Mesmo com parcos recursos para a engalanar a festa, mantem-se a tradição de juntar a família à mesma mesa, trocar presentes, ir à missa do galo e comemorar efusivamente a festa natalina
Por: André Mussamo
Para os religiosos mantem-se a tradição e durante a jornada natalina tudo é em prol do nascimento do menino Jesus em Belém. Para outros, é mais um dia de efusiva comemoração por mais um ano passado e prestes a terminar, por isso mesmo digno de um abundante banquete regado com optimas e abundantes bebidas.
Neste dia, Natal para uns e da família para outros, até os exageros são permitidos e perdoados. Sempre foi assim desde que Angola tornou-se um Estado Independente. Entretanto, em 2017, é voz comum o facto de o país estar a comemora “o mais pobre Natal” de sempre. Mavo Malamba, 67 anos de idade, reformado, recorda com nostalgia os tempos de bonança.
“Cabazes, chorudas ofertas e banquetes”, são a lembrança que o antigo funcionário público guarda daqueles que chama “grandes momentos vividos durante a sua juventude”. Para si, o Natal era uma festa esperada com ansiedade e preparada com esmero. Apesar disso, o reformado salientou que “há males que vêem por bem” porquanto o nosso passado foi de esbanjamento e desperdício.
Revelou que em substituição do bacalhau, a sua amada companheira encontrou uma alternativa salutar para o tradicional cozido da ceia natalina. Para o casal, manter a tradição, confraternizando à mesa com os membros da família é uma prática e dever religioso que em nome da fé preferem manter.
A esposa do reformado lamenta pelos netos que este ano receberão poucos presentes e terão uma mesa menos abundante, mas agradece à “crise” porque assim não terão as mães dos garotos que vigiá-los para proibir o consumo dos menos recomendados, como doces, bolos, chocolates e outras iguarias “muito apreciadas pela garatoda”.
Marcos Manuel, 38 anos, professor de profissão, alinha no mesmo diapasão e acrescenta que o Natal de 2017 é “o mais pobre de todos os tempos”. Diz não ter recebido todos os pagamentos expectáveis por esta altura do ano. À parte alguma nostalgia no seio familiar, Marcos considera que há males que vêm por bem, sublinhando que o dinheiro não pago agora poderá funcionar como alívio por a altura das grandes despesas do início do ano.
“Precisamos nos lembrar que no início do ano temos despesas tais como escolares, para renovação de documentos, o pagamento de impostos e taxas diversas, ou o seguro da viatura. Por isso mesmo, não receber o subsídio e o salário a tempo de ser gasto no Natal e na festa do Ano Novo pode funcionar como uma poupança”, considera o docente que demonstra-se indiferente à pacatez da festa que vai oferecer à família. “Espera receber menos vizinhos na madrugada dos candandos, na passagem d’Ano, porque desta vez a mesa não estará recheada como nas quadras anteriores”.
À parte o constrangimento que isso possa representar, o professor revela que o Natal é mais um dia como qualquer outro, e por isso mesmo há-de passá-lo na normalidade. Marcos evoca a tradição natalina para justificar a sua decisão. Para si, é hora de voltar a história e lembrar que há dois mil anos, um menino nasceu, para ser o Rei dos reis, como foi anunciado desde tempos antigos.
“Jesus, sinónimo de Eleito, não nasceu num berço rico, nem foi envolto em trajes majestosos, tão pouco recebeu uma corôa de ouro”. Jesus nasceu pobre, num estábulo, deitado numa manjedoura e mesmo assim, para os cristãos, é o Rei dos reis. Ambos nossos entrevistados desejaram Feliz Natal a todos os angolanos Feliz Natal na esperança de que as mudanças em curso no país ajudem a todos a olharem a festa natalina como um dia de comemoração e não de esbanjamento.