Os títulos de dívida soberana angolana em dólares aumentaram a rentabilidade para 8% nos dois meses da nova governação, encimando uma lista de títulos idênticos emitidos pelos 70 países que integram o índice da Bloomberg e do Barclays.
Com a eleição de João Lourenço como Presidente da República, os títulos de dívida soberana angolana colocados no exterior atingiram a maior rentabilidade entre os emitidos por 70 países listados pelo índice Bloomberg/Barclays de títulos soberanos em dólares dos mercados emergentes – ‘Bloomberg Barclays Emergins Markets USD Sovereign Bond Index’.
A rentabilidade dos eurobonds angolanos chegou a 8%, o que os coloca à frente da dos rendimentos proporcionados por títulos idênticos colocados nas praças internacionais por Equador, El Salvador, Zâmbia, Gabão, Gana, Iraque e Quénia, os países que se seguem a Angola na tabela da rentabilidade dos respectivos títulos de dívida soberana. O desempenho dos títulos angolanos fica muito acima da média registada pelos títulos representativos da dívida das economias emergentes, a qual se situou em 0,3% nos dois últimos meses, ou seja, desde a eleição do Presidente da República de Angola.
‘Só lidera Angola há um par de meses, mas os investidores já gostam do que viram João Lourenço fazer’, observa a agência Bloomberg. A ‘performance’ dos títulos angolanos não se fica a dever apenas ao aumento do preço do barril de petróleo em 5% nos mercados internacionais, já que os títulos de dívida soberana de grandes produtores como o México, a Rússia e a Arábia Saudita estão longe de registar o mesmo desempenho, nota a agência especializada em informação financeira.
A Bloomberg lembra ainda que, nestes dois meses, o Presidente angolano substituiu o governador do banco central, e os presidentes da Sonangol e Endiama. ‘O banco central, agora com José Massano como governador, aumentou a taxa de juro de referência em 200 pontos base, para 18% na semana passada, uma medida que terá em vista combater a inflação que supera 30%. Tal medida pode indiciar uma depreciação do kwanza, segundo o Standard Bank Group Ltd, que considera que a moeda nacional se encontra sobrevalorizada.
‘Apesar de se poder apontar para a turbulência do mercado devido ao aumento do preço do petróleo, o mercado pode estar a ficar mais construtivo face à perspectiva de evolução da política económica’, refere o líder do departamento estratégico do Standard Bank londrino, Dmitry Shishkin, citado pela Bloomberg. “O Governo tocou nas teclas certas, apontando para o desejo de melhorar a sustentabilidade da dívida, cortar algumas despesas, emitir mais dívida soberana e continuar com a reforma da Sonangol’, conclui o gestor de fundos.
O Estado angolano estreou-se na emissão de eurobonds em Novembro de 2015, captando então, no mercado internacional, cerca de USD 1.500 milhões através de um consórcio de bancos liderado pelo norte-americano Goldman Sachs International e que incluiu ainda o alemão Deutsche Bank e os chineses da ICBC International. Em Março deste ano foi seleccionada pelo Executivo, através de concurso público internacional, a subsidiária em Angola da consultora australiana Aurecon para monitorizar os 15 projectos que vão ser financiados pela emissão de eurobonds.
A empresa actuará como assessor técnico responsável pela preparação dos projectos, análises, relatórios e validação dos documentos de suporte ao pagamento dos projectos contratados’. Foram seleccionados 15 projectos de investimento público de infraestruturas, afectos ao Ministério da Energia e Águas e ao Ministério da Construção, que deverão beneficiar do financiamento proveniente do recurso às emissões de eurobonds.
Nova emissão
A subida da rendibilidade dos títulos soberanos é uma boa notícia no momento em que o Executivo preparara, entretanto, uma nova emissão de eurobonds até ao limite de USD 2 mil milhões. Um despacho presidencial datado de Agosto deste ano, autoriza o ministro das Finanças a ‘executar as acções e implementar as medidas que possibilitem a conclusão dos trabalhos conducentes à concretização do financiamento externo’ até ao montante de USD 2 mil milhões por intermédio da emissão soberana.
Esta segunda emissão de eurobonds enquadra-se ainda, de acordo com o diploma, na ‘estratégia do Executivo no que concerne à diversificação das fontes de financiamento para prossecução de objectivos económicos indispensáveis ao desenvolvimento nacional, em particular, dos programas de investimentos públicos e de outros programas e projectos de interesse nacional enquadrados no Plano Nacional de Desenvolvimento de Angola’. Ainda de acordo com o diploma, a estratégia da segunda emissão de dívida soberana nos mercados internacionais sob a forma de eurobonds será conduzida com o banco russo VTB.