Se uns têm o Panguila como um ponto para descontrair e ver as horas do final de semana a passar, em família ou amigos, outros têm a circunscrição como área de habitabilidade a meio a um conjunto de dificuldades e lamentações que assombram a zona conforme constatou a reportagem do OPAIS
Bem-vindo ao Panguila. Confundido, muitas vezes, como sendo um município, devido as características e ao potencial turístico que dispõe, mas não.
É apenas um bairro agregado a comuna da barra do Dande, município do Dande, província do Bengo.
Pela sua dimensão e potencialidades, quer os moradores como os governantes locais entendem que o bairro já devia ter sido elevado à categoria de município.
Por este motivo mostram-se confiantes que, no âmbito da Nova Divisão Política Administrativa o bairro venha a ser transferido a categoria de municipalidade, até porque já dispõe de um projecto aonde reina esse objectivo.
Para os moradores, a elevação a município vai potencializar o bairro e acelerar o seu desenvolvimento que ainda é tido como tímido dado os problemas de varia ordem que a circunscrição enfrenta.
Apesar de ser uma das áreas com maior movimentação a nível da província do Bengo, por ser um ponto de passagem para o corredor norte do país, através da estrada nacional 100, que rasga a zona em direcção às províncias do Uíje e Zaire, passando por Caxito, a localidade, que alberga mais de 200 mil habitantes, debate-se com dilemas que têm tirado o sono de quem escolheu o perímetro para viver ou foi forçado la parar, como são os casos dos antigos moradores da Chicala e da Ilha.
Num périplo efectuado pelo OPAIS, facilmente percebese as dificuldades dos habitantes locais que dizem faltar tudo, até o básico.
Saneamento básico, água, vias de acesso, falta de infraestruturas sociais, escola e hospitais são das grandes queixas dos habitantes que se dizem abandonados por quem governa.
Basta dar um salto a urbanização que acolhe o conjunto de habitações construídas para acolher os antigos moradores da Chicala e da Ilha de Luanda, que viviam em situações de riscos, para facilmente perceber o abandono a que está votado o perímetro, como contam os próprios moradores.
O capim e o lixo consomem parte da urbanização que tem ainda as suas principais vias de acesso partidas e esburacadas por falta de manutenção.
Mercado do Panguila: o gigante adormecido
Como referido acima, residentes locais e controlados pela administração do Dande são contabilizados acima dos 200 mil, repartidos em 12 sectores.
Mas a área recebe mais pessoas diariamente que, pela estrada nacional 100, escalam o bairro para desfrutar do lazer que a localidade oferece, sobretudo aos finais de semana.
É um constante entra e sai de viaturas, entre ligeiras e pesadas, muitas delas transportando produtos agrícolas, como o feijão, a batata, mandioca e a banana, sendo que esta última é a principal referência agrícola da província.
Parte destes produtos, amarrados em trouxas, sacos e noutros formas de armazenagem, é descarregado no mercado do Panguila, a maior praça da província do Bengo.
Construído para albergar um número acima das 5 mil e 376 vendedoras, com 200 armazéns, 144 lojas, 36 câmaras frigoríficas e 48 restaurantes, hoje o mercado dispõe apenas de 1.600 lugares ocupados, sendo que parte das senhoras preferem vender à beira da estrada nacional 100, como fez saber a administradora do mercado, Ana Rosa Ernesto.
É com tristeza que Ana Rosa olha para a atitude das senhoras que arriscam a vida naquele movimentado troço, quando, na verdade, de caras com a referida estrada está o potente mercado que foi construído em 2005 para albergar as antigas vendedoras da extinta praça do Roque Santeiro.
“Incomoda-nos ver o mercado às moscas e as senhoras a colocarem as suas vidas em risco, vendendo em locais impróprios”, lamentou a gestora.
O Panguila do lazer
Se, para os moradores, o Panguila é uma maré de dificuldades, para os visitantes a zona é um verdadeiro esconderijo para o lazer e bemestar em função das características turísticas.
São várias as pessoas que escalam o bairro a lazer em grupos de famílias ou amigos.
Entre os vários pontos de referência está as bermas da estrada nacional 100, aonde estão estendidas as barracas de comes e bebes, que é, ponto convergente, o principal cartão postal do Panguila.
São mais de 50 barracas estendidas próximas da via e que atraem centenas de pessoas, entre nacionais e estrangeiros.
Neste ponto, o principal prato é o cacusso que é servido grelhado acompanhado de feijão de óleo de palma, batata e banana cosida, salada e farinha.
Aida Lopes é proprietária de uma das barracas há mais de 15 anos. É neste local que consegue ajeitar a vida e sustentar a família.
Em declarações a OPAIS, conta que o cacusso é servido consoante o gosto e a possibilidade do cliente.
Mas, para já, disse que a fita básica, contendo quatro peixes médios, custa o equivalente a 7.500 kzs.
“É um negócio rentável. Temos sempre clientes que saem de Luanda ou de outras províncias e que veem aqui mesmo só comer”, contou.
“Cacusso no Panguila é tradição”
Mali Domingos é também outra comerciante de mufete. Já conta com mais de 17 anos na actividade que disse que lhe foi ensinada pela mãe aos 12 anos de idade.
Para ela, mais do que um simples negócio, comer mufete à beira estrada no Panguila é uma questão de valores tradicionais deixado pela geração passada.
“Comer cacusso no Panguila é tradição.
É um valor deixado pelos nossos antepassados e que continuamos a desenvolver porque atrai muita gente.
É Também um bom negócio”, destacou.
De caras com a lagoa
O cacusso, que vai parar ao prato do consumidor, é pescado na Lagoa do Panguila, que fica, igualmente, à berma da estrada nacional 100, e que representa um uma referência do ponto de vista do turismo e do lazer local.
Neste lugar, o peixe é pescado por pequenas embarcações que têm, no seu comando, jovens pescadores artesanais e que fazem da actividade o modo de vida para driblar o desemprego.
Cedo, estes jovens levantam e escalam a lagoa adentro para pescarem o peixe que é “combololado” (comprado) pelas senhoras e que posteriormente levam às brasas a gosto do cliente.
“Se a pessoa acorda tarde corre o risco de não encontrar mais peixe.
E os clientes gostam mesmo cacusso fresco e não aquele que já passou a noite”, disse Henriqueta José.
Descanso garantido
Para quem não se sente confortável em degustar o cacusso ao ar livre, pode fazê-lo no conjunto de restaurantes que cercam o bairro.
No total, a zona conta com 8 restaurantes, duas unidades hoteleiras e 8 hospedarias.
Para o lazer e descanso, o Panguila conta, igualmente, na sua circunscrição, com uma praia que acolhe centenas de visitantes e banhistas não só dá zona, mas também outros provenientes de Cacuaco, Caxito, Viana e Cazenga.
Por dentro das dificuldades
A administração municipal do Dande reconhece as dificuldades que os moradores passam e aponta um conjunto de projectos que estão a ser feitos com vista a melhoria da vida social dos habitantes locais.
A administradora-adjunta para a área política e social, Felisberta da Costa, entende que as preocupações são muitas, mas que, paulatinamente, estão ser resolvidas, sobretudo com a implementação do Plano Integrado de Intervenção nos Municípios (PIIM).
De acordo com a governante, no âmbito deste projecto estão a ser asfaltadas 7 quilómetros de estradas, numa primeira fase, e ainda a construção de um centro médico de referência que vai albergar mais de 30 camas.
Outro projecto no âmbito do PIIM é a construção do canal de drenagem do sector 10. Enquanto aguarda-se pela conclusão destes projetos, Felisberta da Costa disse que a zona tem, na sua estrutura, um centro de saúde, 10 escolas, 3 esquadras de polícia e um campo desportivo.
“Estamos conscientes das dificuldades. Mas temos fé que, no âmbito do PIIM, vamos conhecer dias melhores”, assegurou.
Potencialidade turística atrai prostituição
As características turísticas que o bairro dispõe é aproveitada, de forma errada, para o fomento da prostituição.
A beira da estrada 100, dezenas de jovens aproveitam o cair da noite para se prostituírem, sobretudo aos finais de semana e feriado, tendo como principal clientes camionistas, turistas e outros motoristas que seguem viagem em direcção as províncias do Uíje e Zaire.
Cobrando valores a partir dos 2mil kzs, o grosso de raparigas envolvidas na prostituição são provenientes do interior do bairro e outras do município de Cacuaco e praticam o negócio tendo como justificação a pobreza.
A administradora-adjunta do Dande, Felisberta da Costa, disse que a sua instituição tem conhecimento da situação e que tem trabalhado com os serviços da Acção Social de modos desincentivar a pratica que, na sua maioria, arrasta jovens a partir dos 18 anos de idade.
Conforme referiu, além do risco de serem contaminadas com doenças sexualmente transmissíveis, como o VIH/SIDA, muitas destas raparigas são vítimas de violência e agressões físicas, pelo que há toda a necessidade de as famílias terem maior controlo.
“Já tivemos aqui casos de raparigas e que foram raptadas.
É que elas entregam-se aos prazeres por dinheiro, mas depois acabam sendo abusadas, o que é triste”, lamentou.