Ou um fanático por patinhas de galinha. Isso mesmo. Chamem-no resto ou não deste animal, ainda assim é um produto que não menosprezo sempre que me é colocado à disposição, principalmente quando assume a forma de petisco. Antes de ter ouvido a proibição da comercialização de outros derivados da galinha, aquilo a que chamam hoje de restos, nunca tinha ouvido falar em caixas de cabeça, carcaças, pontas de asas ou até mesmo a parte mais traseira da galinha.
Deram-me a observar, já ontem, imagens de desabafo de uma senhora que se mostrava repugnada, exibindo cabeças adquiridas num dos habituais armazéns de Luanda. Dizia ela que, apesar dos momentos críticos que o país tenha vivido, não se viu a comercialização e muito menos a aquisição deste produto por parte dos angolanos. Para quem percebe minimamente de economia, o que apraz dizer é que só se importa os produtos em causa porque, na verdade, existe um mercado e pessoas interessadas em consumi-las.
Não parece ser o ideal, mas ainda assim há quem olhe para aqui- lo que se considera restos como um meio para a so- brevivência. Mas, a mim, o que repugna não é tanto o que me foi dado a ver. Sim os fracassos consentidos ao longo dos anos para que não se consiga sequer oferecer aos angolanos proteína animal como estas que repugna muitos angolanos, quando se sabe que muito boa gente outrora obteve financiamentos, incluindo a partir do Banco de Desenvolvimento de Angola, que supostamente deveria servir para este propósito.
Com um vasto território e rico, com enormes potencialidades para se afirmar ao nível agropecuário no continente, espanta que Angola ainda esteja extremamente dependente da importação, não conseguindo suprir algumas necessidades básicas da sua população. Mais do que nos admirarmos, por que razão os nossos concidadãos se estejam a alimentar de supostos restos de galinha, julgo que o país deve olhar de forma séria para as condições que possam garantir que projectos como o Plagrão, Plapecuária e o Planapesca saiam do papel e se tornem, efectivamen- te, uma realidade. Eu, por exemplo, continuarei a adorar as patinhas de galinha.
Há quem tenha cantado que adorava uma ‘massa com pescocinho’ e outros que provavelmente olhem para as outras partes da galinha com um enorme prazer, longe da indignação que isso nos tenha causado. Se ao menos fossem produzidos aqui em Angola, ainda julgo que muitos iriam consumir a partir das suas próprias criações ou das pessoas proximas. O que me deixa perplexo é que estejamos a milhas ainda até mesmo de produzir frangos e outros animais e o lobby da importação esteja a vencer esta luta trazendo aquilo que pode ser dejecto nos países de origem.