Em entrevista exclusiva ao jornal OPAÍS, o jogador da Selecção Nacional de futebol para amputados e do Trabzonspor da Turquia, José Jamba “Candeeiro”, falou das dificuldades que teve após ser amputada a perna esquerda. O campeão Mundial e Africano da modalidade, de 32 anos, faz saber que quando encerrar a carreira vai apoiar os novos talento
Oavançado da Selecção Nacional de futebol para amputados e do Trabzonspor da Turquia, José Jamba “Candeeiro”, adquiriu a deficiência aos 6 anos, quando jogava futebol na garagem de casa com primos e amigos.
Durante a ‘peladinha’, a bola foi à rua e como a vontade de continuar o jogo falava mais alto, Candeeiro foi, rapidamente, à busca do ‘esférico’.
Assim que regressava com a bola nas mãos foi atropelado por uma viatura.
Após sofrer o acidente, os familiares o levaram de imediato para uma unidade hospitalar do bairro Mandume 1, na província do Namibe, onde recebeu os primeiros socorros.
Para tristeza do menino na altura, Candeeiro recebeu a informação de que havia fracturado o tornozelo esquerdo, logo restava ao mesmo o processo de tratamento com a esperança de um dia ter a “boa nova” que estava curado.
Volvidos alguns meses, os familiares do atleta se mostraram preocupados, porque a ferida exalava mau cheiro, uma vez que o tratamento não estava a ser dos melhores. “Como era tempo de calor, os doutores disseram que o tornozelo da minha perna esquerda estava a apodrecer e a solução foi amputar.
Na época, não queria acreditar no que estava acontecer”, contou.
Após a amputação da perna esquerda, o jovem fez saber que o processo de recuperação foi lento, uma vez que não estava habituado a se locomover com as duas canadianas “muletas”.
“Em verdade, tive que aceitar a deficiência porque percebi que o mais importante é a vida. Aliás, os familiares: amigos, vizinhos e colegas estavam sempre ao meu lado”, acrescentou. Candeeiro disse que desde pequeno gostava de jogar futebol, sendo que o mesmo perdeu a perna por causa do desporto-rei: “acho que já nasci com talento para ser futebolista”.
2012, o ano da reviravolta
O jogador, de 32 anos, admitiu que foi convidado para jogar pelo Misto do Namibe, no primeiro ano da criação da equipa, isto é, em 2012.
No ano seguinte, José Jamba “Candeeiro” disputou o primeiro Campeonato Nacional da modalidade, na cidade de Menongue, província do Cuando Cubango, ao serviço do Misto do Namibe, onde a equipa ocupou o quarto lugar.
De seguida, o jogador foi contratado pelo Misto do Huambo, onde militou por vários anos. Ainda assim, Candeeiro chega à Selecção Nacional fruto da boa exibição no Campeonato Nacional, nas terras do Progresso, mas ao serviço do Misto do Namibe.
“No combinado angolano de futebol para amputados conquistei um Mundial e um Africano, bem como outros lugares do pódio”, recordou.
Candeeiro garantiu que o título do Campeonato Africano de 2019, prova realizada no Estádio São Filipe, em Benguela, foi o mais difícil, uma vez que as selecções participantes estiveram em bom plano.
“Na qualidade de selecção anfitriã, tivemos de redobrar os esforços. Estou a trabalhar, arduamente, para voltar a conquistar o título continental e mundial”, perspectivou.
O jogador sublinhou que chegou ao clube turco do Trabzonspor face às boas exibições no Mundial que aquele país euro-asiático acolheu, em 2022, onde foi o melhor marcador da competição com seis golos apontados.
“Os olheiros turcos gostaram da minha performance, logo entraram em contacto com os meus representantes e fecharam acordo.
Vou na primeira temporada e estou a gostar de trabalhar aqui no clube turco”, disse.
Apesar de o Trabzonspor estar no quinto lugar com 36 pontos, Candeeiro revelou que o objectivo do grupo é conquistar a prova.
Jogar até aos 37 anos
O avançado José Jamba “Candeeiro” assegurou que pretende encerrar a carreira aos 37 anos, no Misto do Namibe, equipa que o lançou à ribalta do futebol mundial para amputados.
“Após terminar a carreira, penso em dar sequência à formação académica. Quero apoiar os novos talentos da modalidade”, perspectivou.
O entrevistado aproveitou o momento para tecer elogios ao presidente do Comité Paralímpico Angolano (CPA) e também presidente da Federação Africana de Futebol para Amputados (FAAF), Leonel da Rocha Pinto.
“O presidente Leonel não é só meu pai, mas, sim, de todos os atletas portadores de deficiência por tudo que tem feito pelo desporto.
Aliás, não esquecer também o papel do secretário-geral do Comité, António da Luz”, reconheceu.