Nascemos imbuídos do espírito de que Angola é um país grande, rico e belo. Aliás, isso foi cátedra durante largos anos, sendo recordado fizesse sol ou chuva. Para muitos, o facto de termos no nosso solo inúmeras riquezas de que devemos usufruir, fazendo ou não esforço. Compreendo a velha tese de que o filho do rico, um dia, rico será também, por vir a herdar o património ou os bens do país, esquecendo-se de que pode vir a ser deserdado se o progenitor assim quiser. No caso de Angola, há quem pense que os benefícios viessem unicamente pelo facto de terem nascido neste solo. Mas assim não é. Nem pode.
Porque cada um tem a sua quota parte de responsabilidade na construção dos alicerces que vao transformar este país num território rico, deixando de ser um espaço em que tenha apenas quase todos os minerais essenciais para a produção de diversos componentes. E o país rico é-nos dado a ver todos os dias, assim como aquele que tem os solos ricos, com riquezas mil, mas não se consegue sequer em casos pontuais fazer com que cada um usufrua dos seus benefícios. E mais do que o material, creio que a construção de riquezas nasce, à partida, do comprometimento dos próprios cidadãos.
Pode parecer mentira para alguns, mas os indicadores que nos chegam todos os dias levam-nos para esse caminho. Por exemplo, são vários os empregadores que se queixam dos trabalhadores que possuem, muitos dos quais se mantém autênticos fantasmas durante logos períodos, sendo apenas visíveis durante o período em que o assunto salário chega à mesa. Na passada semana, trouxe-se à mesa a questão da aprovação da nova Lei Geral do Trabalho.
Na verdade, para os entendidos em direito, trata-se de uma repristinação, uma vez que se recuperaram ideias ou normas que constavam da anterior legislação laboral. Para muitos, a lei revogada era tida como a dos patrões, porque se tratava de um documento mais rígido e menos favorável aos trabalhadores, uma situação que desencadeou inúmeros problemas entre os gestores e seus colabora- dores. Porém, ao que tudo indica não se levou mui- to a questão, porque o interesse particular do Estado era, se calhar, conferir aos trabalhadores mais segurança e poder dentro das organizações.
Sei – e li – que muitos patrões se sentiram feridos com a aprovação do novo documento, embora em termos gerais também seja favorável a adopcao de medidas proteccionistas a favor dos trabalhadores, desde que nunca prejudiquem as empresas e os seus promotores, sobretudo numa fase de crise económica. Por isso, sempre que posso, pergunto a mim mesmo e a mui- tos que encontro: será verdade que os angolanos não gostam de trabalhar como dizem muitos empregadores e que muitos deles até se aproveitam para roubar porque acham esta uma prática normal, uma vez que o cabrito sempre comeu onde está amarrado?
O que farias se fosses confrontado todos os dias com esta realidade e estivesses na pele de patrão? Cada um terá a sua visão sobre o documento aprovado, embora se saiba já que seja de cumprimento obrigatório. Mas não se pode descurar que a economia se move em função daqueles que investem o seu dinheiro, cabendo ao Estado apenas o papel regulador. Dizem que é assim em economia de mercado.