O distrito urbano de Talatona, no município com o mesmo nome, está com défice de abastecimento de água potável por parte da Empresa pública de Águas de Luanda (EPAL). Apesar de terem um contrato que lhes permite o acesso ao líquido precioso de forma normal, nos 114 condomínios que comportam este distrito vive-se mais de água abastecida por camiões cisternas, porque a da rede pública não é fornecida
Quando se vem ao Talatona, a ideia que se tem é que problemas como o fornecimento de energia eléctrica e água potável, não fazem parte desta realidade, uma vez que é considerada como a “zona nobre” da cidade de Luanda. “No Talatona também falta água”, como eternizou o kudurista Nagrelha, na sua participação numa das músicas de Yannick Afroman, intitulada “Não é só no Bairro”. Entretanto, este corte no fornecimento não é sentido, porque os gestores dos condomínios suprem a necessidade com o abastecimento de camiões-cisternas.
Numa ronda feita pela equipa do jornal OPAÍS, foi possível constatar que, por exemplo, no condomínio Boulevard, segundo o coordenador, Weverson dos Santos, o fornecimento de água da rede pública é feito apenas às Segundas e Terças-feiras, e, algumas vezes, num outro dia da se- mana. Não é regular, mesmo com a obrigação de pagar religiosa- mente, todos os meses, o consumo de água.
Por conta do abastecimento deficiente de água no condomínio, Weverson dos Santos afirmou que recorre quase sempre às cisternas, para garantir o líquido precioso no recinto, onde paga 45 mil kwanzas por cada cisterna de 30 mil litros, para manter água potável no reservatório. Weverson dos Santos gostaria de ter informações mais precisas da EPAL, pois as que lhe chegam não dão respostas sobre a falta de água. “Gostaria de obter informações mais claras sobre o que está a acontecer, isto porque a conta aumenta, mas a situação continua na mesma”. Há seis meses, este condomínio pagava, por mês, em média 250 mil kwanzas de água à EPAL, e agora paga perto de 400 mil kwanzas, porque a conta é feita por estimativa.
A par da preocupação da água, Weverson dos Santos contou que a electricidade também tem sido um problema, isto porque têm registado muitas variações e, em função disso, têm perda de alguns aparelhos electrodomésticos, sobretudo os ares condicionados. O condomínio Boulevard tem 39 vivendas, dentre as quais nove são escritórios, pelo que o pagamento da luz varia entre um milhão e 100, 200 e pode chegar até um milhão e 500 mil kwanzas/ mês.
Contrato com empresas privadas para evitar cortes no fornecimento
Num outro condomínio, Luanda, na mesma circunscrição, um dos funcionários da empresa gestora, que pediu anonimato, afirmou que o fornecimento de água potável não tem sido dos melhores, e, por isso, têm abas- tecido diariamente cinco a seis cisternas de água a área residencial. “Isto porque quando tem água da EPAL, não fica mais de quatro horas a jorrar.
Por exemplo, se começar a sair às 8 horas, até às 10 ou 11 horas deixa de sair. Por mês, devem pagar à empresa de águas o valor que varia de 600 a 700 mil kwanzas. Quando há falhas no fornecimento recorrem às cisternas de água, onde o preço varia de 25 a 35 mil kwanzas”, disse. A mesma deficiência foi apre- sentada pelo supervisor administrativo operacional do condomínio Kyanda, Alberto Lourenço. Durante a semana, este condomínio tem três ou quatro dias de graça, e os restantes dias o fornecimento é por via de cisternas, que ronda os quatro abastecimentos/semanais. Esta situação que faz com que as despesas extras tenham um valor consideravelmente alto, tendo em conta que foram obriga- dos a fazer contrato com uma empresa privada para abastecer água por cisterna.
Salvação está perto do rio Cambamba
Administradora do distrito urbano do Talatona, Nádia da Costa reconheceu que a falta de água na sua jurisdição é um dos maiores problemas, em todo o distrito, com maior realce para as zonas altas, nomeadamente bairro Talatona I e II, sector A, B, C, F, e bairro Militar, porque a água entra nas residências por gravidade Sabe que alguns condomínios recebem a água da EPAL de forma faseada, assim como nos bairros, duas a três vezes por se- mana, quantidade que considera insuficiente, mas que em breve será solucionado. “Reconhecemos que a situação é grave. Temos 114 condomínios registados, e todos têm falta de abastecimento de água potável de forma regular, pelo que são obrigados a recorrerem às cisternas”, disse.
Já foram realizados vários encontros de auscultação com os moradores e representantes da EPAL, onde dentre as várias questões levantadas esteve o pagamento avultado, e lhes foi dito que há um novo projecto de água a ser desenvolvido à margem do rio Cambamba. A sua montagem irá reforçar o abastecimento no distrito do Talatona “Esperamos ansiosamente por este projecto, tanto a administração como os munícipes. A EPAL informou-nos que em breve começam os trabalhos”, frisou, Nádia da Costa, que gere um distrito urbano com 101 mil habitantes, segundo o último censo. Outras preocupações, que também afligem a administradora distrital, são maioritariamente da competência da administração municipal, como sistema de drenagem, iluminação pública, tensão da rede de iluminação pública, poda e corte de árvores, reabilitação das zonas verdes, e assim por diante.
Défice de água se regista a nível da província de Luanda
A situação do abastecimento de água ao nível do Talatona não difere de outras regiões da província de Luanda, segundo o director do gabinete de comunicação institucional da Em- presa pública de Águas (EpAL), Vladimir Bernardo. Existe, sim, o fornecimento do líquido diariamente, mas não durante as 24 horas do dia. por isso, temos o registo de falhas num ou outro ponto, todos os dias.
A zona do Talatona é abasteci- da pela estação de Luanda sudeste, a mesma funciona 24/24, mas tem uma vasta zona de fluência, nomeada- mente Benfica, bairro popular, entre outras zonas ao nível da cidade, isto porque é a maior estação de tratamento de água com capacidade instalada de cerca de 216 mil metros cúbicos de água por dia. De acordo com Vladimir Bernardo, ao nível do Talatona, está previsto fazer um reforço não apenas na sede do município, mas também no bairro Militar, gamek e Morro Bento.
O programa já está em funcionamento, o projecto começou com a construção de dois reservatórios com a capacidade de 10 mil metros cúbicos cada um. Os mesmos já estão construí- dos no centro de distribuição do Benfica 2, na zona do patriota, e de igual modo foi lançada uma conduta de âmbito nominal de 800 mil litros para atender o défice registado no Talatona. O que está em falta é a montagem dos equipamentos, que vai permitir fazer o recalque de água nos pontos mais altos, os mesmos estarão localizados junto ao rio Cambamba. A obra terá a duração de 10 meses, posteriormente a situação poderá melhorar, a previsão é que no final do trimestre de 2024 se sintam os efeitos do projecto.
Reclamação deve ser formalizada
Quanto aos custos que os gestores dos condomínios pagam, Vladimir Bernardo afirmou que a situação não se regista para os clientes que têm contadores, tendo em conta que os utentes só pagam o que consumiram com base na leitura feita pelo técnico da EPAL. Porém, infelizmente existem aqueles que pagam por estimativa. Para os clientes em que o pagamento é feito por estimativa, quando registam um défice no abastecimento de água é necessário fazer uma reclamação “nestes casos, em que não se regista um consumo regular.
Quando nos chega uma reclamação vamos ao terreno para aferir a periodicidade que a água sai e fazemos um ajuste na factura, já os que têm contadores, só pagam o que o contador registar”, disse Vladimir Bernardo. Segundo Vladimir Bernardo, a EPAL tem conhecimento do défice que se regista no abastecimen- to de água ao nível do Talatona, a sede da empresa também funciona na mesma zona e o reservató- rio se encontra no local, pelo que têm noção que não funciona como devia.
“Trabalha, normalmente, seis a sete horas. Dias há em que funciona menos de seis horas, e, por conta disso, obviamente que a água não chega a todos os pontos onde devia chegar”, sublinha. Entretanto, o funcionamento é em função da disponibilidade da água que está armazenada, isto devido à vasta zona de influência que a estação de tratamento de água atende, ciente de que devia funcionar 24 horas para a satisfação dos clientes.
Falta melhorar a produção de água
De acordo com Vladimir Bernardo, ao nível de Talatona tem noção que a necessidade é grande, em função dos reservatórios enormes dos condomínios, edifícios que se tem vindo a construir, outros já construídos. “É necessário aumentar a produção de água, a que temos actualmente não responde à de- manda, pelo facto não estamos a fazer projectos de ligação domiciliar, considerando que não convém avançar, porque ainda temos problemas a montante que é a construção de novos sistemas de abastecimento de água”, reconheceu.
Actualmente Luanda conta com 15 estações de tratamento de água e 34 centros de distribuição, a maior preocupação está em aumentar a produção em mais de um milhão e meio de água por dia. Por agora, a produção ronda os 660 mil metros cúbicos de água por dia, e os dois projectos em curso terão capacidade de produzir 750 mil metros cúbicos de água. As maiores estações de tratamento são as de Luanda-Sudes- te, com capacidade de produção de 216 mil metros cúbicos de água por dia, a de Candelabro, com 210 mil metros cúbicos e a terceira do Kifangondo, com 140 mil. Depois, seguem-se as pequenas, como a do Luanda-Sul, com 57 mil e a do Kilamba, com 40 mil.
Vladimir Bernardo lembrou que a maior razão da situação que agora se regista é o crescimento populacional ao nível da cidade de Luanda, que, infelizmente, a EPAL não acompanhou, tendo superado as capacidades das in- fra-estruturas. Para ultrapassar a situação estão em curso vários projectos entre os quais o Bita, que vai cobrir maioritariamente o município de Belas, e reforçar o centro de distribuição do Camama e Benfica.
A par disso, o projecto Quilonga Grande vai cobrir o défice ao nível da província, sobretudo os municípios de Icolo e Bengo, Viana e Cacuaco. Há ainda o projecto Pro Água, que consiste em melhorar a capa- cidade operacional da EPAL, entretanto, se baseia na recuperação de equipamentos já existentes, na operacionalidade da rede. Contudo os programas vêm para melhorar o abastecimento de água ao nível de Luanda.
POR: Stela Cambamba