, no nosso país, tem esta- do muito em voga.
Angola é o segundo país de África que sofre maior número de ataques cibernéticos. Isto, muito por conta da exposição digital que o país começa a vi- ver”, referiu. Para Cláudio Gonçalves, o país está mais presente na Internet por conta dos projectos integradores digitas que o Ministério das Telecomunicações tem estado a implementar, fazendo com que “estejamos mais visíveis, no quesito digital, e os malfeitores aproveitam-se disso para infringir os seus ataques à rede nacional”.
“Portanto, há necessidade de começarmos já aqui, na comunidade estudantil, a olharmos para estas questões.Entendermos a importância de mantermos seguros os dados que colocamos, na Internet; a importância de obedecermos protocolos de segurança, quando implementamos qualquer sistema”, explicou.