Portadores de deficiências apresentam as dificuldades por que passam diariamente na cidade capital, dentre as quais a de mobilidade, que, consequentemente, tem afectado a sua profissionalização. Resultado: muitos encontram-se desempregados e vêm-se obrigados a mendigar.
POR: Romão Brandão
Assinalou-se, ontem, o Dia Internacional da Pessoa com Deficiência. Apesar de no nosso país existir a Lei das Acessibilidades, muitas são as pessoas com deficiência que ainda sentem pouca praticabilidade da mesma e diariamente encaram, para além do desafio da discriminação, o desafio do acesso às instituições e aos meios de transporte públicos.
Um problema atrás do outro e cada vez mais os cidadãos com deficiência, principalmente os que andam em cadeira de roda, têm-se sentido excluídos. António Mateus, da Plataforma pela Inclusão e também membro da Associação dos Estudantes Portadores de Deficiência, vê a Lei das Acessibilidades como um ganho para o país do ponto de vista teórico, por estabelecer como as instituições devem estar adaptadas para receber as pessoas com deficiência.
Aquele jovem não diz o mesmo, quanto ao ponto de vista prático da Lei, pois, até ao momento, para ele, não está a ser implementada e não existe sequer uma comissão encarregada de fiscalizar a aplicabilidade da mesma. É importante que não se reflita apenas no dia 3 de cada Dezembro sobre as pessoas portadoras de deficiência, segundo o nosso entrevistado, uma vez que, todos os dias, encaram dificuldades, também porque pouco ou nada se fala sobre estas pessoas.
Continuam a registar dificuldades de acessibilidades não apenas nas instituições, mas principalmente de mobilidade. “As pessoas com deficiência, sobretudo as que se encontram em cadeira de rodas, têm dificuldade de apanhar um táxi. A maior parte dos táxis são o vulgo ‘quadradinho’ e estes não têm espaço que possa suportar uma cadeira de rodas, o que automaticamente veta a nossa livre circulação”, conta.
“A maior parte dos passageiros com deficiência nunca chegam ao seu destino a tempo”, adicionou António Mateus, só para não dizer que muitos nem sequer chegam ao seu destino. O mesmo problema verifica-se também nos autocarros, e tudo isso afecta a pessoa com deficiência enquanto trabalhadora, estudante ou chefe de família.
Há uma esperança no novo Governo, porque a Plataforma e a Associação supracitadas acreditam que poderão fazer alguma coisa boa, mas é importante que estes saibam que não poderão ter sucesso sem que contactem as pessoas
com deficiência, quando pensarem em criar políticas que os beneficie. Para ele, não têm sido ouvidos.
Não queremos mendigar mais Morador do Kikolo, no Cazenga, bairro Kawelele, João Pedro, de 24 anos, é dos jovens portadores de deficiência que têm tido dificuldades de se locomover à procura de melhores condições de vida. É deficiente, em cadeira de rodas, e, dada a sua condição, tem muitas complicações para andar de táxi, por exemplo.
É técnico médio de gestão empresarial, mas dados os obstáculos não conseguiu ingressar na universidade e arranjar emprego, pelo que aproveitou a oportunidade de ser entrevistado pelo OPAÍS para deixar os seus números de telefone: 923520898 / 933783407, para quem estiver disposto a ajudar. Na sua opinião, o Estado devia sair um pouco da cidade e entrar nos bairros para saber quais as dificuldades que os portadores de deficiência enfrentam diariamente, pois acredita que é nesta zona onde vivem pessoas com deficiência com menos capacidade financeira.
“Quando temos menos capacidade financeira a tendência é mendigar, e isso não dá. Temos de prestar mais atenção aos deficientes”, acrescentou. Como muitos jovens portadores de deficiência, João é daqueles que várias vezes presenciaram casos de discriminação, quando esperava encorajamento. Também tem tido dificuldade de arranjar emprego e só conseguiu terminar o ensino médio porque o instituto fica próximo de sua casa, pois, caso não fosse assim, teria dificuldade de locomoção. Já tentou várias vezes procurar emprego, mas sem sucesso.