Agora que o microfone se tornou na coisa mais acessível e barata de todas, deixou de ter a sua função original para ser transformado num simples acessório do “aparecismo”.
Se há anos tivemos o pobre do microfone como uma espécie de depósito para todas as asneiras que se quisesse cantar, e não foram (não são) poucas, agora o micro serve de pretexto para subir ao palco. Em Angola, no meio artístico, o pobre do microfone já serviu de enfeite para as actuações que são quase sempre em playback.
Nas rádios, coitado, fica surdo com os gritos das nossas estrelas hertzianas, que não passam disso, relâmpagos na onda que passa. Vamos lá acertar a direcção e ir directo ao assunto: microfone agora é para quem quer fingir que canta e na verdade passa o tempo a ensaiar um espectáculo de striptease. E as redes sociais lá se vão animando, não apenas com as palavras obscenas, mas com meninas que buscam a fama a todo o custo, embaladas pelo sonho da eterna e despreocupada juventude.
Não se lhes conhece a voz, não se lhes conhece uma canção, mas têm o corpo em milhares e milhares de telefones celulares. Estão lá como cantoras. Fartam-se de gabar os seus próprios atributos físicos, dizem-se altamente cobiçadas. É gente sem capacidade para outra coisa qualquer e que força um reconhecimento muito mais perigoso do que o que julga.
Pior, num país como este, em que não se vão tornar milionárias como as “americanas” que imitam. Alguém tem de contar bem a história do mundo artístico americano a estas meninas, há por lá muita lágrima vertida também, no fim de carreiras necessariamente curtas.