A compra de cereais directamente dos produtores nacionais para a Reserva Estratégica Alimentar (REA), nomeadamente o milho, o feijão, o trigo, a soja e o arroz, está a animar os camponeses que se dedicam à agricultura familiar na província da Huíla
Ao todo mais de 8 mil agricultores foram abrangidos com a previsão de se dobrar o número, segundo dados da empresa GESCES- TA do grupo Carrinho, contratada pelo Governo para a gestão do projecto. A GESCESTA está, neste momento, a fazer, na província da Huíla, a compra de produtos do campo com particular realce para o milho e feijão directamente dos produtores locais. Esta medida da compra dos produtos directamente dos camponses que se dedicam à agricultura familiar, veio valorizar os esforços dos homens do campo, bem como aplicar uma certa justiça, segundos alguns agricultores que falaram à reportagem do jornal OPAÍS, tendo em conta os custos de produção.
Para cada quilograma de milho, a GESCESTA está a pagar 130 kwanzas contra os 75 praticados no mercado informal, o que deixava mais penalizado o agricultor, relativamente aos custos produtivos. Celestino Vasco Joaquim, 54 anos, agricultor do município da Matala, revela que, anteriormente, os camponeses preferiam vender a sua produção, sobretudo de milho, em espigas em vez de grãos, já que o preço praticado no mercado informal por cada quilograma do produto é ainda muito irrisório.
“Na praça, cada quilograma de milho está a custar 75 Kz, por isso, nós preferíamos vender a maça- roca porque podemos vender cada espiga a 100 Kz. Era mais rentável comparando com o milho vendido em grãos. Hoje, nós estamos a vender aqui ao Governo por 130 Kz e este preço parece-nos ser o mais justo, tendo em conta os esforços empreendidos na produção do milho”, disse.
Por seu lado, Júlia Tchihópio, de 45 anos de idade, que cultivou 10 hectares de milho na localidade de Laceira, arredores do município da Matala, tendo colhido 10 toneladas do produto, todas compradas pela Carrinho, disse que temia que o seu milho viesse a estragar por falta de mercado, ou comercializado a um preço que não compensa. “Eu trouxe 1000 sacos de 100 quilogramas de milho cada um, tenho uma lavra de 10 hectares, há uma grande diferença entre vender aqui e na praça, porque lá terí- amos vendidos o milho a 75 kwanzas por cada quilograma e aqui estamos a vender a 130 kwanzas, é na verdade uma boa medida valorizar o esforço do camponês”, afirmou.
Apoio a agricultura familiar
Para além da aquisição de cereais directamente dos produtores locais, este projecto contempla, igualmente, a potencialização dos camponeses que se dedicam à agricultura familiar com insumos agrícolas, principalmente sementes melhoradas de milho, fertilizantes e instrumentos de trabalho. Na província da Huíla, são dezenas de camponeses já abrangidos nesta fase do projecto, tendo recebido do grupo Carrinho, insumos agrícolas, estando, actualmente, na fase de colheita, sobretudo de milho.
Jorge Teixeira, de 48 anos de idade, é agricultor na comuna da Huíla, município do Lubango, é dos que foi beneficiado com insumos agrícolas, tendo possibilitado o cultivo de seis hectares de terra arável, sendo quatro de milho e dois de feijão. O interlocutor revelou que a previsão de colheita, para cada produto cultivado, é de 10 toneladas ao passo que o feijão cultivado em dois hectares, será colhida apenas uma tonelada e meia em função das chuvas que cessaram muito cedo.
“Nós recebemos do Grupo Carrinho sementes de milho, feijão, fertilizantes e pesticidas para a nossa produção. A vantagem disso tudo, é que é o mesmo grupo que vem comprar a nossa produção. Por exemplo, o milho que estou a colher, vou vender ao preço de 130 Kz por cada quilograma, ao passo que o feijão que está pronto para ser colhido na próxima semana, venderei a 250 Kz por cada quilograma” explicou.
Mais de 4 mil cadastrados só na Matala
O projecto de aquisição de cereais cadastrou na província da Huíla, um total de 8.053 camponeses que se dedicam à agricultura familiar nos municípios do Lubango e Matala, respectivamente, que estão a merecer o apoio com insumos agrícolas. Venício Perbergui responsável da divisão do Lubango, informou que só neste município-sede foram cadastrados 3.153 produtores que se dedicam ao cultivo do milho, do feijão, trigo e soja. Segundo disse, a perspectiva é de adquirir dos produtores mais de 4 milhões de quilogramas de milho.
“Estes produtores estão divididos em 1.640 produtores de milho e 2200 de feijão, a nossa estimativa é de comprar 4 milhões de quilogramas de milho, destes já foram compra- dos 1 milhão e setecentos quilogramas de milho. Para a próxima campanha, o nosso objectivo é dobrar este número de produtores principalmente para o milho, feijão, trigo e soja, que são as culturas eleitas para a divisão do Lubango”, detalhou. De acordo com Venício Perbergui, o objectivo é reduzir a importação destes produtos, bem como valorizar a produção nacional e da agricultura familiar que envolve milhares de pessoas no nosso país.
Já o responsável da divisão da Ma- tala, Edson Govoni, estão cadastrados um total de 4.300 agricultores que se dedicam à agricultura familiar, destes foram abrangidos já 98 por cento, com uma previsão de compra de 4 milhões e 800 mil quilos de milho. “Aqui na Matala a nossa previsão de compra inicial é de mais de 4 milhões de quilogramas de milho, entre milho branco e milho amarelo.
Em termos de produtos já adquiridos, estamos com uma ordem de 80 por cento, o nosso objectivo é de reduzir a importação destes produtos e fazer com que as divisas circulem no país, porque cada contentor de cereais importado, são somas de divisas que saem do país” detalhou. A Reserva Estratégia Alimentar (REA) é uma iniciativa do Governo angolano que visa regular o mercado e influenciar a baixa de preços de produtos alimentares essenciais que integram a cesta básica.