As lágrimas quase caiam à medida que a jornalista da Rádio Nacional de Angola descrevia a situação em que se encontra a menina Weza. Órfã de pai e mãe, a menina, com pouco mais de um ano, vive com uma patologia que lhe leva a sangrar regularmente pela boca, nariz e outros orifícios do corpo, apesar de já ter estado internada no Hospital Pediátrico de Luanda. Ainda assim, contra todas as expectativas, a menina continua enferma, não se conhecendo até ao momento as verdadeiras causas ou até mesmo a doença de que padece.
O certo é que a irmã gémea, que viveu o mesmo dilema, morreu há pouco tempo sem que também se soubesse atempadamente das causas do infortúnio. Fosse um daqueles endinheirados que nos momentos mais áureos da vida económica e social do país colocaram a mão na massa, a ponto de muitos deles terem enviado quase na totalidade para o exterior, não hesitaria em estender o apoio à família que a esta hora deve estar a clamar para que um benfeitor apareça para no mínimo restaurar a esperança da menina Weza.
Ver uma pessoa a sangrar depois de um pequeno ferimento já é uma situação estarrecedora, tendo em conta que o corpo humano possui um número reduzido deste líquido. Porém, não consigo sequer divisar o que acontece com uma criança, em tenra idade, que quase todos os dias, sempre que a enfermidade aperta, perde alguns centilitros como se de algo normal se tratasse. A Weza, pelo dilema que vive, nem sequer poderia ter recebido alta nos hospitais em que se encontra.
Aliás, é assim que deveria ser com qualquer cidadão que desse entrada nos hospitais públicos – ou até privados- cujas patologias são complexas e que exijam, de facto, estudos aprofundados noutros países com investigação cientíica em relação à referida matéria. Lembro-me que em tempos, no Brasil, o caso de uma menina que padecia de uma determinada doença rara, mas cuja medicação à base de cannabis não poderia entrar por fazer parte dos produtos proibidos. Ainda as- sim, pela defesa do bem jurídico vida, abriu-se uma excepção para que se pudesse salvar a menina, que acre- dito estar em vida ainda hoje.
A raridade da patologia que estará a enfrentar tornar a situação da menina num problema do Estado angola- no e não apenas da família. E só por isso deve merecer das autoridades uma atenção especial, para que se estude não só a doença como também os mecanismos de tratamento com base científica nem que para tal se bus- que apoio internacional ou se envie a menina, acompanhada da avó e outros parentes para hospitais de referência noutros pontos do mundo. É preciso colocar-se o bem vida em primeiro lugar.
É preciso que os angolanos, independentemente da cor, credo ou filiação política estejam, sempre, entre as prioridades de quem governa e dos seus auxiliares directos, não importando muitas das vezes os fundos a serem despendidos para o efeito. Creio que no sábado algum responsável do Ministério da Saúde ou de outras instituições do Executivo angolano tenham escutado o dilema por que passa a Weza, a menina com pouco mais de um ano que não para de sangrar e não se conhece ainda as causas desta maleita.
E não seria nada mau se se mobilizassem recursos urgentemente para que se busque ajuda no exterior, por- que a nível interno parece não haver solução. É para isso que algumas situações na Junta Médica ainda se justificam, contrariamente a muitos beneficiários que passam a esbanjar fundos públicos em maleitas que até podem ser tratadas aqui nos hospitais de referência recém-construídos.