Os Himbas, Vatuas e Mukuissi do grupo herero distribuídos em Himba, correm sérios riscos de desaparecimento, em consequência da fome que de um tempo a esta parte tem vindo a assolar o município do Curoca, a 329 quilómetros da cidade de Ondjiva.
POR: João Katombela, enviado ao Curoca
Estes povos que se dedicam com principal incidência à criação de gado bovino, caprino e ovino, enfrentam vários problemas devido à falta de alimentos para as comunidades e de pastos para os seus rebanhos. A escassez de pasto e de alimentos para que assolam estes criadores de gado resulta da cíclica seca que assola a região Sul do país, concretamente os municípios dos Gambos (Huíla) e Curoca (Cunene), em consequência das alterações climáticas, como é o caso do fenómeno el niño.
Só de Março a Novembro, meia centena de pessoas já perderam a vida em consequência da fome. Segundo relatos das autoridades tradicionais do município do Curoca. Mensalmente morrem 30 cabeças de gado bovino por falta de pasto e de água para o seu abeberamento.
A morte destes animais que constituem a principal e maior riquezas das pessoas deste grupo no Sul do país, está a trazer consigo vários problemas, sobretudo a fome, já que dependiam dos seus animais para adquirem mantimentos através da troca directa. Para contrapor a realidade e evitar a perda de mais vidas humanas, Joaquim Mutyila Kalila, soba de Onkokua, capital do município do Curoca, pede a intervenção urgente do Governo, através da criação de políticas que visem a mitigação dos efeitos da seca.
“O município do Curoca tem muitos problemas, aqui a fome nunca acaba, porque a chuva cai pouco, então, é por isso que precisamos da ajuda do Governo, a ver se encontra uma técnica para acabar com os problemas desse município”, disse Joaquim Mutyila Kalila, soba da comuna de Onkokua. “Os problemas desse município do Curoca são antigos e bem conhecidos pelo Governo, mais, infelizmente, o que não entendemos é que até aqui nada foi feito, as pessoas continuam a morrer, embora essas mortes não sejam em números alarmantes, existem mortes por causa da fome”, explicou.
A luta pela sobrevivência
Para os Himba e Mukuissi, a vida no município do Curoca é semelhante à que se vive numa selva, onde impera a lei da natureza, eles fazem de tudo para garantir a sua subsistência. No único mercado paralelo do município do Curoca, várias mulheres destes povos dedicam- se ao transporte de água numa distancia de 1 quilometro de distancia para as barracas que confecionam alimentos, a troco de 100 Kz por cada 25 litros.
Apesar do esforço que elas empreendem na aquisição de alimentos, ainda assim, as mulheres Himba e Mukuissi, dizem ser um sofrimento ter que transportar água sobre a cabeça, já que das 10 horas à 14:00H, as temperaturas no município do Curoca, chegam a atingir os 34ºC. Kanymi não sabe a sua idade, disse à nossa reportagem que trabalha com a sua mãe na praça do Curoca para poder ter alimentos para a família e seus irmãos.
“Eu estou aqui a trabalhar com a minha mãe nesta barraca onde nos pagam 100 Kwanzas em 2 bidons de 25 litros de água, às vezes preferimos receber comida, porque aqui um quilo de fuba custa 250 kwanzas, nem sempre conseguimos fazer pelo menos 500 kwanzas”, disse.
Hospital Municipal com papel de cozinha comunitária
O Hospital Municipal do Curoca enfrenta diversas dificuldades, desde a falta de medicamentos à escassez de recursos humanos qualificados, para o cumprimento cabal da sua tarefa. Entre estas e outras dificuldades, e atendendo à fome que assola principalmente os Himbas, Vátuas e Mukuissi, o Hospital Municipal tem vindo a desenvolver tarefas de uma cozinha comunitária.
Durante uma reportagem no município do Curoca, este jornal tomou conhecimento de muitas famílias que diariamente abarrotam a unidade sanitária em busca de um prato de comida. Para o efeito, as famílias, num grupo de 4 pessoas cada, sabem bem o horário de distribuição de comida aos pacientes acamados, para igualmente lhes ser servida uma refeição. Uma enfermeira entrevistada por este jornal, e que solicitou o anonimato, disse que existem pessoas que se fazem passar por doentes só para terem o direito às refeições servidas naquela unidade sanitária.
“Há gente que vem para cá, se faz passar por paciente, mas depois de fazermos a triagem vê-se logo que não tem nenhuma enfermidade, só queria mesmo um prato de comida. Há também aqueles pacientes que estando internados aqui no nosso hospital, lhes é dado o título de alta, mas estes preferem ficar porque nas suas casas não tem comida, e nós não temos como os obrigar a abandonar o hospital, porque também somos pessoas e temos sentimentos”, revelou.